quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Quando literatura e música se unem

Por Guilherme

Uma das passagens bíblicas mais famosas está contida no capítulo 3 do Livro de Eclesiastes:

Para tudo há um momento, e tempo para cada coisa sob o céu:
Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar e tempo de curar; tempo de destruir e tempo de construir;
Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar;
Tempo de atirar pedras e tempo de juntar pedras; tempo de abraçar e tempo de evitar o abraço;
Tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora;
Tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar;
Tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz.

O músico americano Pete Seeger aproveitou esses versos, os modificou ligeiramente e, em 1959, compôs uma das mais belas canções da história do rock, Turn! Turn! Turn!, que ficaria conhecida na versão dos Byrds, na década de 60.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Libertação Animal

Por Guilherme

 A editora Martins Fontes lançou recentemente uma nova edição de Libertação Animal, do filósofo australiano Peter Singer. O livro, publicado originalmente em 1975 (no Brasil, a primeira edição saiu em 2006, pela editora Lugano), é um marco na defesa do bem-estar animal no mundo inteiro.
      Singer é adepto da filosofia utilitarista de John Stuart Mill e Jeremy Bentham que, em linhas gerais, defende a maximização da felicidade e a redução do sofrimento para o maior número possível de indivíduos. O australiano vai além e diz que a redução do sofrimento deve ser buscada para todos aqueles que sejam capazes de senti-lo, sejam humanos ou não. E essa é a ideia base de Libertação Animal.
      O livro discute o sofrimento dos animais nas granjas e fazendas industriais, abatedouros e nos laboratórios de pesquisa. Segundo Singer, a utilização de animais nesses locais é abusiva e não considera o interesse deles de não sofrer. A descrição de como os animais são mantidos e tratados nesses locais é perturbadora e revela o pouco caso que fazemos do sofrimento alheio. Aos relatos somam-se algumas fotos das vítimas da indústria da carne e dos laboratórios médicos e farmacêuticos. Nesses, muitos dos procedimentos não são sequer necessários (ou você realmente se importa em ter 10 mil variedades de perfume à sua disposição?), mas ocorrem sem nenhum questionamento ético.
      Os argumentos de Singer não são emocionais (poderiam ser, e ainda assim seriam válidos, no meu ponto de vista), mas se sustentam em um sistema ético bem elaborado, que defende a igual consideração de interesses entre as espécies (para saber mais sobre a filosofia de Singer, uma boa leitura é Ética Prática, publicada pela Martins Fontes em 2002). Se o sofrimento físico é ruim para um humano, o que se pode dizer da situação de uma galinha que passa a vida inteira trancada em um espaço mínimo, sem ter como se movimentar, além de viver sob luz constante, e com o bico quebrado?
      Para finalizar, faço um mea culpa: não posso criticar abertamente a madame que compra uma infinidade de perfumes diferentes, testados em animais, pois não sou vegetariano e, assim, faço parte da indústria da exploração animal. Admiro quem o é e creio, assim como Thoreau, que a sociedade será eticamente mais refinada à medida que mais pessoas abandonarem o consumo de carne. Para quem quer levar uma vida mais significativa, como disse o próprio Singer em Vida Ética (Ediouro, 2002), talvez esse seja um bom começo.

O blog Rancho Alegre transcreveu o prefácio de Libertação Animal. Para ter acesso a ele, clique aqui.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Novos Escravos, por Efraim Rodrigues

Efraim Rodrigues é um dos ecólogos de maior destaque no Brasil. Doutor pela Universidade de Harvard e Professor da Universidade Estadual de Londrina, Rodrigues tem se dedicado, além das questões acadêmicas, à educação ambiental na prática, atuando em escolas brasileiras. Além disso, é uma voz sensata e crítica do consumismo contemporâneo. Página Virada transcreve o artigo Novos Escravos, de autoria de Rodrigues, publicado na Gazeta do Povo, de Curitiba, em 10/12/2010.


Novos Escravos

      A ascensão das classes C e D brasileiras é reconhecida até pela oposição, mas vale a pena olhar isso com mais atenção. Atenção ambiental e de qualidade de vida, não só econômica.
      É lindo imaginar as pessoas com mais dinheiro e vivendo melhor. Em algum canto de nossa mente vemos aquela mulher que carrega água na cabeça comprando tubos e bombas, imaginamos esgotos a céu aberto sendo tratados. A realidade é diferente.
      Resolvi ir atrás de dados quando li sobre o morador do Complexo do Alemão que pintou a parede e comprou um móvel novo para uma tevê que acabou destruída. Junte essa história com outra: metade dos alunos de 15 anos não sabe ler (repito: alunos, não se considerou jovens não alunos). E a terceira: consumidores com renda entre R$ 500 e R$ 1.000 respondem por uma alta de 43,9% na demanda por crédito no ano (índice Serasa). Esse é crédito exclusivamente para consumo, não para pagar contas. Não nos endividamos para melhorar de vida. Estamos nos endividando para consumir, comprar quinquilharias.
      Assim como no escravagismo de fato, esse também obriga as pessoas ao trabalho e o resultado não é a melhora de vida de todos, mas a acumulação de poucos. O que todos terminam por dividir, consumidores ou não, é a degradação de recursos naturais: água, minerais e energia necessários para construir o último objeto com vogais repetidas (por que a indústria tem obsessão por nomes com vogais repetidas?).
      Há também o agravante do envelhecimento da população. Se você ainda imagina o brasileiro médio como jovem e cheio de filhos, precisa rever seus conceitos. Nossa população não está tendo filhos nem para repor os pais e está envelhecendo rapidamente. Em 20 anos, o brasileiro médio será um velho sem filhos para cuidar dele e sem poupança. Poupamos muito menos que 10% de nossa renda bruta, enquanto China e Índia estão por volta de 30%. É por isso que em 40 anos deixaram de plantar arroz enquanto estamos só um pouco melhor.
      Mas essa não é a primeira vez que perdemos o bonde da história. Na década de 50 trocamos o superávit gerado na Segunda Guerra por meias de náilon e chicletes. A história se repete e ainda mais para os que não a conhecem.
      Esse neo escravagismo obriga as pessoas a trabalhar como loucas para consumir de maneira igualmente insana. O grilhão só é aparentemente menos dramático por não ser de ferro, mas é muito pior por prender as pessoas pela mente. Um escravo podia ao menos tentar fugir para um quilombo, mas para onde foge alguém cuja mente foi aprisionada?
      Tenham todos um Feliz Natal.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

André Comte-Sponville, sobre a importância dos livros

Por Guilherme

A obra  O Amor a Solidão (Martins Fontes, 2006) é composta por três entrevistas do filósofo francês André Comte-Sponville. Nelas, o autor fala sobre o amor, a felicidade, a morte, a filosofia e, claro, os livros. Quando questionado sobre a influência dos livros na vida de uma pessoa, ele declarou:

"Claro que um livro pode mudar uma vida! É inclusive sob essa única condição que, de fato, vale a pena ser lido ou ser escrito. (...) Um belo livro deve portanto nos desesperar dos livros também. É o mais lindo presente que alguns grandes escritores me fizeram: eles me libertaram deles libertando-me de mim, ou me libertaram de mim, pelo menos um pouco, libertando-me deles... Sabe, quando o mar se retira na maré baixa e caminhamos ao longo da praia: aquela doçura súbita, aquela tranquilidade, aquela liberdade... Até parece que algo de nós se foi com ele, lá longe, nos deixou, e isso cria como que uma nova paz, uma nova leveza. A gente respira melhor. Anda melhor. Como a praia é grande! Como o céu é bonito! Estou nesse ponto: leio cada vez menos; passeio, descalço, na areia... Enfim, tento, e só gosto dos livros que me ajudam a fazê-lo."

domingo, 12 de dezembro de 2010

A Arte de Ser Desagradável

Por Guilherme

      “Rebelde sem causa” é o termo que melhor descreve a vida do jornalista americano Jim Knipfel até o início de sua idade adulta, ou bem mais do que isso. Knipfel gostava de atazanar a vida alheia, às vezes de modo agressivo e perigoso. Parte de suas memórias dos anos de delinquência está em A Arte de Ser Desagradável (Bertrand Brasil, 2010).
      Nem o fato de Knipfel ser portador de uma doença degenerativa nos olhos, chamada retinite pigmatosa, que o impede de ver as coisas claramente na maioria das situações, o deteve de levar a cabo planos como o incêndio da sala da administração da universidade na qual ele e seu amigo inseparável, o maluco Grinch, estudavam.
      Os relatos de passagens da infância do autor mostram que nem tudo o que ele fez foi atentar contra a integridade de outras pessoas. Certa feita, ele se vestiu de palhaço em uma festa de sua escola. Sua função era ficar dentro de uma caixa e aparecer subitamente, mexendo seus braços e agindo de forma boba. Aborrecido pela situação, o menino prostrou-se no fundo da caixa, ficando lá por todo o tempo, frustrando sua professora e colegas. Hoje com 45 anos, Knipfel afirma continuar aborrecendo os que estão a sua volta, mesmo involuntariamente, por causa de sua cegueira parcial ou pelo fato de ele ser um sujeito anti-social que é obrigado a conviver com outras pessoas.
      No final de sua narrativa, Knipfel deixa transparecer algo que é recorrente à maioria das pessoas de passado conturbado: o arrependimento. A chegada da maturidade trouxe uma maior paz de espírito ao autor, que finalmente pode aplicar aquilo que chama de “budismo para cachaceiros”, ou seja, aproveitar a vida agora, respeitando os demais, sem tentar ser um chato na maioria das ocasiões (o termo usado por ele no livro é outro). Isso pode parecer simples, e é mesmo, mas para um sujeito com o histórico de Knipfel, viver desse modo é como atingir o Nirvana.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Colapso

Por Guilherme

      O geógrafo e biólogo Jared Diamond é um dos cientistas mais influentes da atualidade. Em seu livro mais famoso, Armas, Germes e Aço (Record, 2006), o autor mostrou que a evolução das sociedades humanas resultou de fatores geográficos e ambientais que facilitaram o desenvolvimento da agricultura, a domesticação de animais e a estabilização de grandes grupos humanos, ao invés de diferenças genéticas ou intelectuais entre os povos.
      Em Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso (Record, 2009), Diamond analisa como sociedades humanas, até então bem estabelecidas, podem ruir. A obra, densa como a anterior, inicia com uma análise da situação do estado americano de Montana, outrora um dos mais ricos dos Estados Unidos devido à mineração, por décadas a principal atividade econômica do estado. Hoje, Montana é um dos estados com piores índices econômicos e, ironicamente, a culpa é da exploração de minerais. Com ela, os recursos ficaram escassos, os solos empobrecidos e os rios, poluídos. As empresas mineradoras saíram de Montana, não pagaram as devidas multas pelos danos causados, e deixaram o estado à beira de um colapso ambiental. De acordo com Diamond, a falta de responsabilidade com relação ao uso dos recursos naturais é um dos fatores que conduz uma sociedade à ruína. No caso de Montana, o colapso parece mais distante porque o estado faz parte de um sistema econômico relativamente sólido e, por isso, não está isolado com seus problemas.
      O livro segue com uma análise muito interessante sobre o colapso de sociedades famosas e tradicionais, como a da Ilha de Páscoa, os maias e os vikings. Depois, são apresentados casos contemporâneos, como a tragédia de Ruanda em 1994, desencadeada, argumenta Diamond, pelo fato de existirem muitas pessoas disputando parcos recursos. A introdução de espécies exóticas na Austrália, e a consequente extinção de animais locais, além de danos ambientais incalculáveis provocados por coelhos e raposas vindos da Europa, também é tema de Colapso. A gigante China é citada como exemplo de mau uso da natureza, que causou níveis de poluição no ar, água e solo poucas vezes vistos no planeta.
      Os últimos três capítulos discutem como as pessoas podem ser tão relapsas em relação ao ambiente, a ponto de sociedades inteiras entrarem em colapso por causa disso. Diamond pergunta: “Por que algumas sociedades tomam decisões tão desastrosas?”, e as respostas para isso são tremendamente simples e desconcertantes. O autor confia no papel das grandes empresas para salvar o meio ambiente, e trata dessa questão em um capítulo inteiro. No final, Diamond traz uma mensagem de “esperança realista” sobre a situação do mundo hoje, e traça algumas ideias do que pode ocorrer no futuro se continuarmos agindo como estamos hoje ou, como esperamos, se nossa sociedade tomar um rumo melhor.
      Colapso é leitura obrigatória para os amantes de história, e deveria ser também para os políticos e demais tomadores de decisão. A velha máxima de que devemos estudar o passado para não repetir os erros que cometemos nunca foi tão bem aplicada.

OBS: Diamond escreveu um artigo sobre a relação das empresas com o meio ambiente. O texto foi publicado na revista Veja, no final de 2009, e é um bom resumo do capítulo de Colapso que trata do mesmo tema. O artigo pode ser acessado aqui.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Para saber mais sobre a história das músicas

O site Songfacts é o local ideal para aqueles que gostam de música e também apreciam a história por trás de cada uma delas. Além de apresentar os fatos referentes à composição de cada música (quem a compôs, quando, qual foi a inspiração, sobre o que ela trata) o site disponibiliza a opinião de fãs, que também comentam sobre suas músicas preferidas e, muitas vezes, falam da importância delas em suas vidas.