sábado, 18 de maio de 2013

Bullspotting: encontrando fatos em uma era de desinformação


O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad defende, entre outras posições polêmicas, que o holocausto não ocorreu da maneira como é comumente descrito nos livros de história. A ideia de Ahmadinejad não deriva de um espírito questionador que busca saber a verdade, mas de uma posição ideologicamente estruturada contra Israel e o povo judeu. Por mais estranha que pareça, a posição do presidente iraniano é compartilhada por alguns grupos em diversos lugares do mundo, inclusive no Rio Grande do Sul. Em nosso estado, uma editora chamada Revisão publicou livros referentes ao holocausto e com temas antissemitas e nazistas. Uma das obras editadas foi Os Protocolos dos Sábios de Sião, uma fraude conspiracionista cuja ideia principal era expor um plano judeu de dominação mundial – um plano falso, obviamente.
   Indivíduos que negam a existência do holocausto como ele tem sido retratado em documentos e livros históricos costumam denominar a si mesmos de “revisionistas”, embora exista um nome melhor para eles: negadores da história. O revisionismo é uma atividade absolutamente válida na história, nas ciências e em qualquer outra área do conhecimento humano. No entanto, quando há um grande número de evidências de que determinado fato ocorreu (no caso do holocausto, somam-se um grande número de documentos, evidências físicas – covas, corpos, campos de concentração –, informações fornecidas por membros do próprio regime nazista, listas de pessoas desaparecidas na época, os testemunhos do Julgamento de Nuremberg, depoimentos de testemunhas que escaparam da morte e de soldados aliados, etc.), e a revisão é feita no sentido de provar que tais eventos nunca aconteceram, o que temos é pura e simplesmente a negação da história.
   A questão da negação do holocausto é tratada com muita propriedade por Loren Collins em Bullspotting: finding facts in the age of misinformation (Prometheus Books, 2012, ainda sem edição no Brasil). Collins é um advogado americano que fundou o blog Barackryphal, no qual rebate as ideias dos “birthers”, pessoas que afirmam que o presidente americano Barak Obama teria nascido no Quênia e, assim, estaria impedido de assumir o seu posto atual, dado que a lei americana não permite que cidadãos nascidos em outros países tornem-se presidentes dos EUA. O tema do local de nascimento de Obama junta-se à questão do holocausto como exemplos de negação da história, rumores infundados e teorias conspiracionistas. Collins vai além, e em seu livro trata também de pseudociência (como a homeopatia e a ufologia) e da pseudo-história (escrevendo sobre Nostradamus, Atlântida, a vinda de chineses à América antes de Colombo, a Terra plana, etc.), discutindo, ao final, sobre os potenciais perigos aos quais alguém se expõe quando se deixa envolver por ideias falsas.
   Ler um texto como o de Collins é algo bastante desejável em uma época como a nossa, na qual o fluxo de informação excede em muito a nossa capacidade de apurar as histórias de maneira criteriosa. No Facebook, por exemplo, somos inundados de pedidos de compartilhamento de fotos, que supostamente irão ajudar crianças; outras pessoas nos encaminham notícias dando conta que a Interpol descobriu um desvio de mais de 500 bilhões de reais em nome de integrantes do PT (é o que diz uma capa falsificada da revista Veja); outros defendem ideias políticas esquisitas, como a redução de cargos de confiança em um órgão público se determinado partido político o assumir (quando uma boa pesquisa na internet seria suficiente para fornecer evidências que tal partido, na verdade, age de maneira oposta). Enfim, duvidar, questionar e buscar a boa informação são formas de defesa contra o mundo de desinformação que nos rodeia. E, quando a desinformação é propositalmente espalhada na internet, defender-se dela é a melhor atitude para escapar da manipulação intelectual.