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sexta-feira, 9 de março de 2012

As Ideias de Darwin (3): "Vocação: Rebelde"

Por Guilherme

Você tem irmãos ou irmãs? Se a resposta for positiva, há duas outras questões a considerar: Você é o filho mais velho, ou o filho mais novo da família? É o mais conservador ou o mais rebelde?
      Muitos pesquisadores têm elaborado teorias a respeito da diferença de personalidade entre membros da mesma família. Tipo de criação, experiências na infância, herança genética, todos esses aspectos já foram usados para explicar porque pessoas próximas, como irmãos, podem ser tão distintas  quando se considera o seu comportamento.
        Usando os trabalhos de Darwin sobre seleção natural, e de cientistas modernos sobre competição por recursos e investimento parental, o historiador da ciência Frank Sulloway surgiu com uma ideia intrigante: a diferença de personalidade entre irmãos pode ser explicada pela ordem do nascimento.
      Para entender melhor a questão, vamos pensar um pouco sobre uma família de animais não-humanos, e cães selvagens podem fornecer um bom exemplo. Imagine que você seja um filhote da primeira ninhada de sua mãe, e com você nasceram dois ou três irmãos. Você tem toda a atenção de sua mãe, recebe muitos recursos alimentares, é protegido, tem um bom espaço para viver, tem todos os privilégios possíveis de um primogênito. Então, alguns meses após o seu nascimento, sua mãe tem outra ninhada. A coisa complicou para você, pois todo o tratamento VIP recebido vai para seus irmãos mais novos, e isso é fácil de entender: você já está grande, pode conseguir alimento por conta própria, pode se defender e viver muito bem sem o auxílio de sua mãe. A prioridade de recursos deve ser dos filhotes recém nascidos, pois estão mais vulneráveis e precisam de proteção e atenção da mãe. Como cães não costumam reclamar, a vida em matilha segue em frente.
      Sulloway utilizou-se do princípio da competição pelo uso de recursos para elaborar sua teoria sobre a diferença de personalidade. O que está descrito acima, com cães selvagens, vale também para nós, humanos. Por acaso, você nunca viu uma criança fazer birra porque entende que seu irmão recebeu um presente melhor, ou foi beneficiado em algo?
      Um filho primogênito, de acordo com Sulloway, tende a ser mais conservador, pois defende seu status quo de privilegiado. Desse modo, seu pensamento está mais alinhado ao de seus pais, e “mudança” é uma palavra não muito agradável para ele. Por outro lado, o caçula tem que lutar para mudar a dinâmica familiar, conseguindo recursos que antes eram dispensados para seu irmão mais velho. Consequentemente, filhos mais novos têm uma maior tendência à rebeldia e à busca por mudanças.
      A parte mais interessante da história é que a rebeldia e o conservadorismo dos irmãos não se restringem ao ambiente familiar. Frequentemente, pessoas que iniciaram grandes revoluções, como Darwin e Copérnico, e outros pensadores, como Voltaire, são os filhos mais novos da família. Filhos mais velhos, em contraste, tendem a manter posições políticas menos radicais, e a lutar pela manutenção da estrutura social.
      O trabalho de Frank Sulloway sobre a relação entre ordem de nascimento e personalidade está em Vocação: Rebelde (Record, 2000). O livro tem muitas passagens curiosas e instigantes, apesar de algumas partes (especialmente a seção onde o autor descreve os dados) serem um pouco maçantes. Mesmo assim, a leitura é recomendada, principalmente para quem se interessa pelo tema ou trabalha com essas questões.

OBS: Existem muita objeções e contestações ao trabalho de Sulloway. Apesar disso, gosto da ideia dele porque me parece bem familiar. Sou filho primogênito e mais conservador do que minha irmã (aliás, ela gosta muito de ressaltar isso, o que também pode ser um sinal de rebeldia do filho mais novo).

As Ideias de Darwin é uma seção do Página Virada que discute livros inspirados nas ideias evolucionistas do naturalista inglês.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As Ideias de Darwin (2): A Sobrevivência dos Mais Doentes

Por Guilherme

Se a evolução através do processo de seleção natural nos trouxe até aqui, como é possível que ainda sejamos animais sujeitos a inúmeras doenças, e não máquinas biológicas perfeitas? A resposta, de acordo com Sharon Moalem e Jonathan Prince, é que muitas das moléstias que nos afetam atualmente ajudaram a moldar nosso organismo durante nossa caminhada evolutiva.
        Em A Sobrevivência Dos Mais Doentes: um estudo radical das doenças como fator de sobrevivência (Campus, 2007), Moalem e Prince vão além do famoso exemplo da relação entre a distribuição geográfica da malária e a ocorrência de anemia falciforme nas populações humanas desses locais, que parece ser o único caso desse tipo conhecido por autores de livros de biologia do Ensino Médio brasileiro. Apesar de a clássica relação entre malária e anemia falciforme também ser tratada na obra, outros temas médicos e biológicos são discutidos. O espirro, por exemplo, é uma espécie de mecanismo de defesa humano mas, acima de tudo, uma estratégia viral de propagação. Desse modo, as duas estratégias evoluíram em conjunto. Nós, espirrando, e os vírus se aproveitando disso para atingir outro organismo. O sistema de reprodução e dispersão do terrível verme-da-Guiné, a distribuição de pelos no corpo humano, a variação na tolerância ao álcool entre diferentes grupos humanos, o aparecimento do câncer e a morte, entre outros, são assuntos presentes o livro.
        A Sobrevivência Dos Mais Doentes é uma obra de leitura fácil e de conteúdo esclarecedor. Tratando das doenças sob um enfoque evolucionista, Moalem e Prince nos mostram como as ideias de Darwin se estenderam muito além daquilo que o próprio cientista inglês imaginava quando publicou A Origem Das Espécies. É impossível entender qualquer tema biológico sem discutir a evolução dos organismos vivos. Moalem e Prince escrevem: “a evolução não acabou – está ao nosso redor, ocorre o tempo todo.” Por isso, entender os mecanismos básicos da biologia evolucionista não significa apenas saber como chegamos até aqui, mas nos permite elaborar algumas previsões sobre o que pode acontecer conosco em breve.

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quarta-feira, 30 de março de 2011

As Ideias de Darwin (1): O Animal Moral

Por Guilherme

O termo “psicologia evolucionista” é relativamente recente, e trata da área da psicologia que estuda o comportamento humano com um enfoque da biologia evolutiva. Por exemplo, ao estudar a agressão, o psicólogo evolucionista investiga como esse comportamento nos permitiu sobreviver no ambiente ancestral, quando enfrentávamos predadores muito mais fortes do que nós e ainda competíamos por alimento e parceiros. Certo nível de agressividade era desejado para um humano, pois se não estivéssemos preparados para os violentos desafios impostos pelo ambiente acabaríamos perecendo, e não estaríamos aqui para contar essa história. Do mesmo modo, em um ambiente no qual os alimentos eram escassos, a procura por itens que proporcionassem grande quantidade de energia era grande. Isso nos tornou “viciados” em carboidratos. Hoje, os níveis de açúcar em alimentos industrializados são muito altos, mas mesmo assim continuamos a consumi-lo em uma quantidade muito maior do que a necessária. Como não gastamos tanta energia como nossos ancestrais, estamos criando gerações de obesos. Comportamentos como a agressividade e o desejo por carboidratos foram transmitidos através de gerações, moldados pela seleção natural, e hoje encontram-se enraizados no Homo sapiens.
      Um dos pioneiros no estudo do comportamento humano e animal foi Charles Darwin. Em sua obra A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (a última edição brasileira foi publicada pela Companhia de Bolso em 2009), Darwin escreveu sobre a universalidade de certas condutas em nossa espécie. Algumas expressões de comportamentos são facilmente identificadas por pessoas de todas as culturas do mundo, e basta olhar uma foto para perceber se um indivíduo está triste, alegre ou com raiva. Isso significa que esses comportamentos estão naturalmente presentes em pessoas de todos os lugares do mundo, e não dependem de aprendizado. Perspicaz como era, Darwin percebeu que a universalidade de comportamentos era um indício de uma ancestralidade comum, para a nossa espécie e para outras espécies animais. Mais uma vez, a ideia de evolução estava ganhando um firme alicerce.
      Um clássico moderno que discute as origens evolutivas de nosso comportamento é O Animal Moral: por que somos como somos – a nova ciência da psicologia evolucionista (Campus, 2005), do jornalista americano Robert Wright. Nele, o autor analisa diversas facetas de nossa conduta e discute como o processo de seleção natural poderia tê-las moldado. Um dos temas mais extensamente analisados por Wright é a infidelidade humana, e a capa da última edição brasileira do livro não deixa dúvida disso. Também são analisados os conflitos sociais, as relações familiares e as amizades, o ciúme, a ética e a violência humana. O livro é destinado ao público leigo no assunto, e a curiosidade que o tema desperta e o estilo de escrita de Wright facilitam a leitura.
      No decorrer de O Animal Moral, o leitor poderá se perguntar algumas vezes: o que será que define nosso comportamento, nossos genes ou o ambiente ao nosso redor e a influência social? A resposta para essa pergunta é simples: nem um, nem outro, isoladamente. Nenhuma pessoa é um produto puro de seus genes, e ninguém é uma tabula rasa, na qual qualquer coisa pode ser marcada pelo ambiente. O que somos é uma mistura de nossos genes e do ambiente no qual crescemos e vivemos. A seleção natural nos moldou para sobrevivermos nos ambientes em que evoluímos. E chegamos até aqui, relativamente sãos e salvos, com uma capacidade cerebral incrível, mesmo para um grande primata. Tudo isso nos transformou no único animal que pode se dar ao luxo de discutir questões do tipo “por que somos como somos?

As Ideias de Darwin é uma seção do Página Virada que discute livros inspirados nas ideias evolucionistas do naturalista inglês.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

As ideias de Darwin

Por Guilherme

Nas próximas semanas, publicaremos posts sobre livros de diferentes áreas do conhecimento, como psicologia, biologia, medicina e filosofia, que possuem um ponto em comum: foram todos inspirados nas ideias de seleção natural de Charles Darwin.
O vídeo abaixo, chamado Dancem, Macacos, Dancem, foi produzido originalmente pelo americano Ernest Cline, e mostra a nossa vida sob o ponto de vista darwiniano. Afinal, como escreveu o jornalista americano Robert Wright, também somos animais, mas a nossa espécie é a dos "animais morais".