quarta-feira, 29 de junho de 2011

O homem do piano

Por Guilherme

Entre os grandes músicos americanos das últimas décadas, há um espaço de destaque para Billy Joel. O pianista é autor de alguns dos clássicos da música pop dos anos 70 e 80. Ainda hoje, Joel lota estádios em seus shows ao redor do mundo. Nos vídeos abaixo, acompanhe seus grandes sucessos.

Piano man


My life


Just the way you are


domingo, 26 de junho de 2011

Ismael: um romance da condição humana

Por Guilherme

“Professor procura aluno. Deve ter o desejo sincero de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente”. Isso era o que dizia um anúncio publicado na seção de classificados do jornal. O narrador, ao ler a mensagem, ficou perplexo com a ingenuidade da proposta, uma coisa de malucos, para dizer o mínimo. No entanto, ao lembrar de seus anos de rebeldia juvenil, o homem resolve procurar o tal professor que deseja salvar o mundo. Chegando o local mencionado no jornal, o narrador vê que o professor, na verdade, é um gorila chamado Ismael. Ismael consegue comunicar-se através de telepatia, e utiliza esse artifício para trocar mensagens com seu novo aluno.
      Ismael conta a história da dominação humana sobre a natureza, e a sua própria história é um retrato disso, pois o gorila foi retirado de sua vida livre na floresta africana para servir a exposições itinerantes e a zoológicos. Contando a história da evolução humana, e da relação de nossa espécie com as demais, Ismael explica a seu aluno o surgimento da chamada civilização, a partir do cultivo de vegetais e o início da agricultura moderna. Com a agricultura, a nossa população também aumentou, afinal a maior quantidade de alimento possibilitou que um número maior de pessoas vivesse e se fixasse a determinado local. E tudo isso, explica Ismael, foi a solução para alguns dos problemas da humanidade, e o início de outros. A partir da agricultura, os seres humanos se dividiram em dois grupos, de acordo com o gorila: os “pegadores” e os “largadores”. Os primeiros pertencem à civilização, e estão preocupados em produzir, lucrar e se proliferar. Já os largadores podem ser chamados de “selvagens”, são pessoas que vivem à margem da civilização e ainda mantêm um estilo de vida semelhante ao de nossos antepassados. Como o planeta é dominado por “pegadores”, caminhamos para o colapso ambiental e social.
      A história do professor e seu aluno em busca da salvação do planeta é contada pelo escritor americano Daniel Quinn em Ismael: um romance da condição humana (Peirópolis, 1998). O romance é repleto de ideias a respeito da evolução das civilizações humanas (nem todas corretas), da relação da humanidade com o mundo ao seu redor e do conceito de que somos o ápice da evolução e a espécie dominante no mundo. Além disso, Quinn cita outros autores, como o antropólogo Peter Farb, e sua teoria a respeito da relação entre a produção de alimentos e a diminuição da miséria. Farb afirmava que quanto mais comida for distribuída para uma população em situação de miséria, maior é a possibilidade de que essa população aumente, e gere ainda mais miséria. Ou seja, a tentativa de diminuir a pobreza apenas pela distribuição de alimento talvez tenha o efeito contrário ao desejado. É uma ideia controversa e polêmica, mas que foge do simplismo que temos visto em nossas terras.
      Para quem gosta de ler sobre a evolução das sociedades humanas e de nossa civilização, Ismael não é a obra mais recomendada, pois é falha em alguns detalhes históricos. No entanto, para quem procura por um romance repleto de ideias interessantes, e tem interesse na discussão do futuro da humanidade, o livro é altamente recomendável.

Se você quiser conhecer mais a respeito de Daniel Quinn, acesse o site do autor clicando aqui.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ei, Professor

Por Guilherme

O americano Frank McCourt foi um homem de várias profissões. Trabalhou por algum tempo em hotéis, como estivador no porto de Nova York e como treinador de cães, até se estabelecer como professor, ofício que exerceu por décadas em instituições de ensino médio e superior. Quando tinha 66 anos, McCourt experimentou outro tipo de condição, a de escritor, publicando seu primeiro livro, Angela’s Ashes, uma obra de memórias que trata de sua infância na Irlanda. O livro foi muito bem sucedido, e McCourt recebeu o Prêmio Pulitzer de 1997 por causa dele.
As histórias da época em que o escritor esteve na sala de aula são contadas em Ei, Professor (Intrínseca, 2006). Os relatos do cotidiano escolar de Nova York têm muito em comum com aquilo que é vivenciado por boa parte dos professores em outros locais: salas de aula com muitos alunos (creio que não tantos como aqui), alguns alunos curiosos e outros pouco interessados, a procura de artifícios para atrair a atenção dos estudantes e tornar as aulas menos maçantes, e a cansativa rotina de preparar aulas e corrigir trabalhos. Além disso, McCourt nos lembra que professores também são seres humanos e, como qualquer outra pessoa, têm uma vida a conduzir fora da escola, embora muitas vezes não seja possível sair do ambiente escolar e lá deixar todos os problemas e angústias que ocasionalmente aparecem.
        Ei, Professor é também um tributo à profissão docente, no qual são discutidas muitas das alegrias, tristezas, realizações e preocupações de quem entra em uma sala de aula para compartilhar o conhecimento com grupos de jovens. A importância, a complexidade e a responsabilidade do ofício, diz McCourt, fazem com que a docência seja uma das tarefas mais complicadas que existem. Se já era assim na época do autor, imagine agora.

terça-feira, 21 de junho de 2011

40 anos de Chaves

Por Guilherme

Em 20 de junho de 1971, o primeiro programa Chaves foi ao ar no México. Criado por Roberto Gomez Bolaños, o Chespirito, o programa reunia um grande elenco de humoristas, entre eles o lendário Ramon Valdez, como Sr. Madruga. O programa fez tanto sucesso (assim como Chapolin) que é transmitido ainda hoje em vários países, e tem milhares de fãs no Brasil. Mesmo com episódios repetidos à exaustão, o programa ainda é lider de audiência em alguns horários (veja aqui). Duvido que exista algum brasileiro que não conheça uma frase de efeito do Chaves ou de alguém de sua turma.



segunda-feira, 20 de junho de 2011

Lembra de Mim?

Por Natália

Quando Lexi Smart desperta na cama de um hospital de Londres, sua lembrança mais recente é a de, ao sair de uma festa com as amigas e tentar chamar um táxi, estar caindo de cara no chão. Porém, a Lexi que acorda é muito diferente daquela que tropeçou no final da festa: agora ela está bronzeada, com os dentes endireitados e imaculadamente brancos, com o corpo tonificado... e uma aliança na mão esquerda! A moça descobre, então, que recentemente sofreu um acidente de carro e que os últimos três anos de sua vida foram totalmente apagados de sua memória. Agora, Lexi precisa se acostumar com a ideia de estar casada com um homem rico, bonito e bem-sucedido, de ser a chefe do departamento onde há três anos ela era uma mera estagiária, de estar brigada com suas melhores amigas, de ser íntima de pessoas com as quais ela sente não ter a menor afinidade – e de ser amante de um amigo de seu marido.
Lembra de mim? (Record, 2009), de Sophie Kinsella, conta com muito bom-humor os esforços de Lexi Smart para recuperar suas lembranças perdidas. Mais do que simplesmente saber dos fatos, Lexi quer entender como chegou ao cargo onde atualmente está – afinal, ela duvida de sua competência – e por que, na opinião das pessoas que conviviam com ela há três anos, sua personalidade parece ter mudado tão radicalmente. Lembra de mim? é uma obra divertida e leve. É impossível não simpatizar com a protagonista quando ela precisa fingir que sua falta de memória não é tão grave assim e quando ela, com medo de perder o emprego, se esforça para parecer que é uma funcionária competente. É um livro agradável, à altura de outros da autora.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ciência com literatura

Por Guilherme

Já publicamos alguns posts sobre livros que tratam de temas científicos. No entanto, ainda não falamos de Stephen Jay Gould, zoólogo e professor americano que faleceu em 2002. Gould foi um dos mais brilhantes escritores entre os cientistas, cujos escritos conseguiam transmitir ideias complexas aos leitores de uma maneira direta, eficaz e divertida. Seus livros são ricos em informação sobre uma grande variedade de temas, desde assuntos propriamente científicos, como os caracóis (focos de estudo acadêmico do autor) e a evolução dos seres vivos, até temas literários e poesia.
        Gould tinha uma grande facilidade em relacionar assuntos aparentemente tão distantes como passagens bíblicas e a vida das bactérias, assim como podia mostrar que não existe muita semelhança onde ela parece ocorrer, como no caso do filme Frankenstein, com Boris Karloff, quando comparado ao livro original de Mary Shelley. Seu grande conhecimento literário ficava evidente em suas citações de poetas e autores clássicos, sempre dentro do contexto de seu ensaio. A única crítica feita à obra de Gould diz respeito às suas ideias sobre darwinismo e evolução, muitas vezes equivocadas.
Alguns dos livros de Gould foram publicados no Brasil, e eles compilam seus principais ensaios publicados na revista Natural History. Os mais interessantes, na minha opinião, são: O Sorriso do Flamingo (Martins Fontes, 1990), O Polegar do Panda (Martins Fontes, 2004), Dinossauro no Palheiro (Companhia das Letras, 1997) e A Montanha de Moluscos de Leonardo da Vinci (Companhia das Letras, 2003). Apesar de a maioria dos textos tratar de ideias e conceitos científicos, a obra do zoólogo americano proporciona ao leitor leigo em ciência a sensação de que ele está em contato com uma das mentes mais brilhantes das últimas décadas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A turma da bagunça

Por Guilherme

Para quem se interessa por saber como anda a educação brasileira, é interessante conferir o editorial do Grupo RBS do dia 26 de maio desse ano (veja aqui). Mais interessante do que o texto são os comentários dos leitores sobre o tema. Boa parte desses comentários fala sobre a importância das famílias na educação das crianças brasileiras e, acredito, esse é o ponto mais importante para se fazer uma mudança positiva na educação. Infelizmente, não poderemos almejar grandes avanços educacionais no Brasil enquanto tivermos péssimos pais e mães, que imaginam que é obrigação da escola ensinar aos seus filhos os princípios básicos de respeito, civilidade e convivência em sociedade. Como escrevi em um post anterior, a calamidade nas escolas nada mais é do que um reflexo da ignorância das pessoas na sociedade, e também do abandono das crianças e jovens por seus pais. Pelo jeito, continuaremos a bater nessa mesma tecla por décadas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O mais selvagem dos animais

Por Guilherme

Recentemente, o governo australiano oficializou a proibição da venda de gado para a Indonésia, devido ao tratamento extremamente cruel dispensado aos animais nesse país. Um programa de TV australiano obteve gravações de vídeo que mostram as atrocidades cometidas em abatedouros no país asiático. Depois da exibição das imagens, uma onda de protestos pressionou o governo australiano a tomar uma atitude em relação ao problema, e a solução imediata foi suspender a exportação de animais para a Indonésia.
        A preocupação com o sofrimento animal ganhou maior força com as ideias de um australiano, o filósofo Peter Singer, na década de 1970. Já discutimos aqui no blog o livro Libertação Animal, considerado um marco na defesa da vida dos animais não-humanos. A argumentação de Singer é bastante semelhante à usada por seus conterrâneos para justificar a quebra de comércio bovino com a Indonésia. Singer considera que qualquer ser que possa sentir dor deva ser respeitado, independentemente da espécie a qual pertence. Assim, é condenável infligir dor aos animais de corte porque eles são sensíveis a ela e, como acontece conosco também, é de interesse deles viver sem sofrer. Apesar disso, o filósofo argumenta que a morte de um animal não-humano que não tem autoconsciência não é algo tão terrível quanto a morte de uma pessoa. O sofrimento, na ideia do filósofo, é o maior problema. E, como os animais de corte geralmente levam uma vida cheia de tormentos, desde o nascimento até o abate, a dieta vegetariana deveria ser adotada por quem se preocupa com o bem-estar desses animais.
        Uma abordagem diferente sobre a questão do sofrimento animal é a do filósofo galês Mark Rowlands, outro autor já citado algumas vezes aqui. Rowlands modifica a ideia de John Rawls sobre a posição original para argumentar que devemos ter mais consideração pela vida de outros seres. Imagine que você passasse toda a sua vida em um cubículo no qual seu corpo mal cabe e ainda você divide o lugar com outros indivíduos. Durante sua vida você acaba se machucando muito pois não consegue sequer ficar de pé por vários minutos seguidos e briga constantemente com os outros confinados devido ao estresse da convivência. Sua vida fica assim, até o final. Certamente, esse sofrimento perpétuo não é desejado por você, nem por ninguém. E por que, então, é aceitável para aves, como galinhas, ou porcos? Alguns dizem que se pode manter os animais nessas condições porque eles não são humanos, e não temos nenhuma obrigação moral com eles. Mas, e se você estivesse no lugar deles?
        Espero que o aumento da consciência em relação à vida dos animais não-humanos seja um caminho sem volta. Estamos no século XXI, e não podemos, de modo algum, tolerar barbáries contra qualquer espécie animal. Em breve, torço para que situações como a mostrada na reportagem da TV australiana (clique aqui para ver, se tiver coragem) sirvam somente como exemplo, para as futuras gerações, de quão selvagens nós já fomos.

domingo, 5 de junho de 2011

Quino sem Mafalda

Por Guilherme

Já publicamos no blog um post sobre uma das mais famosas personagens dos quadrinhos em todo o mundo, a Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino (veja aqui). Quando se pensa em Quino, automaticamente a figura da pequena Mafalda vem à mente. No entanto, o trabalho brilhante do cartunista continuou mesmo depois que ele decidiu parar de desenhar sua personagem mais famosa. E o resultado daquilo que Quino produziu depois de Mafalda pode ser apreciado em uma coletânea de livros, publicados no Brasil pela WMF Martins Fontes. São eles: Quinoterapia; Quanta Bondade!; Sim, Amor; Que Gente Má!; Não Fui Eu!; Potentes, Prepotentes e Impotentes; Bem, Obrigado, e Você!; Cada um no seu Lugar; Deixem-me Inventar; Humanos Nascemos; e Que Presente Inapresentável.
O ponto comum de todas essas obras é a grande visão que o cartunista tem sobre situações comuns. Cenas familiares, o dia-a-dia no trabalho, as relações amorosas, o impacto do dinheiro nas pessoas, nada escapa do senso aguçado de Quino. Algumas de suas tiras não apresentam diálogos, mas somente os desenhos, na maioria das vezes, são suficientes para transmitir com eficiência a mensagem do cartunista. Vale a pena passar um bom tempo na companhia dos livros de Quino, analisando cada tira e pensando em cada situação retratada. E a capa de Quanta Bondade! já nos fornece material suficiente para começar esse exercício de análise.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Estranho Caso do Cachorro Morto

Por Guilherme

Christopher é um adolescente especial. Aos 15 anos de idade, ele sabe muito sobre ciências e matemática, tem uma capacidade incrível de fazer cálculos, faz mapas mentais perfeitos sobre os lugares pelos quais já passou, lê muito e também gosta de assistir a documentários na TV. Apesar da grande capacidade cognitiva, Christopher tem dificuldade em entender certas coisas nas pessoas a sua volta, e elas também não conseguem entendê-lo facilmente. O jovem é autista.
      Christopher divide a casa onde mora com seu pai e, em uma de suas andanças pela vizinhança, o jovem vê o corpo de Wellington, o cachorro da vizinha, morto no quintal dela. O cachorro certamente havia sido morto por alguém, pois um instrumento de jardinagem estava atravessado em seu corpo. Fã de Sherlock Holmes, Christopher decide investigar por conta o assassino de Welington.
      O Estranho Caso do Cachorro Morto (Record, 2004), de Mark Haddon, conta a história da busca de Christopher pelo assassino do cachorro da vizinha. Na verdade, a busca incessante do jovem por saber a verdade sobre tudo (ele é incapaz de mentir) faz com que ele se envolva em muitas outras histórias além daquela que inicia a obra. O livro é narrado por Christopher, que também almeja escrever um livro, e traz situações cotidianas, como pegar um ônibus ou um trem, que se transformam em verdadeiras aventuras quando vivenciadas por ele. O tom divertido da narrativa (o que não é proposital, pois o jovem não gosta e costuma não entender piadas) contrasta com a delicadeza das situações familiares vividas por Christopher. Ao final, o leitor ficará comovido com a naturalidade que o jovem apresenta ao enfrentar dramas que certamente desestabilizariam a maioria das pessoas. E essa é uma das grandes mensagens do livro. Como diz Christopher, olhar para as estrelas é um exercício interessante. Vê-las tão longe, e perceber o quanto o universo é grandioso e como há muitas coisas por aí faz com que nós nos sintamos como realmente somos: muito, muito pequenos. E nossos problemas são também, em sua maioria, muito, muito pequenos.