quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Lições de fim de ano

Por Guilherme

O professor Juremir Machado da Silva é um dos mais brilhantes colunistas brasileiros. Polêmico, Juremir sustenta algumas ideias que não encontram muito eco na grande mídia, especialmente sobre educação e política. Normal, em se tratando de alguém que é considerado um “maldito” na literatura.
      Em seu blog, no site do jornal Correio do Povo, Juremir publicou um texto muito interessante e reflexivo, em uma época propícia para isso. “Lições de fim de ano” é uma aula do Professor Juremir, que vale até para aqueles (como eu) que às vezes discordam do teor de seus artigos no Correio.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As Esganadas

Por Natália

No final da década de 1930, um assassino vem deixando um rastro de pavor no Rio de Janeiro. O perfil de vítima desse criminoso é bem específico: ele mata mulheres jovens, bonitas e obesas. Seu modo de assassinar essas moças também é peculiar: ele as atrai, prometendo-lhes quitutes da culinária portuguesa, e força-lhes comida pela garganta, até que se engasguem ou não suportem mais ingerir coisa alguma. A polícia carioca vê-se desesperada para encontrar o assassino, que, mesmo não sendo tão discreto, consegue cometer uma série de crimes sem deixar pistas.
        Aparentemente, o criminoso consegue enganar muito bem os quatro responsáveis pela investigação do caso: o delegado Mello Noronha, que está sempre às rusgas com seu superior, o auxiliar Valdir Calixto, um sujeito mais esforçado do que propriamente inteligente, o ex-inspetor português Tobias Esteves, que foi afastado da polícia lusitana por um erro imperdoável, e a bela jornalista Diana de Souza, que ocasionalmente presenteia o trio de investigadores com insights muito interessantes. Enquanto os crimes continuam, a polícia se esforça para encontrar o misterioso assassino – que o leitor conhece desde as primeiras páginas.
        As Esganadas (Companhia das Letras, 2011), de Jô Soares, segue a esteira de suas outras obras, como O Xangô de Baker Street e O Homem que Matou Getúlio Vargas, pois mistura uma trama policial a fatos narrados com o humor característico de seu autor. É uma história de leitura rápida que leva o leitor ao Rio de Janeiro do início do Estado Novo de Getúlio Vargas, deixando-o apreensivo enquanto o criminoso comete seus assassinatos e continua impune. Entretanto, ainda que As Esganadas tenha algumas passagens que podem provocar risos no público, talvez esta não seja a obra de Jô Soares mais voltada ao humor. Para os leitores que desejam um equilíbrio maior entre humor e mistério, talvez O Xangô de Baker Street e O Homem que Matou Getúlio Vargas sejam opções mais acertadas.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ter sucesso é mais importante do que podemos imaginar

Por Guilherme

Rir muito e com frequência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza; encontrar o melhor nos outros; dar o melhor de si; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma criança saudável, um canteiro de jardim ou por uma condição social redimida; saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido sucesso.”
                                   
        A passagem acima, largamente disseminada na internet, é atribuída erroneamente ao filósofo americano Ralph W. Emerson. O texto é uma variação de um poema escrito por Bessie Anderson Stanley, no começo do século XX, cerca de 20 anos depois da morte de Emerson, para um concurso promovido por uma revista americana.
        Gosto de pensar que, se vivo, Emerson endossaria as palavras de Bessie. O filósofo era um homem simples, que considerava as boas realizações da vida de alguém o maior sucesso possível.
        Estamos em época de Natal, muitos se preocupam com os presentes que terão que dar, e anseiam receber outros. Obviamente, isso também é importante, é parte da cultura natalina. Mas poderíamos aproveitar a época e estender nossas reflexões sobre nossa vida, sobre o que podemos fazer dela, e sobre o quanto nosso sucesso (do tipo descrito nas palavras de Bessy Stanley) pode ser importante para nós e para os outros.

Duas verdades sobre nossos alunos

Por Guilherme

Quem é professor, ou tem alguma vivência no meio escolar, certamente vai se identificar com esse post curto, em tom de desabafo, escrito pelo professor gaúcho Cassionei Petry sobre seus alunos. Triste é constatar que a situação não está restrita a Santa Cruz do Sul, onde Petry mora, mas é a regra na maioria das escolas brasileiras (se não em todas). Exceção é o aluno que estuda, que lê, que se interessa, que procura aprender.
      Vale a pena clicar na redação que aparece no post do blog de Petry. Seria muito engraçado ler algo assim, primitivamente escrito, se não fosse feito por alguém que provavelmente irá para o Ensino Superior em pouco tempo, continuará sendo um analfabeto funcional e ganhará seu diploma, estando apto a exercer sua profissão depois disso.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sobre Christopher Hitchens

Por Guilherme

Estamos acostumamos a ver pessoas que defendem ideias pela cor do partido ou posição política que representam (como fazem as revistas Veja e Caros Amigos, e seus articulistas), menosprezando boas realizações de seus adversários, e só enxergando a podridão dos outros (os últimos exemplos, e infelizmente não são os únicos, são os infames mensalão petista e a privataria tucana). Não há, no Brasil, intelectuais independentes, pessoas desligadas a partidos que tenham a capacidade de criticar livremente aquilo que julgam errado, e aplaudir as boas realizações, não importando quem as tenha feito.
        O jornalista inglês Christopher Hitchens, um dos mais polêmicos e influentes escritores das últimas décadas, foi um exemplo de intelectual independente que inexiste aqui. Famoso mundialmente por sua luta contra o pensamento religioso, Hitchens foi um expoente do chamado neoateísmo, com Richard Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris. Dos autores ateus, o que menos conheço é justamente Hitchens. Comprei recentemente Deus Não É Grande: como a religião envenena tudo (Ediouro, 2007), seu livro mais famoso, e The Portable Atheist: essential readings for the non-believer (Perseus Books, 2007), uma seleção de textos de ateus famosos como Mark Twain, Darwin, Bertrand Russell, Daniel Dennett, Richard Dawkins, Carl Sagan e Salman Rushdie, entre outros. Não li nenhuma das duas obras, e pretendo aproveitar as férias para isso.
        Se Hitchens fosse um autor como a maioria, sua luta contra a religião talvez se devesse ao seu alinhamento político. Ao contrário do que se poderia esperar, Hitchens foi um dos poucos ateus a defenderem a política americana no Iraque, elogiando o comando de Bush e criticando os democratas. Para Hitchens, a intervenção americana no Afeganistão e no Iraque era mais do que necessária, e o governo não poderia ficar de mãos atadas depois de 11 de setembro de 2001.
        Outras ideias polêmicas de Hitchens foram em relação à vida e ao trabalho de Madre Teresa de Calcutá (“uma fraude, fanática e fundamentalista, amiga da pobreza, não das pessoas pobres”), do documentarista Michael Moore (“manipulador”), de Bill e Hillary Clinton, Mel Gibson e Jimmy Carter.
        Hitchens faleceu no último dia 15. Sua partida marca a despedida de um sujeito que nos ensinou que qualquer discussão relevante deve estar sempre baseada na razão, e não em argumentos supersticiosos e sem qualquer fundamento racional.

Boa parte dos textos de Hitchens foi publicada na revista americana Slate. No Brasil, o site da revista Época disponibiliza diversos textos do autor.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Beijo Gelado e o futuro do Brasil

Por Guilherme

Todos lugares violentos no mundo têm algo em comum: famílias desestruturadas, filhos indesejados e falta de cuidado dos pais com seus descendentes. Obviamente, nem toda família desestruturada origina criminosos, mas esse é um fator considerável na formação deles.
        Luiz Fernando Oderich, fundador da associação Brasil Sem Grades, e que perdeu seu filho Max devido à violência urbana que está liquidando com o Brasil, escreveu O Beijo Gelado: paternidade irresponsável, a tragédia brasileira (Sulina, 2005), uma corajosa obra que discute as causas do aumento da criminalidade em nosso país. A partir de dados de pesquisas que relacionam a liberação do aborto e os índices de crimes violentos em algumas cidades dos EUA (já tratamos do assunto aqui, e se você quiser saber mais sobre isso pesquise o trabalho de Steven Levitt), Oderich afirma: a paternidade irresponsável é a culpada por pelo menos a metade dos crimes no Brasil. A ausência de uma figura paterna que zele pela criação e educação das crianças pode encaminhá-las para o mundo do crime.
        Lembrei-me do livro de Oderich ao ler notícias recentes sobre o aumento de homicídios no Brasil. Em um país no qual o planejamento familiar sequer é discutido com seriedade, não é de se espantar que a taxa de homicídios tenha aumentado enormemente, fazendo de nosso território um lugar mais mortal que o Iraque moderno, um paraíso onde a violência virou epidemia.


Leia as notícias sobre a violência no Brasil, aqui, aqui, e aqui.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Na Natureza Selvagem

Por Guilherme

Se alguém fizer uma lista dos ambientes mais difíceis para um ser humano prosperar, o estado do Alasca, com seu clima extremo e fauna potencialmente letal para nós, certamente estará nela. E na imensidão selvagem do extremo norte do continente americano é que o jovem Christopher McCandless encontrou o seu fim.
McCandless, desde cedo, não aparentava ser como a maioria de seus colegas. Fanático por aventuras e pouco apegado a valores materiais, não desperdiçava a chance de ficar sozinho na natureza, como quando fez rafting no Rio Colorado, empreitada perigosa mesmo para os experientes. Sua vontade de continuar as aventuras era fomentada pela leitura de autores como Henry Thoreau, Jack London e Robert Pirsig.
Um jovem ansioso por novos desafios, leitor de libertários, crítico do “vazio” da sociedade materialista americana, com uma relação familiar instável, e à procura de um rumo depois de sua graduação: McCandless era a personificação do jovem aventureiro. E a sua maior jornada começava a se materializar.
        Depois de peregrinar por vários estados americanos, trabalhando e trocando ideias com as pessoas com quem tinha contato, McCandless iniciou sua odisséia ao Alasca em 1992. Pegando carona de Dakota do Norte até Fairbanks (sem avisar a família), e apanhando mantimentos para sua estada no Alasca, o jovem percorreu a pé o último trecho da viagem até encontrar um ônibus abandonado próximo ao Parque Nacional de Denali. Ali, sua vida contemplativa, à Thoreau, iniciou.
        A impressionante história de McCandless é contada pelo jornalista americano Jon Krakauer em Na Natureza Selvagem: a dramática história de um jovem aventureiro (Companhia das Letras, 1998). Krakauer conversou com familiares do jovem, com colegas de trabalho e amigos, e também percorreu alguns dos caminhos de McCandless. O resultado é um relato de alta qualidade sobre a vida, e a morte, de um sujeito que não conseguia encontrar seu lugar numa sociedade de pensamento tão diferente do seu.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A era do "eu"

Por Guilherme

Há alguns dias, citei aqui no blog um pequeno texto do Professor Daniel Blumstein sobre a falta de civilidade das pessoas, exemplificada por uma mulher que atacou outros clientes de uma loja americana do Walmart com um spray de pimenta, pois ela objetivava conseguir chegar antes aos itens em promoção.
        Além da falta de civilidade da mulher, a situação mostra o quanto supervalorizamos nossos direitos em relação aos nossos deveres de cidadania. Hoje, é raríssimo encontrar alguém que dê peso semelhante aos seus direitos e deveres, alguém que se preocupe mais em fazer as coisas certas do que em reclamar quando seus interesses são contrariados. Penso que nossa sociedade tem se desenvolvido assim, com a complacência dos governos. Deliramos com a ideia de que somos merecedores de todos os direitos do mundo, mas pouco discutimos nossos deveres em relação aos outros. É por isso que as pessoas estacionam em locais proibidos, jogam lixo no chão, roubam, corrompem e são corrompidos, agem com o famoso “jeitinho” brasileiro, e por aí vai. Tudo em nome de um Deus chamado EU.

A discussão prossegue em um texto que publiquei no blog de Daniel Blumstein, que pode ser lido aqui.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Tome cuidado com os animais à sua volta

Por Guilherme

Os tempos andam difíceis para o mal, afirmou o filósofo Mark Rowlands. Não porque ele não exista, muito pelo contrário, mas porque as pessoas não admitem a sua existência. Não existe mais maldade no mundo moderno, tudo é culpa de outra coisa, de uma doença ou de um desajuste social, para ficar em duas das mais comuns tentativas de atenuar o mal.
        Andei lendo muitas notícias nas últimas semanas sobre atrocidades cometidas contra animais, e me lembrei da discussão sobre a maldade que Rowlands traz em O Filósofo e o Lobo. Depois de reler alguns trechos do extraordinário livro de Rowlands, tenho a mesma certeza que ele: existem mais atos malignos e mais pessoas malignas do que gostamos de admitir. E a maioria dos atos de maldade é cometida contra aqueles que pouco, ou nada, podem fazer para se defender.

Se você ainda tem alguma dúvida de que o mal permeia a sociedade atual, invista alguns minutos de seu tempo e dê uma olhada nos links abaixo.

Malcolm Gladwell e "O Que Se Passa Na Cabeça Dos Cachorros"

Por Guilherme

O jornalista britânico Malcolm Gladwell é um escritor de múltiplos interesses e que gosta de abordar temas não muito comuns em seus textos, embora a maioria de seu trabalho dê destaque a questões da sociologia e psicologia. Gladwell tem tido bastante sucesso com seus escritos, e seus quatro livros já foram publicados no Brasil.
Sou curioso em relação à obra do jornalista, apesar de nunca ter lido seus livros. Já li alguns artigos, e comprei recentemente Fora de Série – Outliers (Editora Sextante, 2009), na qual Gladwell discute as circunstâncias que fazem alguém ter uma trajetória destacada em diversos tipos de atividade.
Tenho interesse especial pelo último livro do autor, O Que Se Passa Na Cabeça Dos Cachorros: e outras aventuras (Editora Sextante, 2010), uma compilação de artigos escritos para a revista The New Yorker. Para conhecer um pouco da obra, e do pensamento de seu autor, recomendo a leitura de uma entrevista feita com Malcolm Gladwell no ano passado, pelo jornal Gazeta do Povo, do Paraná. A entrevista pode ser lida aqui.

O site do autor (em inglês) também disponibiliza alguns de seus textos, e um resumo de seus livros. Para acessá-lo, clique aqui.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As Ideias de Darwin (2): A Sobrevivência dos Mais Doentes

Por Guilherme

Se a evolução através do processo de seleção natural nos trouxe até aqui, como é possível que ainda sejamos animais sujeitos a inúmeras doenças, e não máquinas biológicas perfeitas? A resposta, de acordo com Sharon Moalem e Jonathan Prince, é que muitas das moléstias que nos afetam atualmente ajudaram a moldar nosso organismo durante nossa caminhada evolutiva.
        Em A Sobrevivência Dos Mais Doentes: um estudo radical das doenças como fator de sobrevivência (Campus, 2007), Moalem e Prince vão além do famoso exemplo da relação entre a distribuição geográfica da malária e a ocorrência de anemia falciforme nas populações humanas desses locais, que parece ser o único caso desse tipo conhecido por autores de livros de biologia do Ensino Médio brasileiro. Apesar de a clássica relação entre malária e anemia falciforme também ser tratada na obra, outros temas médicos e biológicos são discutidos. O espirro, por exemplo, é uma espécie de mecanismo de defesa humano mas, acima de tudo, uma estratégia viral de propagação. Desse modo, as duas estratégias evoluíram em conjunto. Nós, espirrando, e os vírus se aproveitando disso para atingir outro organismo. O sistema de reprodução e dispersão do terrível verme-da-Guiné, a distribuição de pelos no corpo humano, a variação na tolerância ao álcool entre diferentes grupos humanos, o aparecimento do câncer e a morte, entre outros, são assuntos presentes o livro.
        A Sobrevivência Dos Mais Doentes é uma obra de leitura fácil e de conteúdo esclarecedor. Tratando das doenças sob um enfoque evolucionista, Moalem e Prince nos mostram como as ideias de Darwin se estenderam muito além daquilo que o próprio cientista inglês imaginava quando publicou A Origem Das Espécies. É impossível entender qualquer tema biológico sem discutir a evolução dos organismos vivos. Moalem e Prince escrevem: “a evolução não acabou – está ao nosso redor, ocorre o tempo todo.” Por isso, entender os mecanismos básicos da biologia evolucionista não significa apenas saber como chegamos até aqui, mas nos permite elaborar algumas previsões sobre o que pode acontecer conosco em breve.

As Ideias de Darwin é uma seção do Página Virada que discute livros inspirados nas ideias evolucionistas do naturalista inglês.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ótimas leituras para o final de semana

Por Guilherme

- Gilmar Marcílio escreveu Lições Para Viver Mal, um texto no qual descreve um homem rico que parece não aproveitar da boa condição financeira para viver mais agradavelmente. O texto traduz perfeitamente como são e como pensam alguns dos cidadãos da serra gaúcha. Não me lembro de outro texto com uma caracterização tão precisa de nosso povo. Apesar de Marcílio se referir a um cidadão em especial, tomo a coragem de dizer que são milhares deles espalhados por aí. O texto pode ser lido aqui.

- Marcos Kirst publicou no jornal Pioneiro de hoje, dia 25/11, um texto muito interessante sobre mudança individual, responsabilidade, e a lei que proíbe a ingestão de bebidas alcoolicas antes de alguém conduzir um veículo. Rumo à Civilização é o título do artigo de Kirst, e é por esse caminho que precisamos andar, com urgência. O texto pode ser lido aqui.

- Falando em civilização (ou da falta dela), Daniel Blumstein discute uma notícia bizarra: uma mulher utilizou spray de pimenta contra outros consumidores em uma loja americana porque queria chegar mais rápido aos produtos, espantar os “concorrentes”, e conseguir aproveitar as promoções da chamada Black Friday. Resultado da brincadeira: 20 pessoas com dor de garganta e irritação na pele e nos olhos. Perdemos nosso compasso moral, diz Blumstein, e ele está cheio de razão. O texto (em inglês) pode ser lido aqui.

- Luciano Mallmann, em seu blog Contemplações; Improvisos, traz várias passagens de Literatura em Perigo, obra de Tzvetan Todorov sobre os livros. As citações são muito interessantes, e nos mostram que os livros têm um grande poder de mudar as pessoas. O texto pode ser lido aqui.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Café Literário com o Maneco

Por Guilherme

Arcângelo Zorzi Neto, o Maneco, é uma das figuras de maior destaque na cultura da serra gaúcha. Além de ser o fundador de uma das maiores livrarias e editoras do Rio Grande do Sul, Maneco também atua em outras áreas, como o teatro e os programas de rádio.
Maneco estará no próximo Café Literário de Antônio Prado, ocasião na qual falará sobre sua bem-sucedida trajetória como livreiro. O evento ocorre na próxima terça-feira, dia 29 de novembro, às 20h, no Centro Cultural Padre Schio. A entrada é gratuita.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre homens, políticos, e outros animais

Por Guilherme

Estudar o comportamento animal é uma das coisas mais interessantes que existem (apesar de minha irmã insistir em dizer que os temas realmente interessantes são os relacionados à fonologia). Lendo sobre como os animais se comportam, é possível entender alguns padrões, fazer algumas previsões e, a partir de tudo isso, criar um panorama geral de como determinada espécie se comporta. Vi isso quando passei um ano acompanhando bugios na serra gaúcha. Havia lido muito sobre eles antes, e sabia que esses animais passam a maior parte de seu tempo dormindo, que são animais que se deslocam lentamente em comparação a outros primatas arborícolas, e que podem viver bem em pequenos fragmentos de mata. E foi exatamente o que pude observar no grupo que estudei.
        Um dos argumentos a favor da suposta “singularidade” humana é que temos uma gama de comportamentos muito mais ampla que os demais animais. Há um certo fundamento nisso, e essa é a razão de sermos animais tão pouco confiáveis. Quando um cão abana o rabo em posição horizontal para alguém, quer dizer “não há problema, sou seu amigo”. A mesma mensagem é transmitida quando um ser humano sorri para outro, embora em muitas ocasiões não seja exatamente isso que a pessoa esteja pensando.
        Por outro lado, seres humanos são também muito previsíveis. Quem acompanha as eleições americanas, por exemplo, sabe que ser republicano geralmente significa ser cristão, contrário ao aborto e simpático à pena de morte, e também defensor de uma menor intervenção do estado na economia e na vida dos cidadãos. Ser democrata significa quase que o oposto. Na política brasileira, as coisas não são diferentes: partidos de “centro-direita” defendem interesses semelhantes aos republicanos americanos, e partidos de “centro-esquerda” se assemelham aos democratas.
        Infelizmente, falar em “centro-direita” e “centro-esquerda” no Brasil atual não tem sentido algum. Ao que parece, os interesses que prevalecem na política brasileira são os particulares. Um partido que criticava severamente posturas corruptas há alguns anos é o que mais as pratica hoje, e os que criticam a corrupção hoje serão os que se beneficiarão de prática ilícitas no futuro. Podemos saber disso porque as pessoas são previsíveis, muito previsíveis.

        Pode parecer que o assunto tratado nesse post não tem muita relação com que costumamos tratar aqui, mas lembrei disso ao reler Thoreau. Em seu ensaio A Desobediência Civil, Thoreau afirma que existem 999 pessoas que defendem as virtudes para cada uma que as pratica. Penso que nada mudou desde a época do pensador americano até nossos dias.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Como a educação mudou minha vida

Por Guilherme

“Como a educação mudou minha vida” é o nome de uma seção do site Educar Para Crescer, mantido pela Editora Abril, cujo foco é divulgar o relato de pensadores, artistas, políticos, e outras personalidades, a respeito de como a sua formação pessoal foi influenciada pela escola, pela leitura e pela busca do conhecimento. Figuras como o enxadrista Garry Kasparov, o filósofo Alain de Botton, o ex-presidente FHC, o músico Toquinho, o escritor Mia Couto, o apresentador e escritor Jô Soares, o filósofo Mario Sergio Cortella, entre outros, dão seus depoimentos sobre o que pensam da educação.

      O link para essa seção está aqui. Aproveite e visite o restante do site, pois boas iniciativas como essa devem ser prestigiadas e divulgadas.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Que a Vida Me Ensinou – Viver Em Paz Para Morrer Em Paz

Por Guilherme

“Se você não existisse, que falta faria?” é a pergunta que ilustra a capa de O Que a Vida Me Ensinou – Viver Em Paz Para Morrer Em Paz (Editoras Saraiva e Versar, 2011), do filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella. Assim como as obras anteriores de Cortella, O Que a Vida Me Ensinou é uma coletânea de pequenos artigos que tratam de nossas questões fundamentais, ou seja, de amor, ética, felicidade, da busca de sentido nas coisas que fazemos, de nossos relacionamentos e da maneira como conduzimos nossas vidas.
        Cortella escreve de um jeito simples, direto, direcionado para o público leigo em filosofia, sem por isso perder o rigor em sua argumentação ou a objetividade de suas ideias. Seus textos fluem naturalmente a partir de constatações cotidianas ou até da discussão sobre a etimologia de uma palavra. As poucas páginas de cada artigo do filósofo são suficientes para nos fazer parar e pensar por alguns momentos sobre os temas que ele escreve, e como eles se aplicam a nós mesmos. E o artigo que contém a frase da capa do livro é um dos mais inspiradores entre os quase 20 textos da obra.
        “Se você não existisse, que falta faria?” – se você nunca pensou a respeito da resposta que daria a essa pergunta, talvez seja hora de começar a refletir um pouco mais sobre sua vida e sobre as coisas que você tem feito (ou deixado de fazer).

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O efeito das boas músicas e dos bons livros

Por Guilherme

Muitas pessoas (me incluo nesse grupo) gostam de ler por encontrarem nos livros algumas respostas às questões que os inquietam na vida. Mesmo se as respostas não estiverem nos bons livros, certamente alguma ideia brilhante surgirá deles, e isso às vezes nos basta.
      Com a música ocorre o mesmo. Muitas canções têm versos tão bem escritos que serviriam muito bem para descrever alguns de nossos momentos, bons ou ruins. Um gênio na arte de escrever passagens assim é o inglês Jeff Lynne, da Electric Light Orchestra (da qual já tratamos aqui). E é por isso que vale a pena prestar atenção em Shangri La, um clássico da ELO.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Palavras de Thoreau

Por Guilherme

Estou relendo o clássico Walden (Aquariana, 2001) do filósofo americano Henry David Thoreau, obra na qual o escritor transcreve sua experiência de dois anos morando em uma cabana a cerca de 3 km da civilização.
Walden é um livro extraordinário, escrito por um sujeito diferenciado, que não se conformava com a mediocridade da vida cotidiana de sua época.
Abaixo, um pouco da essência de Thoreau:

Devemos aprender a despertar novamente e a manter-nos despertos, não com ajuda mecânica, mas pela infinita expectativa do amanhecer, que não nos abandona em nosso sono mais profundo. Desconheço fato mais encorajador que a inquestionável habilidade do homem para elevar a vida através do esforço consciente. É importante ser capaz de pintar determinado quadro, ou esculpir uma estátua, e desse modo produzir objetos belos; é, porém, muito mais glorioso esculpir e pintar a própria atmosfera e o ambiente através do qual vemos e que podemos construir no plano moral. Modificar a natureza do dia, eis a arte superior às demais. Compete a todo homem a tarefa de fazer a própria vida, inclusive nos pormenores, digna da contemplação de sua hora mais elevada e crítica.

Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido.

Em cada mil pessoas podando os galhos do mal há uma tentando arrancá-lo pela raiz, e é bom possível que aquele, que dedica a maior parte de seu tempo e dinheiro socorrendo os necessitados, esteja contribuindo com seu modo de vida para gerar a mesma miséria que se esforça em vão por aliviar.

Nem todos os livros são tão insípidos como seus leitores. É provável que haja palavras endereçadas exatamente a nossa condição, as quais, se pudéssemos ouvi-las e entendê-las de fato, seriam mais salutares a nossas vidas que a própria manhã ou a primavera, e nos revelariam, talvez, uma face inédita das coisas. Quantos homens não inauguraram nova etapa na vida a partir da leitura de um livro! Deve existir para nós o livro capaz de explicar nossos mistérios e nos revelar outros insuspeitados. As coisas que ora nos parecem inexprimíveis, podemos encontrá-las expressas em algum lugar. As mesmas questões que nos inquietam, intrigam e confundem, foram colocadas por sua vez a todos os homens sábios; nenhuma foi omitida, e cada um deles respondeu respondeu-as de acordo com a sua capacidade, por meio das palavras ou da própria vida. De mais a mais, junto com a sabedoria aprenderemos a liberdade.

sábado, 5 de novembro de 2011

Sobre aulas cronometradas, varinhas mágicas e trevos-de-quatro-folhas

Por Guilherme

Há poucos dias recebi um e-mail de uma colega professora sobre uma reportagem da Revista Veja publicada em junho de 2010, intitulada “Aula cronometrada”. Eu já havia lido a tal reportagem, mas sem muita atenção, porque achei a proposta tão engraçada (se aplicada da maneira descrita) que a jornalista não poderia estar falando sério quando sugeriu que o mesmo poderia ser feito no Brasil. Infelizmente, ela estava.
        Depois de receber o e-mail com a cópia da reportagem, li o texto novamente, e fui verificar no site da revista para garantir que ele não havia sido modificado de propósito.

Antes de prosseguir, se você não leu o texto, (não) perca seu tempo e o leia aqui.

        O subtítulo da reportagem já poderia nos fazer parar a leitura imediatamente. Um “método aplicado em países de bom ensino” não funciona por mérito próprio, por milagre, por melhor e mais bem elaborado que ele tenha sido. Qualquer coisa funciona quando seu contexto também funciona. Repetimos incessantemente que nossos políticos são um bando de corruptos, mas a sociedade em volta é igual a eles, porque os seres humanos, em geral, não costumam respeitar os interesses alheios, e vivem uma luta incessante para “vencer na vida”, “começar a ganhar dinheiro”, “ter patrimônio” e coisas afins. E fazem isso sem se preocupar muito com a vida de outras pessoas. A diferença é que alguns agem assim em Brasília ou nas sedes de outras instâncias governamentais, e outros nas ruas de todas as cidades do Brasil. Empatia, escreveu o primatólogo Frans de Waal, deveria ser um componente básico na vida de todos nós.
        Quando as pessoas de uma sociedade não se portam bem, nenhum aspecto dela pode funcionar direito. A questão é cultural, e isso poucos parecem ter entendido, e quem propõe como “solução” o uso de cronômetros na sala de aula não compreende que aquilo que vemos no interior de uma escola é o reflexo de uma sociedade culturalmente destroçada, cujos valores estão absolutamente invertidos, e em que o sucesso de alguém é avaliado pelo dinheiro, posse ou fama que essa pessoa conquista (muitas vezes por acaso). Não é surpresa que os professores se revelem “incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital.”
        A frase mais interessante da reportagem é a que está abaixo da figura: “cronômetros vão ajudar a entender as causas da evidente ineficácia na sala de aula.” Todo mundo sabe as causas da ineficácia do trabalho em sala de aula, e são muitas. No entanto, a raiz da questão está nos problemas de nossa sociedade.
        O cronômetro pode funcionar no Japão ou na Finlândia? Sim, mas suponho que nesses países esse tipo de artifício não é necessário para que a educação seja bem-sucedida. Para que implantássemos algo semelhante no Brasil deveríamos lutar, primeiro, para ter uma sociedade organizada e ética como a japonesa, por exemplo. A partir disso poderíamos comprar até cronômetros para serem instalados na sala de aula, mas provavelmente nem se discutiria mais isso.
         Assim, é possível esperar que um método eficiente em países de bom ensino seja transferido para o Brasil e tenha os mesmos resultados? Claro que não, e somente quem habita um mundo paralelo pode acreditar nisso. No entanto, se os governantes decidirem que o cronômetro é fundamental para boas aulas, eu humildemente sugiro mais dois objetos para compor a sala de aula: a varinha de condão, que possibilite num golpe mágico que os alunos venham todos os dias dispostos para a aula, para aprender e, principalmente, que transforme as famílias a ponto de elas passarem a entender que têm responsabilidade sobre a vida das crianças e adolescentes que colocaram no mundo. Além da varinha mágica, penso que também é importante que sejam distribuídos trevos-de-quatro-folhas para professores, porque é preciso ter muita sorte, mais do que tudo, para se manter mentalmente equilibrado no ambiente conflituoso que é a escola atualmente.

E você? Faça como os jornalistas da Veja e dê seu palpite: o que falta na sala de aula para a educação entrar nos trilhos em nosso país?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Teoria das Janelas Quebradas

Por Guilherme

O médico Drauzio Varella é uma das figuras mais conhecidas da medicina brasileira entre o grande público. Suas aparições em programas de TV, seus artigos publicados em vários jornais e na internet, e seus livros, o tornaram uma figura célebre e ajudaram a popularizar ideias importantes sobre ciência e saúde no Brasil.
        O trabalho mais conhecido do médico talvez seja Estação Carandiru, no qual ele relata sua experiência na lida cotidiana com os presos da Casa de Detenção de São Paulo, até então o maior presídio do país. A habilidade que Varella mostrou ao descrever os detalhes da vida carcerária se estende aos mais diversos assuntos, sejam científicos, como quando o autor trata de explicar (com propriedade) os mecanismos da ideia de seleção natural de Darwin, até temas do cotidiano, quando Varella relata as conversas que manteve com um taxista que confessa trair a esposa.
Uma boa amostra do talento de Drauzio Varella pode ser encontrada em A Teoria das Janelas Quebradas (Companhia das Letras, 2010), uma seleção de pequenas crônicas sobre ciência, vida cotidiana e saúde. A teoria do título da obra é também assunto de um dos textos do autor. Desenvolvida por dois cientistas sociais americanos no início da década de 1980, a chamada “teoria das janelas quebradas” é uma ideia que considera os sinais de desordem urbana como fator importante na recorrência de crimes. Locais sujos, pichados e com estruturas quebradas são indícios de abandono e descaso do poder público, de ausência de autoridade, o que pode induzir alguns indivíduos a cometer crimes nesses locais. Programas famosos de combate ao crime, como o de tolerância zero em Nova York, foram baseados nas ideias da teoria das janelas quebradas. Apesar de ter sido adotada como base para a reestruturação de planos de segurança de cidades em diversos países, a teoria ainda é contestada por alguns antropólogos, que afirmam que os bons resultados obtidos em lugares como Nova York estão mais relacionados ao combate às drogas, ao planejamento familiar e à repressão do que à manutenção da ordem de prédios e ruas.
        Além de discutir a teoria das janelas quebradas, Varella aborda outros temas instigantes, como a influência do pensamento na cura de doenças, os textos que escrevem em seu nome, e que fazem grande sucesso na internet, a teoria evolutiva de Darwin e suas implicações na vida humana, e os dramas diários de cidadãos comuns. Tudo isso descrito com a perspicácia que tornou o Dr. Drauzio famoso em nosso país.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Criando memórias na natureza

Por Guilherme

Postei ontem um novo texto no blog do Professor Daniel Blumstein. O post trata das memórias que a paisagem natural cria nas pessoas, e como é importante mantê-la para nosso próprio bem-estar.

O texto está disponível (em inglês) aqui.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Experiências reveladoras e assuntos inacabados

Por Guilherme

Já escrevi aqui sobre De Frente Para o Sol (Agir, 2008), do americano Irvin Yalom, uma obra que fala da visão das pessoas em relação à morte, e explica em que isso pode nos ajudar a entender, e a aproveitar melhor, a nossa vida.
        Um dos principais pontos de Yalom, e motivo desse post, é o que o autor chama de “experiência reveladora”, uma ocasião na qual saímos de nossa zona de conforto e, aparentemente, perdemos o controle de nós mesmos devido a uma enorme tristeza ou a uma mudança brusca em nossa vida. Uma experiência reveladora pode ser a morte de uma pessoa próxima, o término de um relacionamento, a descoberta de uma grave doença, a perda do emprego, uma experiência traumática, entre outras. O pode resultar de positivo em uma situação assim é o que a pessoa faz com esse momento. Experiências reveladoras geralmente provocam a mudança de foco nas prioridades de alguém, assim como propiciam uma revisão da percepção sobre alguns aspectos de sua vida.
        Vivemos em um mundo no qual a palavra “mudança” (no sentido positivo, obviamente) é uma das mais ouvidas. Dizemos que é necessário mudar a maneira como nos relacionamos com as pessoas, mudar nossa percepção sobre o meio ambiente, mudar nossas atitudes no trabalho, no trânsito, com nossa família, com os animais. Mas a mudança nunca acontece.
        Volto a esse tema porque terminei de ler Assuntos Inacabados: a história de um workaholic que optou pela felicidade (Globo, 2011), do jornalista americano Lee Kravitz. Após perder seu emprego, Kravitz se depara com uma situação nova em sua vida: o até então viciado em trabalho, que não tinha muito tempo livre para utilizar com sua família ou amigos, descobriu-se livre para se dedicar a aquilo que quisesse. Kravitz aproveitou a chance e decidiu passar a limpo algumas questões pendentes em sua vida. Ele selecionou dez situações em que havia falhado de alguma maneira para retomá-las e tentar aparar as arestas daquilo que ficou para trás. Alguns dos objetivos de Kravitz eram encontrar uma tia há muito relegada pela família, ligar para um amigo dando-lhes os pêsames pela morte de sua filha, pagar uma dívida de 600 dólares que fora contraída décadas antes, encontrar um amigo que tinha se tornado um monge, falar com um professor que trouxe grande inspiração à vida de Kravitz, e reconciliar seu pai e seu tio. Ao final da jornada, o autor sentiu-se aliviado por conseguir acertar as questões que lhe afligiam há muito tempo. Mais do que isso, Kravitz descobriu que sua vida deveria ter objetivos maiores do que os de seu trabalho.
        Mudanças positivas são como promessas de final de ano, fáceis de serem elaboradas e difíceis de serem levadas a cabo. Não creio que somente uma experiência reveladora como as mencionadas acima possa propiciar uma reavaliação de nossas vidas. Temos os exemplos e o conhecimento do que é melhor fazer. A partir disso, é possível colocar em prática aquilo que temos pensado em ajustar na nossa vida há muito tempo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A contagem para o apocalipse

Por Guilherme

Está prevista para o final do mês de outubro a virada do próximo bilhão na população humana. Ao final de 2011, seremos mais de 7 bilhões de seres humanos na Terra, e esse número chegará, de acordo com previsões otimistas, a 9 bilhões em 2050. As piores previsões indicam que poderemos ser mais de 12 bilhões daqui a 40 anos, o que configuraria uma verdadeira tragédia.
      É possível acompanhar as estimativas do número de habitantes do planeta em tempo real. Podemos assistir ao desenrolar da tragédia (como já escreveu Roger Waters) em tempo real através do site US & World Population Clocks. É interessante acessar o site para ver quantas pessoas vivem na Terra atualmente, e a cada atualização da página o número aumenta em algumas dezenas, ou centenas, de pessoas.
      Tenho lido muito sobre o crescimento populacional humano, e não encontrei sequer UM bom argumento favorável ao aumento de nossa população além do número atual. Ao contrário, todas as grandes mentes que estudam essa questão são unânimes em afirmar que devemos incentivar programas de planejamento familiar eficientes, para que as famílias se organizem de maneira sustentável, e que os pais tenham tempo e recursos suficientes para investir em seus filhos. Em resumo, devemos priorizar a qualidade de vida das pessoas em detrimento da quantidade. É melhor que existam menos indivíduos com boa qualidade de vida do que mais pessoas vivendo em condições deploráveis. Parece simples, mas basta ler alguns dos textos dos links abaixo para ver como na prática isso não é fácil.

Textos de Drauzio Varella sobre planejamento familiar, paternidade irresponsável, e as suas consequências.

Texto do antropólogo americano Garrett Hardin sobre a questão da qualidade de vida X quantidade de habitantes.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Feira do Livro de Antônio Prado é sucesso

Por Guilherme

No último domingo, dia 23/10, terminou a 10ª Feira do Livro de Antônio Prado, evento já consagrado no calendário do Município e que teve como patrona a Sra. Innocencia Bernardi. A Feira, que é o maior evento cultural de Antônio Prado, levou centenas de pessoas à Praça Garibaldi diariamente. Os visitantes puderam assistir a apresentações teatrais, musicais, e palestras com autores consagrados como Airton Ortiz, André Neves (vencedor do Prêmio Jabuti de 2011, na categoria livro infantil, por Obax), Jane Tutikian (patrona da Feira do Livro de Porto Alegre de 2011) e Mário Pirata, entre outros.
O sucesso da Feira se deve ao trabalho primoroso da Secretaria de Educação e Cultura de Antônio Prado e à participação dos livreiros, artistas, escolas e da comunidade pradense.
Meu desafio, por hora, é dar conta de alguns dos quase trinta livros que compramos durante a Feira.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sobre a impaciência

Por Guilherme

Estou relendo alguns trechos de Pergunte a Platão: terapia para quem não precisa de terapia, ou como a filosofia pode mudar a sua vida, de Lou Marinoff (Record, 2006), um livro que procura trabalhar com alguns conceitos filosóficos (bem resumidos, por sinal) para que as pessoas possam obter orientação quando necessitam de alguma ajuda, sem recorrer a psicólogos ou psiquiatras. Marinoff afirma que uma simples mudança no nosso ponto de vista, embasada no conhecimento filosófico, pode ser suficiente para transformar positivamente uma vida.
      Ao longo da obra, Marinoff transcreve algumas frases de pensadores consagrados, como Thoreau, Emerson, Voltaire, Sartre, Platão e Aristóteles. Há uma frase muito interessante do matemático francês Blaise Pascal (1623-1662) que, já naquela época, manifestava a preocupação com um grande problema das pessoas, a impaciência. Penso que ele tinha toda a razão nisso.

A maior parte dos males da vida nasce porque o homem é incapaz de sentar-se em silêncio numa sala.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Frankenstein

Por Natália

Há obras que, mesmo tendo sido escritas há muitos anos, se encaixam tão perfeitamente à realidade atual que justamente por esse motivo merecem ser relidas e apreciadas. Uma dessas obras é Frankenstein, de Mary Shelley, um clássico do terror adaptado inúmeras vezes ao teatro e ao cinema.
Ao contrário do que muitos pensam, Frankenstein não é o monstro, e sim o cientista que o cria. Victor Frankenstein, ao longo de seus estudos, se especializa numa técnica que devolve a vida a organismos mortos. O fascínio de Frankenstein por essa técnica torna-se tão grande que ele, juntando pedaços de vários corpos, cria o que se assemelha a um ser humano. O resultado da obra deixa o cientista enojado, e ele abandona o monstro no laboratório. A criatura, que já havia ganhado vida, sai de seu esconderijo, com raiva de seu criador e com medo do mundo lá fora.
        Quando o boato de que um ser estranho vinha apavorando a vila, o cientista retorna ao laboratório, pois sabe quem é o responsável por causar tanto pavor. Nesse momento, porém, o monstro já está vivendo no bosque, contentando-se em observar (sem ser notado) a calma rotina de uma família. É com o vaivém dessa família que a criatura aprende a ler e fica sabendo das notícias do mundo – e é olhando para o próprio reflexo na água do rio que se dá conta de sua monstruosidade.
        O ser, que até então vivia tranquilamente às escondidas, é finalmente avistado por uns moradores da região, que querem matá-lo. Irritado com isso, o monstro revolta-se com aquele que lhe causou todo esse sofrimento: seu criador. Agora, criador e criatura tentam se encontrar – o primeiro, para acabar com o segundo; o segundo, para destruir o primeiro.
         Frankenstein (L&PM, 2001), de Mary Shelley, foi publicado em 1818 e é resultado de uma aposta entre a autora e Percy Bysshe Shelley, Lord Byron e John Polidori, outros escritores ingleses, para ver quem conseguia escrever a melhor história de horror. Os três outros autores desistiram do projeto, mas Mary Shelley prosseguiu – ela inclusive chegou a sonhar com cenas da trama. Sua história, então, tornou-se muito conhecida – e ainda hoje é considerada como um dos melhores títulos do seu gênero.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Experiências reveladoras e mudanças

Por Guilherme

Acabei de postar um texto no blog Eating our way to civility, do Professor Daniel Blumstein. O texto fala sobre mudanças e experiências reveladoras. Em breve, postarei aqui sobre o mesmo tema.
Para ler o texto no blog de Blumstein, clique aqui.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O mau filho a casa torna

Por Guilherme

Que a educação é tratada como uma brincadeira no Brasil, isso não é novidade para ninguém. Enquanto nos altos escalões se discutem números e índices, questões como a qualidade de ensino, a valorização do professor, a responsabilidade das famílias com a educação das crianças, e a disciplina na sala de aula não são tratadas seriamente. E isso já se reflete nas escolas de todo o país, e na sociedade também. Para usar uma expressão do nobre deputado Tiririca (como é difícil falar sério no Brasil!), algumas escolas são ante-salas do manicômio. Nelas se juntam problemas das mais diversas ordens, e o professor, sempre ele, deve abraçar tudo e fazer o melhor possível.
        A Terceira Lei de Newton, ou princípio da ação e reação é uma metáfora perfeita da situação social de nosso país. Governo e sociedade não se interessam com a educação brasileira, e as nossas escolas e universidades (com a benção das famílias) devolvem à sociedade maus cidadãos e maus profissionais. É o princípio do bateu, levou.
        O caso mais recente da aplicação da Terceira Lei no Brasil aconteceu no Amapá, um dos lugares mais quentes de nosso país tropical. Lá, uma escola foi projetada de modo tão inteligente, e moderno, que as salas de aula substituem a sauna na manutenção da boa saúde dos alunos. A péssima circulação de ar mantém a temperatura acima dos 40 graus nas salas, fazendo com que as crianças, e professores, derretam durante as aulas. A solução foi encurtar o período das aulas, ou procurar locais como corredores e a sombra de árvores para que as lições sigam. É bom lembrar que aqueles que projetaram a escola há alguns anos também estiveram nos bancos de uma instituição de ensino fundamental e médio. Pior: depois disso passaram no vestibular, formaram-se no ensino superior e, em uma demonstração de gratidão pela ótima formação que sempre tiveram, resolveram devolver na mesma moeda. Justo, não?


Mais informações sobre a história estão no site Todos Pela Educação. Clique aqui para ler.

Divulgando ciência

Por Guilherme

O Legulus Cursos de Difusão Cultural, uma instituição paulista que oferece cursos de divulgação científica e de redação, mantém um periódico semestral online, chamado Revista Leitura e Escritura, que é um veículo dedicado à divulgação da ciência. Os textos da revista tratam de diversos assuntos que vão da ciência à literatura, em uma linguagem acessível aos leigos no assunto, tornando esse espaço ideal para curiosos e para professores que buscam textos para utilizar em sala de aula.
        A revista está no terceiro número, que pode ser acessado aqui. Na edição anterior, que pode ser lida aqui, há um texto de minha autoria, sobre o que os bonobos (grandes primatas semelhantes aos chimpanzés) nos ensinam sobre ciência.
        O pessoal da Legulus também possui um blog, o TransCiências, que segue a mesma linha de assuntos da revista.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Em Busca de Sentido

Por Guilherme

O médico e psiquiatra austríaco Viktor Frankl foi um dos mais proeminentes psicoterapeutas do século passado. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, Frankl teve a infelicidade de testar alguns dos métodos da logoterapia (abordagem criada por ele, e que explora o sentido da vida de seus pacientes) na própria pele, quando passou três anos como prisioneiro de quatro campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Livre depois do final da Guerra, Frankl tornou públicas as suas experiências em um breve relato chamado Em Busca de Sentido (Editoras Vozes e Sinodal, 2008), lançado originalmente em 1946 e que se tornou um bestseller mundial nas décadas seguintes.
        Apesar de curto, Em Busca de Sentido é um livro denso, que mostra como Frankl e seus colegas sobreviviam à maldade dos soldados alemães e de seus próprios companheiros do campo. Os capítulos falam sobre a recepção no campo de concentração, a vida nesses locais, e a vida após a libertação. Como psicoterapeuta, Frankl enfoca na capacidade que o ser humano tem de sobreviver às terríveis adversidades quando vê algum sentido naquilo que ele faz ou naquilo a que é submetido. E é sobre o sentido da vida um dos melhores trechos de sua obra:

O que se faz necessário aqui é uma viravolta em toda a colocação da pergunta pelo sentido da vida. Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós. Falando em termos filosóficos, poder-se-ia dizer que se trata de fazer uma revolução copernicana. Não perguntamos mais pelo sentido da vida, mas nos experimentamos a nós mesmos como os indagados, como aqueles aos quais a vida dirige perguntas diariamente e a cada hora – perguntas que precisamos responder, dando a resposta adequada não através de elucubrações ou discursos, mas apenas através da ação, através da conduta correta. Em última análise, viver não significa outra coisa senão arcar com a responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento da exigência do momento.”

domingo, 9 de outubro de 2011

Aula chata é legal

Por Guilherme

Além de posts sobre livros, são comuns as postagens sobre assuntos relacionados à educação em nosso blog. E o texto Aula chata é legal, escrito pelo professor Cassionei Petry em seu blog, e publicado também no jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, é uma leitura interessantíssima para quem é professor, ou então estuda ou trabalha com temas educacionais.
Invista alguns minutos de seu tempo, clique aqui e leia o texto. E aproveite para dar uma olhada no blog de Petry, porque vale a pena.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Eating our way to civility

Por Guilherme

Tive a satisfação de encontrar o biólogo, e professor da UCLA, Daniel Blumstein em um congresso sobre comportamento animal realizado em Montevidéu nesse ano. Conhecia Blumstein através de alguns de seus artigos e sabia que ele havia sido o editor da mais importante revista científica sobre comportamento animal do mundo, a Animal Behavior.
        Nos intervalos entre as palestras e conferências, pude trocar algumas ideias com o Professor Blumstein a respeito de comportamento animal, meio ambiente, educação ambiental e a situação da educação nos EUA e no Brasil. Li seu The Failure of Environmental Education (escrito em parceria com Charles Sayan) e fiquei feliz por saber que Blumstein é um cientista como poucos, um cara que trabalha e se esforça para que ocorram melhorias ambientais e educacionais na sociedade americana, e que procura, com suas pesquisas, enfrentar problemas da vida real.
        No final do congresso de Montevidéu, Blumstein me convidou para escrever algumas coisas para seu blog Eating our way to civility, que trata de temas ambientais e educacionais (e culinários!). E, honrado com o convite, mandei meu primeiro texto para seu blog. Quem quiser conferir, clique aqui.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Feira do Livro em Antônio Prado

Por Guilherme

Entre os dias 16 e 23 de outubro ocorrerá a décima edição da Feira do Livro de Antônio Prado. Além da presença de diversos escritores, a Feira trará outras atrações artísticas, como apresentações musicais e de teatro. O evento acontece na Praça Garibaldi e se estende às escolas do Município, que receberão os escritores convidados para um bate-papo durante o período da Feira.
O evento é organizado pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, conta com o apoio da Secretaria da Saúde e das Livrarias Do Aluno e Mister Ju.


sábado, 1 de outubro de 2011

Problemas com os comentários no blog

Por Guilherme

Pessoal! Recebi algumas mensagens de que há problema no envio dos comentários para o blog. Fiz alguns testes e percebi que não é possível enviar comentários quando se utiliza o Internet Explorer, mas não há problema algum quando se utiliza o Google Chrome. Não testei o envio com o Firefox, e não sei qual a causa do problema com os comentários vindos de usuários do Explorer.
Espero que isso se resolva em breve.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Novo livro de Marcos Kirst

Por Guilherme


O amigo Marcos Fernando Kirst está lançando Miseri Coloni: 30 anos de palco (Editora do Maneco), obra na qual conta a história do grupo teatral caxiense que encena peças em dialeto vêneto. Ouço o nome “Miseri Coloni” desde que era criança, pois meus pais já assistiram a algumas apresentações do grupo, conhecem seus participantes, e seguidamente comentavam as passagens cômicas das peças, especialmente de Naneto Pipetta.
        Marcos Kirst estará na sala de autógrafos da Feira do Livro de Caxias do Sul (que ocorre na praça Dante Alighieri) no sábado, dia 01/10, para lançar a sua nova obra. O evento inicia às 17h e vai até às 18h. Para quem mora em Caxias do Sul ou na região da serra gaúcha, e gosta de livros, a programação para sábado está atraente: visite a Feira do Livro, caminhe pela praça, dê uma passada nas bancas, e depois vá prestigiar o lançamento de Miseri Coloni, peça seu autógrafo e troque algumas ideias com Kirst.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A docência e a expansão do conhecimento

Por Guilherme

Eu não conhecia o cientista húngaro Albert Szent-Györgyi até ver o logotipo do Google formado por um conjunto de laranjas há algumas semanas. Fiquei curioso, cliquei no logotipo e fui direcionado a uma página com informações sobre Szent-Györgyi e suas pesquisas com a vitamina C. Em 1937, o cientista ganhou o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia pela descoberta dessa vitamina e de mecanismos do ciclo do ácido cítrico, o ciclo de Krebs. Lendo sobre o trabalho do cientista, cheguei a um artigo que Szent-Györgyi escreveu para a revista americana Science em 1964. No texto, é possível perceber a visão humanista de um homem da ciência quando escreve sobre os livros, a educação, a escola, o estudo da história e, fundamentalmente, sobre o papel dos professores na sociedade.

O texto de Szent-Györgyi pode ser lido aqui.