sexta-feira, 29 de abril de 2011

De Frente Para o Sol

Por Guilherme

O nascimento de uma pessoa é um evento repleto de expectativas. Como será a vida dela, o que ela fará, que tipo de pessoa será, são algumas das questões que fazemos, e não saberemos a resposta até que o indivíduo se desenvolva e chegue à idade adulta. O nascimento também nos coloca a caminho da única certeza vital, a de que nossa existência acabará um dia, e tudo aquilo que temos e planejamos terminará conosco. Por isso, a morte é um evento que aterroriza muitas pessoas.
      O psicoterapeuta americano Irvin D. Yalom, o autor do aclamado Quando Nietzsche Chorou, aborda a questão do enfrentamento da morte em seu livro De Frente Para o Sol: como superar o terror da morte (Agir, 2008). O ponto principal da obra é discutir se a morte realmente é um evento a ser temido, e o que se pode fazer para enfrentar o medo que a sensação de não mais existir nos traz. Como é comum em suas obras, o autor utiliza diversos casos clínicos para exemplificar a sua abordagem da questão, e as histórias dos pacientes de Yalom certamente irão soar familiares para todos nós, já que a angústia causada pelo temor da morte é um comportamento universal humano.
      Apresentando ideias de diversos pensadores, como Epicuro, Montaigne e Schopenhauer, Yalom argumenta que, “apesar de a concretude da morte nos destruir, o conceito da morte nos salva”. Isso significa que, apesar de ninguém escapar de seu destino final, estar ciente de que um dia ele chegará pode fazer com que repensemos o modo como vivemos. Dar valor e significado à nossa existência não quer dizer necessariamente fazer obras grandiosas, mas influenciar positivamente a vida das pessoas que estão próximas a nós. Isso é o que Yalom chama de propagação (do inglês rippling; ripples são pequenas ondas, as marolinhas, que se propagam até a costa, depois da chegada de uma onda maior. A propósito, clique aqui e ouça com atenção a Ripples, um clássico da banda Genesis).
Se, como supunha Epicuro, nossa vida termina no instante em que morremos, temos que estar atentos à preciosidade que é viver, agindo bem com os outros e minimizando nossos arrependimentos. Aliás, não é necessário esperar por outra vida para fazer tudo o que podemos fazer nessa, e isso, por si só, serve como um forte motivo para que tenhamos nessa vida um caminho de aprimoramento individual constante.
Não há uma receita pronta sobre como se deve viver plenamente e sem grandes arrependimentos, embora é interessante considerar o seguinte “resumo”, feito pelo poeta americano John G. Whittier: “de todas as palavras tristes da língua ou da pena, as mais tristes são: ‘Podia ter sido!’”

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Novos livros na Biblioteca Pública de Antônio Prado

Por Guilherme

Nos últimos meses, a Biblioteca Pública de Antônio Prado tem feito aquisições e recebidos doações de grandes obras. Na Biblioteca estão disponíveis livros sobre os mais variados temas: há romances, histórias policiais, biografias, livros de filosofia, psicologia, de reportagem e de divulgação científica, entre outros. Abaixo, há uma lista de algumas das últimas obras recebidas. Vale a pena dar uma passada na Biblioteca e sair de lá com um bom livro.

Nunca Antes na História Desse País, de Marcelo Tas (Panda Books)
O Castelo dos Pirineus, de Jostein Gaarder (Companhia das Letras)
Não Conte a Ninguém, de Harlan Coben (Sextante)
Desaparecido Para Sempre, de Harlan Coben (Sextante)
A Metamorfose, de Franz Kafka (Companhia das Letras)
O Andar do Bêbado, de Leonard Mlodinow (Zahar)
Rota 66 – a história da polícia que mata, de Caco Barcellos (Record)
Queda de Gigantes, de Ken Follett (Sextante)
A Sombra do Vento, de Carlos R. Zafón (Suma)
O Discurso do Rei, de Mark Logue e Peter Conradi (José Olympio)
Libertação Animal, de Peter Singer (Martins Fontes)
O Menino do Pijama Listrado, de John Boyne (Companhia das Letras)
O Filósofo e o Lobo, de Mark Rowlands (Objetiva)
Caminhos da Lei, de John Grisham (Rocco)
Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva (Fontanar)
Bussunda: a vida do Casseta, de Guilherme Fiuza (Objetiva)
Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch (Leya)
Cartas do Everest, de Airton Ortiz (Record)
Aventura em Bagdá, de Agatha Christie (Círculo do Livro)
O Misterioso Caso de Styles, de Agatha Christie (Círculo do Livro)
Esquisitologia, de Richard Wiseman (BestSeller)
A Ignorância, de Milan Kundera (Companhia das Letras)
Tia Júlia e o Escrivinhador, de Mario Vargas Llosa (Alfaguara)
Na Natureza Selvagem, de John Krakauer (Companhia das Letras)
Mais Platão, Menos Prozac, de Lou Marinoff (Record)
Laços de Família, de Clarice Lispector (Francisco Alves)
A Herdeira, de Sidney Sheldon (Círculo do Livro)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Livros digitais gratuitos

Por Guilherme,

A Editora Cultura Acadêmica, vinculada à Universidade Estadual Paulista (UNESP) disponibiliza em seu site livros digitais gratuitos sobre diversos assuntos acadêmicos, como educação, psicologia, ciências, medicina e artes. Para conseguir os livros é preciso fazer um cadastro no site, e o download da obra pode ser feito a seguir.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Café Literário com Marcos Kirst

Por Guilherme

No dia 28 de abril, às 19h30, ocorrerá uma nova edição do Café Literário de Antônio Prado, no Centro de Cultura Padre Schio. O evento, promovido pela Secretaria Municipal da Educação e Cultura, trará o jornalista e escritor Marcos Kirst para um bate papo sobre a formação de leitores e escritores. O evento é gratuito e aberto a todos os interessados.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ainda sobre O Filósofo e o Lobo

Por Guilherme

No Brasil, e penso que em muitos outros lugares do mundo, o mal sempre produziu notícia. Por aqui, nos habituamos tanto com a violência que só brutalidades extremas, como o caso do massacre na escola do Rio de Janeiro, podem provocar comoção. Milhares de cidadãos são vítimas de algum tipo de violência diariamente no Brasil e, por mais que sejamos cegamente crentes na bondade humana, os responsáveis pelos atos cruéis são as pessoas, e a discussão sobre como diminuir a violência deveria começar por esse princípio.
Já publicamos um post sobre O Filósofo e o Lobo, de Mark Rowlands. Volto a citar o livro para transcrever uma passagem sobre a bondade e a violência. O filósofo Rowlands é um crítico da condição humana, e suas palavras merecem nossa reflexão.

        Se nós, humanos, atribuímos um peso tão desproporcional aos motivos e se estes são apenas máscaras que ocultam uma verdade horrenda, então, para entender a bondade humana, precisamos apenas despir as camadas de motivos. Quando as outras pessoas estão desvalidas, não há nenhum motivo egoísta para tratá-las com decência ou respeito. Elas não podem ajudá-lo nem estorvá-lo. Você não tem medo delas, nem precisa de sua ajuda. Em tal situação, o único motivo para tratá-las com decência e respeito é de ordem moral: você as trata assim porque é a coisa certa a fazer. E você o faz porque esse é o tipo de pessoa que você é.
        Eu sempre julgo as pessoas pelo modo como tratam os mais fracos. Julgo o rico comensal pelo modo como trata os garçons e garçonetes que o servem. Julgo o gerente do escritório reparando como trata seus funcionários. Você aprende muito a respeito de uma pessoa observando coisas assim. Mas mesmo esses testes têm falhas. O garçom ofendido pode cuspir, ou coisa pior, na sopa do jantar. Os funcionários do escritório podem fazer um trabalho ruim, complicando o gerente junto a seus superiores. Você descobre coisas importantes sobre as pessoas quando vê como tratam os mais fracos. Mas descobre quase tudo sobre as pessoas quando vê como tratam aqueles que não têm absolutamente nenhum poder; que estão indefesos.
(...)
        O que é característico dos seres humanos, no entanto, é que estes aprimoraram a dureza da vida, tornando-a mais intensa. Levaram a crueldade da vida a um outro patamar. Se quiséssemos definir os seres humanos em apenas uma frase, esta serviria: seres humanos são animais que engendram o próprio mal.
        Não é nenhum acidente que sejamos esses animais. Nos primatas, como vimos, a inteligência social está em primeiro lugar. Somos tão aptos a criar fraquezas em outros animais porque, primeiro, fazemos isso uns com os outros. As conspirações e mentiras de um primata são suas tentativas de transformar primatas mais fortes do que ele em primatas mais fracos do que ele. O primata em nós está sempre atento à possibilidade de engendrar fraquezas em outros primatas. Está sempre em busca de uma oportunidade para praticar o mal.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nunca Antes na História Deste País

Por Guilherme

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, apesar de seus bons índices de popularidade ao deixar o governo, não conseguiu ser uma figura unânime no país, como é comum a qualquer outro político. O que todos concordam em relação a Lula é que nunca antes na história deste país tivemos um presidente tão folclórico. Suas frases de impacto, sua falta de jeito em algumas situações, e suas gafes em encontros com lideranças internacionais renderam grandes momentos para programas humorísticos e foram destaque em muitos jornais. O apresentador Marcelo Tas, do programa CQC da Rede Bandeirantes, reuniu algumas das frases memoráveis de nosso ex-presidente no livro Nunca Antes na História Deste País: as frases mais engraçadas e polêmicas do presidente Lula (Panda Books, 2009). O livro é dividido em seções, que mostram as diversas facetas de Lula: advogado, economista, filósofo, e até comediante stand-up, de acordo com o teor de suas frases. Filho de uma mulher “que nasceu analfabeta” e que morreu “sem saber fazer um ‘O’ com o copo”, o ex-presidente teve na vida a sua grande escola. O doutorado na escola da vida permitiu que Lula fosse o autor de grandes pérolas. Perguntado sobre o motivo de não ler jornais ou revistas aos finais de semana, o político foi direto: “Porque eu tenho problema de azia”.
      Nunca Antes na História Deste País é garantia de uma leitura divertida e interessante. Mesmo aqueles que, como o ex-presidente, têm uma preguiça “desgramada” de ler livros, irão dar boas risadas com a obra de Marcelo Tas.

domingo, 10 de abril de 2011

O melhor amigo de Chespirito

Por Guilherme

Roberto Gómez Bolaños, conhecido como Chespirito, é mais conhecido no Brasil como o criador dos seriados de humor Chapolin e Chaves. Sua criatividade, no entanto, foi além do humor. Chespirito é também escritor, poeta, criador de peças de teatro e diretor de peças teatrais e de programas na TV. Em seu poema Mi Mejor Amigo, Bolaños expressa aquilo que todos nós deveríamos saber a respeito de quem consideramos nossos melhores amigos.



Mi Mejor Amigo
De Roberto Gómez Bolaños

No me pasa inadvertida
esta verdad singular:
yo he tenido que cargar
conmigo toda la vida.
Verdad incontrovertida
que con prendas de egoísmo
se disfraza de heroísmo;
pues hay que tener paciencia
para librar la existencia
cargando con uno mismo.
En ningún momento dejo
de ser yo mi compañía.
Y miro día tras día
al mismo hombre en el espejo.
Tal vez un poco más viejo
y un poco más arrugado.
Más inútil, más cansado,
más sordo, más soñoliento,
más distraído, más lento;
en resumen: más usado.
Pero hay algo singular
dentro de esta situación:
la costumbre da ocasión
para contemporizar.
Por ello he de confesar
que el tanto vivir conmigo
justifica lo que hoy digo
a modo de confidencia:
que a fuerza de convivencia
yo soy mi mejor amigo

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu Quero um Novo Imposto, por Marcos Kirst

Por Guilherme

O jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst foi o patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul em 2010. Suas crônicas, publicadas em diversos jornais e em seu blog Futilidades Literais, abordam situações cotidianas com uma perspicácia e inteligência raras. Tais qualidades podem ser observadas no texto abaixo, publicado originalmente no jornal Informante, de Farroupilha/RS, no dia 18 de março desse ano. Concordo  com a crítica de Kirst sobre a burrice humana, mas tenho dúvidas sobre seu efeito na sociedade brasileira. Se as pessoas pagassem tributos sobre atos de burrice em nosso país, da maneira sugerida por ele, teríamos o Estado número 1 no ranking econômico mundial, mas uma sociedade composta por pessoas com renda líquida semelhante a dos cidadãos de Ruanda ou da Etiópia.


Eu quero um novo imposto
Por Marcos Kirst

      Tenho uma ideia para um projeto de lei que, se aprovado, ajudará a erradicar boa parte dos males que assolam a nação. Antes de mais nada, preciso de um deputado que encampe minha proposta e formate o projeto. Vamos ver se alguém se habilita. Minha proposta visa a erradicar do solo pátrio a burrice, essa pervertedora de cérebros e atravancadora do progresso. De que forma? Instituindo um Imposto Sobre a Burrice, o ISB. Sua aplicação será simples e imediata, a cada instante em que algum cidadão praticar um ato de burrice.
      As ideias geniais que perduram e transformam a vida humana têm em comum a característica de serem assim, simples e fáceis de entender e de aplicar, como o palito de fósforo, a corneta militar, o guarda-chuva, a batata frita e o colchão de molas. Meu Impostinho Sobre a Burrice também habita essa seara das ideias simples e geniais e, garanto, se aprovada, transformará rapidamente nossa sociedade, pois que as asneiras cotidianas passarão a doer nos bolsos dos estultos, e aí sim, aiaiai, é que eu quero ver.
      Ocorreu-me a iluminação súbita quando li na imprensa a notícia de que o prefeito de uma de nossas cidades praianas gaúchas decidiu suspender as aulas da rede pública de ensino na semana passada, quando soube das apavorantes notícias dos estragos causados pelo terremoto no Japão e os tsunamis (as ondas gigantes) que sobrevieram nas costas de vários países. Uma rádio local divulgou a informação de que reflexos do tsunami poderiam chegar ao litoral de países da América do Sul (o que é correto), e o prefeito resolveu agir com extremada prudência, mandando as criancinhas ficarem em casa. O detalhe é que o Japão localiza-se no Oceano Pacífico, e a região sul-americana na mira do alerta era a costa banhada pelas águas deste mar, como Chile, Peru e outros, e não a nossa Punta Del Leste Guasca, banhada, desde que eu me lembre, pelas águas do Atlântico, que nada teve a ver com esse pastel de siri.
      Alguém aí faltou à aula de geografia: o prefeito ou o radialista. Talvez ambos tenham sido coleguinhas e gazearam aula no dia em que a profe desenrolava frente ao quadro-negro um mapa-múndi. Só espero que as aulas perdidas na semana passada na tal praia não tenham sido novamente sobre a localização dos continentes. Mas afinal, prudência em excesso não faz mal, haverá quem me critique pela minha intolerância. Mas é que somos recorrentes nesse tipo de pantomima, e deixamos de empreender esforços na solução de problemas reais e palpáveis. Eu me lembro que o Brasil, quando da primeira Guerra do Golfo, lá no início dos anos 90, sob a presidência de Fernando Collor de Mello, foi o único país do mundo a adotar racionamento de combustível durante o conflito (nem os diretamente envolvidos no confronto o fizeram). Que patuscada.
      Alguém aí se habilita a apresentar meu projeto?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

... and the moon rose over an open field

Por Guilherme

Sou fã do rock clássico, daquele que tem uma mensagem interessante, uma letra elaborada, e não agride os ouvidos de ninguém. Comecei a admirar esse tipo de música quando ganhei A Collection of Great Dance Songs, meu primeiro CD do Pink Floyd, e passei a me interessar por artistas daquela época. Creio que sou uma pessoa de sorte nesse aspecto, pois não é todo mundo que tem o privilégio de ouvir Pink Floyd, Dire Straits e Creedence quando está no início da adolescência. E foi nessa época que conheci também Simon & Garfunkel, uma dupla de cantores americanos que não se enquadra propriamente como de roqueiros, mas que produziu algumas das melhores músicas das décadas de 60 e 70. De fato, o “cérebro” da dupla era Paul Simon, responsável pelas letras e melodia das canções, magistralmente entoadas por Art Garfunkel.
      Entre todos os músicos que já ouvi, não há nenhum que escreva melhor que Paul Simon. Dificilmente encontramos letras ruins da autoria dele. Boa parte de sua obra gira em torno de temas como a solidão, a melancolia e a tristeza. Suas melodias, muito bem trabalhadas, fazem com que mesmo as músicas mais tristes soem agradáveis. A harmonia vocal dos dois também impressiona, a ponto de fãs dizerem que comprariam um álbum da dupla mesmo se Simon e Garfunkel recitassem a lista telefônica juntos, com o acompanhamento de um violão.
      Se você não conhece os principais sucessos dos dois, e mesmo que conheça, vale a pena passar alguns minutos ouvindo suas obras-primas.

The Sound of Silence


America


The 59th Street Bridge Song (Feelin' Groovy)