segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ainda sobre O Filósofo e o Lobo

Por Guilherme

No Brasil, e penso que em muitos outros lugares do mundo, o mal sempre produziu notícia. Por aqui, nos habituamos tanto com a violência que só brutalidades extremas, como o caso do massacre na escola do Rio de Janeiro, podem provocar comoção. Milhares de cidadãos são vítimas de algum tipo de violência diariamente no Brasil e, por mais que sejamos cegamente crentes na bondade humana, os responsáveis pelos atos cruéis são as pessoas, e a discussão sobre como diminuir a violência deveria começar por esse princípio.
Já publicamos um post sobre O Filósofo e o Lobo, de Mark Rowlands. Volto a citar o livro para transcrever uma passagem sobre a bondade e a violência. O filósofo Rowlands é um crítico da condição humana, e suas palavras merecem nossa reflexão.

        Se nós, humanos, atribuímos um peso tão desproporcional aos motivos e se estes são apenas máscaras que ocultam uma verdade horrenda, então, para entender a bondade humana, precisamos apenas despir as camadas de motivos. Quando as outras pessoas estão desvalidas, não há nenhum motivo egoísta para tratá-las com decência ou respeito. Elas não podem ajudá-lo nem estorvá-lo. Você não tem medo delas, nem precisa de sua ajuda. Em tal situação, o único motivo para tratá-las com decência e respeito é de ordem moral: você as trata assim porque é a coisa certa a fazer. E você o faz porque esse é o tipo de pessoa que você é.
        Eu sempre julgo as pessoas pelo modo como tratam os mais fracos. Julgo o rico comensal pelo modo como trata os garçons e garçonetes que o servem. Julgo o gerente do escritório reparando como trata seus funcionários. Você aprende muito a respeito de uma pessoa observando coisas assim. Mas mesmo esses testes têm falhas. O garçom ofendido pode cuspir, ou coisa pior, na sopa do jantar. Os funcionários do escritório podem fazer um trabalho ruim, complicando o gerente junto a seus superiores. Você descobre coisas importantes sobre as pessoas quando vê como tratam os mais fracos. Mas descobre quase tudo sobre as pessoas quando vê como tratam aqueles que não têm absolutamente nenhum poder; que estão indefesos.
(...)
        O que é característico dos seres humanos, no entanto, é que estes aprimoraram a dureza da vida, tornando-a mais intensa. Levaram a crueldade da vida a um outro patamar. Se quiséssemos definir os seres humanos em apenas uma frase, esta serviria: seres humanos são animais que engendram o próprio mal.
        Não é nenhum acidente que sejamos esses animais. Nos primatas, como vimos, a inteligência social está em primeiro lugar. Somos tão aptos a criar fraquezas em outros animais porque, primeiro, fazemos isso uns com os outros. As conspirações e mentiras de um primata são suas tentativas de transformar primatas mais fortes do que ele em primatas mais fracos do que ele. O primata em nós está sempre atento à possibilidade de engendrar fraquezas em outros primatas. Está sempre em busca de uma oportunidade para praticar o mal.

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