sábado, 27 de outubro de 2012

"A lucidez de Lucélia", por Marcos Kirst

“A lucidez de Lucélia” é o título do texto publicado pelo amigo Marcos Kirst na edição da última sexta-feira do jornal Pioneiro. Kirst assistia à entrevista de Lucélia Santos no programa Roda Viva, na TV Brasil, quando ouviu da atriz algo que chamou a sua atenção:

Que espécie de sociedade de consumo desejamos, afinal? Os brasileiros, travestidos de consumidores, estão virando cidadãos acéfalos, burros, aculturados, superficiais, ocos. Deveríamos estimular e incentivar o surgimento de uma classe consumidora de cultura. O que eu desejo para as pessoas é isso: mais cultura, mais arte, mais leitura, mais natureza.

Simpatizo com a ideia da atriz, e também ecoo as palavras de Kirst, a respeito das coisas que os cidadãos de nosso país têm valorizado, que formam uma espécie de espelho daquilo que nós, brasileiros, somos em essência:

Mas ao mesmo tempo em que gastam e consomem, os integrantes dessa estrondosa maioria de cidadãos (acompanhados pelas demais classes sociais brasileiras) se afastam dos processos de edificação pessoal só possíveis de serem conquistados por meio da educação, da cultura e da arte.

Somos um reflexo da histórica negligência governamental (e social)  com a educação e o aprimoramento pessoal. Hoje, o que faz as manchetes dos jornais é o desempenho positivo da economia brasileira, o que, por si só, é muito bom. Péssimo é saber que, apesar de nos desenvolvermos economicamente, ainda não conseguimos sair do lamaçal da ignorância e da má-educação, e há poucos indícios de que sairemos dele em breve. Diferentemente disso, creio que há boas chances de as coisas se tornarem ainda piores - isso se realmente for possível vermos algo mais triste que isso ou isso.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Zona Quente: uma história terrível e real


Era o primeiro dia do ano de 1980, e um francês de 56 anos passeava pela região do Monte Elgon, um vulcão não-ativo localizado na fronteira entre Uganda e o Quênia. Charles Monet – como o francês foi posteriormente chamado pelo jornalista Richard Preston – estava acompanhado por uma jovem africana, e havia combinado com ela de passar alguns dias no local, apreciando suas incríveis paisagens e vendo animais selvagens. Manadas de elefantes costumam entrar na caverna Kitum, localizada no Parque Nacional do Monte Elgon, para que os animais raspem suas presas de marfim nas paredes da caverna e depois ingiram o sal liberado no processo. A caverna serve também como local de passagem para hienas, antílopes e búfalos, e é residência de morcegos, pequenos roedores e insetos. E este foi o local onde Monet provavelmente foi infectado por um agente mortal.
    Uma semana depois da viagem ao Parque, Monet estava de volta à sua cabana no Quênia, pronto para retomar sua rotina como encarregado do maquinário que bombeava água para plantações de cana de açúcar. No entanto, não se sentia bem. Inicialmente, teve dor nos olhos e nas costas, além de desconforto muscular. Três dias depois, estava vomitando e sentindo náuseas. Sua pele mudara de cor, seu semblante estava diferente, e Monet parecia terrivelmente doente. Encontrado por colegas de trabalho no chão de sua cabana, Monet foi encaminhado a um hospital de Nairóbi, a capital queniana. Sua situação havia piorado muito: seus olhos estavam avermelhados, sua face parecia rígida, e ele vomitava sangue em grande quantidade.
    No hospital em Nairóbi, o francês entrou em colapso. Alguns de seus órgãos internos estavam se esfacelando, e o francês morreria em breve. Antes disso, foi atendido por um jovem médico queniano. Na maca, Monet não parava de vomitar, e o sangue expelido por sua boca atingiu o rosto do médico. Era o fim para o francês, e poderia ser o início do fim para o médico que o atendeu.
    Shem Musoke, o médico queniano, começou a apresentar os mesmos sintomas iniciais de Monet cerca de uma semana depois de ter tido contato com o sangue de seu paciente. Ele continuava trabalhando e não sabia exatamente com o que tinha sido infectado. Imaginava que pudesse ser malária ou febre tifóide. Uma equipe enviou o sangue do médico para exames nos Estados Unidos. Resultado: ele havia sido contaminado pelo Marburg, um filovírus semelhante e com sintomas indistinguíveis aos do Ebola. Felizmente, o corpo de Musoke se recuperou da infecção, e o médico sobreviveu ao ataque de um dos vírus mais mortais do planeta.
    As origens dos mortais Marburg e Ebola, assim como a luta de pesquisadores para conter os vírus durante surtos na África, e em um laboratório americano, são a base de Zona Quente: uma história terrível e real (Rocco, 1995), de Richard Preston. O autor entrevistou cientistas, militares e médicos, além de pacientes atingidos pelos chamados “vírus quentes”, agentes altamente infecciosos e letais. O panorama apresentado por Preston é preocupante: vírus altamente transmissíveis estão acomodados em hospedeiros assintomáticos (supõe-se que o Ebola multiplique-se dentro do organismo de morcegos), nas florestas tropicais do planeta. A infecção de um único ser humano pode ser o gatilho para uma tragédia de grandes proporções, e a África tem sido testemunha disso. No momento em que escrevo este post, já se confirmou a infecção de 40 pessoas por Ebola S, a forma menos letal do vírus, em um novo surto em Uganda. Dessas, 31 morreram. Pensar no que o Ebola faz com o organismo de um ser humano, a facilidade com que pode ser transmitido de uma pessoa a outra, e a possibilidade de ser levado a diferentes países dentro do corpo de alguém é algo preocupante. E é o que faz o livro de Preston ser mais assustador do que as sombrias obras de ficção.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Se pecados existem de fato, eis um deles

Por Guilherme

Política, no Brasil, sempre teve um apelo semelhante ao do futebol. Você é seguidor do partido A, então vota nele mesmo que ponham uma pedra como seu candidato. Se você milita pelo partido B ou C, faz o mesmo.
    Ultimamente, a paixão pela política me parece ter maior impacto nas pessoas. Você, que sempre militou pelo partido A porque defendia determinadas causas (alianças políticas entre partidos com programas semelhantes, ou então o combate à corrupção em todas as esferas do poder, por exemplo), começa a dissimular e inventar explicações absurdas quando seu partido, A, vence as eleições e age de maneira exatamente oposta ao que sempre pregava em suas campanhas e em suas cartilhas. Você, bom cordeirinho, passa a ser extremamente seletivo, e peneira as coisas que dizia antigamente até que seu novo discurso seja minimamente condizente com sua prática. Mas não pense que o processo ocorre sem qualquer dor: você também precisa racionalizar e organizar seus mecanismos comportamentais de defesa para explicar, ou pelo menos tentar, como largou de mão aquilo que o caracterizava antes. Explicações como “todo mundo faz”, “é intriga da imprensa”, “é golpe da oposição”, etc., que você sempre execrou em seus adversários, agora são usadas por você. Ah, e também vai precisar negar ter dito muita coisa. E em relação àqueles a quem você chamava de “ladrões” há pouco tempo? Não há problema algum, pois o tempo cura tudo (e não era bem isso que você queria dizer quando usou esse termo).
    A cabeça de um militante político é um terreno tão fértil à manipulação mental quanto a de um seguidor de uma seita. O que Jim Jones fez na década de 1970 poderia muito bem ser repetido hoje, em nome de um partido, de uma causa ou de um líder. Quem já leu A Revolução dos Bichos, de George Orwell, tem uma ideia razoável de como o processo ocorre, com uma lentidão e uma perversidade impressionantes.
    Estou lendo Verdade: um guia para os perplexos (Civilização Brasileira, 2006), de Simon Blackburn, uma discussão sobre se é possível termos conhecimentos sólidos sobre as coisas, ou se devemos encarar a verdade como algo relativo (Blackburn argumenta a favor da primeira opção). O autor cita o filósofo inglês William Clifford, que viveu no século XIX, e já naquela época era uma das vozes que nos advertia sobre o perigo da fé cega – um pecado contra a humanidade, como ele sabiamente afirmava:

Se um homem, que mantém uma crença que lhe foi ensinada na infância ou imposta mais tarde, rejeita e afasta quaisquer dúvidas que surjam em sua mente sobre ela, propositadamente evita a leitura de livros e a companhia de homens que a questionam ou discutem e encara como ímpias as perguntas que irão perturbá-la – a vida desse homem é um grande pecado contra a humanidade.

domingo, 14 de outubro de 2012

A Desobediência Civil

Por Guilherme

Em 1846, o americano Henry David Thoreau foi preso por uma noite por recusar-se a pagar os impostos que devia ao governo americano. O motivo da recusa era que Thoreau pensava que seu dinheiro ajudaria a financiar a guerra que os Estados Unidos travavam com o México, além da manutenção de escravos em fazendas americanas. Em relação ao governo, Thoreau era adepto da máxima “o melhor governo é o que menos governa”, que levaria a “o melhor governo é o que absolutamente não governa”, considerando que tivéssemos uma sociedade composta por homens de “virtude”, como Thoreau costumava escrever.
    A consciência daquilo que é certo e errado, dizia Thoreau, é a nossa melhor arma contra indivíduos que usam o governo como seu instrumento (qualquer semelhança com o que vemos hoje, no Brasil e em diversos lugares do mundo, não é mera coincidência). Contra as injustiças, afirmava o filósofo, é necessário fazer algo, por menor e menos impactante que possa parecer. A Desobediência Civil, escrita em forma de um curto ensaio, foi a maneira de Thoreau se manifestar, não só contra o governo, mas contra o estilo de vida de sua época, a hipocrisia, o interesse próprio e a complacência de seus contemporâneos em relação a práticas como a corrupção. Nunca li algo tão poderoso e contundente em menos de 40 páginas. E atual também, apesar de escrito em 1849.

Falando em termos práticos, os adversários de uma reforma em Massachusetts não são 100 mil políticos do Sul, mas 100 mil comerciantes e fazendeiros daqui, que estão mais interessados no comércio e na agricultura do que na humanidade, e não estão preparados para fazer justiça aos escravos e ao México, custe o que custar.

Há muitos que, considerando-se filhos de Washington e Franklin, ficam sentados de braços cruzados e dizem não saber o que fazer, e nada fazem; muitos que até mesmo subordinam a questão da liberdade à questão do livre-comércio, e que lêem tranquilamente, depois do jantar, as cotações do dia junto com as notícias vindas do México, e possivelmente adormecem sobre ambas. Quanto vale um homem honesto e patriota nos dias de hoje? Eles hesitam, lamentam e às vezes reivindicam; mas não fazem nada a sério e para valer. Esperarão, com boa vontade, que outros curem o mal, para que eles não mais tenham que lastimá-lo. Na melhor das hipóteses, eles se limitarão a dar um voto fácil, um débil apoio e um desejo de boa sorte aos corretos, quando a ocasião se apresentar.

Não é obrigação de um homem, evidentemente, dedicar-se à erradicação de um mal qualquer, nem mesmo do maior que exista; ele pode muito bem ter outras preocupações que o absorvam. Mas é seu dever, pelo menos, manter as mãos limpas e, mesmo sem pensar no assunto, recusar o apoio prático ao que é errado. Se eu me dedico a outros planos e atividades, devo antes de mais nada garantir, no mínimo, que para realizá-los não estarei pisando nos ombros de outro homem. Devo sair de cima dele para que também ele possa perseguir seus objetivos.

    Recomendo a leitura da última edição brasileira de A Desobediência Civil, lançada em 2012 pela Companhia das Letras – Penguin. Além do manifesto A desobediência civil, a obra conta com outros quatro textos, entre eles o ótimo Vida sem princípios, ensaio no qual Thoreau crítica a ideia de que o trabalho deve ser uma finalidade em nossas vidas, e elogia a vida contemplativa e mentalmente sã.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Coisas de um Brasil brasileiro

Por Guilherme

- “O povo não está preocupado com isso (o mensalão). O povo está preocupado é se o Palmeiras vai cair e se o Fernando Haddad vai ganhar a eleição.Do ex-presidente Lula, sintetizando com perfeição como o brasileiro pensa e o tipo de coisa que valoriza.

- Chico Xavier foi eleito o “Maior brasileiro de todos os tempos”, recebendo mais de 71% dos votos em uma pesquisa popular. Não discuto os méritos de Xavier, mas para um país que teve pessoas como Carlos Chagas e Santos Dumont, a grande votação de Chico Xavier pode ser um sinal de quanto desconhecemos outros grandes heróis do país.

- Mais de 20% da população brasileira é composta por analfabetos funcionais, ou seja, indivíduos que não conseguem entender direito o que leem. Em números, são mais de 30 milhões de pessoas nessa condição. Muitas delas estão nas universidades.

Tudo se relaciona”, escreveu Robert Pirsig em Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas, ao afirmar que a conduta das pessoas em diferentes circunstâncias do cotidiano era um indicativo de seu caráter e do tipo de pessoa que cada um de nós é. A ideia de Pirsig se aplica, perfeitamente, também à sociedade. Tudo, de fato, se relaciona.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Em Silêncios

Por Guilherme

No último sábado, dia 06, estive na Feira do Livro de Caxias do Sul para o lançamento de Em Silêncios, 12° livro do escritor e jornalista – e amigo – Marcos Kirst.
    Vencedor do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul, promovido pela Biblioteca Pública Municipal Dr. Demétrio Niederauer, Em Silêncios é também o primeiro livro de poemas de Kirst. E sua estreia em um novo gênero literário não poderia ser melhor: a obra traz ideias primorosas em forma de curtos poemas, que versam sobre aquilo que o silêncio pode nos dizer, ensinar ou esconder de nós. Silêncio, aqui, deve ser entendido não somente como a ausência de som, mas também como “um átimo de ensimesmamento originado por algum estímulo exterior ou por alguma súbita epifania da alma” – algo que os livros são pródigos em nos proporcionar.
    Em Silêncios é uma obra de leitura muito agradável, recomendada não somente a quem aprecia o gênero poético, mas também a quem busca nos livros ideias inspiradoras, daquelas que nos fazem interromper a leitura, baixar o livro e pensar sobre o que acabamos de descobrir. Em um mundo no qual a correria e o constante barulho são tão comuns a ponto de estranharmos a quietude e a tranquilidade, refletir sobre o silêncio e aprender com ele representa uma oportunidade de ouro.

Uma pequena amostra do talento de Kirst está em Perda, um dos meus poemas favoritos de Em Silêncios:

Engoliu em seco
e disse “sim”.
Olhou com ódio
as costas do outro.

Mataria.

Antes,
morreu algo
dentro de si.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tony Bellotto e os kits “ateu” e “morte”

Por Guilherme

No Blog da Companhia das Letras, o Titã Tony Belloto escreveu um post sobre seu ateísmo discretamente militante e sua ideia de criar um “kit ateu” literário para presentear amigos, em uma tentativa de lutar “contra o sectarismo, ofensa à inteligência, abuso da paciência e exploração da ignorância que muitas vezes as religiões promovem.” O kit de Bellotto inclui obras como Deus, um Delírio, de Richard Dawkins, Deus Não é Grande, de Christopher Hitchens, e Carta a Uma Nação Cristã, de Sam Harris. Bellotto também cita O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan, Aprender a Viver, de Luc Ferry, e Por Que Não Sou Cristão, de Bertrand Russell.
    Após as leituras de Últimas Palavras, de Christopher Hitchens, e Patrimônio, de Philip Roth, Bellotto começou a elaborar o “kit morte”, com obras que trazem reflexões sobre o final de nossas vidas, e sobre o que fizemos delas no decorrer de nossas existências.
    Simpatizei com o texto de Bellotto por também ser ateu e ler com alguma frequência obras que tratem de ateísmo, assim como obras que tenham como tema a morte e a possibilidade de uma boa vida antes dela, aqui mesmo na Terra. Adicionaria ao “kit ateu” as obras O Espírito do Ateísmo, de André Comte-Sponville, e Tratado de Ateologia, de Michel Onfray. Ao “kit morte”, eu acrescentaria O Filósofo e o Lobo, de Mark Rowlands, De Frente Para o Sol, de Irvin Yalom, e recomendaria a leitura de “O cérebro do meu pai”, quarto capítulo de Como Ficar Sozinho, livro de ensaios de Jonathan Franzen.

“A grande diferença entre um ateu e um crente talvez seja que os ateus, ao contrário dos crentes, paradoxalmente acreditam na morte”, afirmou Bellotto no final de seu texto. Eu acrescento: e por acreditar na morte, muitos ateus entendem a profunda importância do verbo viver.

Para ler o texto do Titã, clique aqui.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Conversando com Simon Blackburn

Por Guilherme

Professor na Universidade de Cambridge e na Universidade da Carolina do Norte, o inglês Simon Blackburn é considerado uma das figuras mais importantes na filosofia contemporânea, tanto na área acadêmica quanto na popularização de temas filosóficos entre o público geral. Em suas obras, Blackburn escreve sobre ética, epistemologia, o pensamento crítico, a história da filosofia e a busca da verdade. No Brasil, estão disponíveis A República de Platão (Jorge Zahar, 2008), o Dicionário Oxford de Filosofia (Jorge Zahar, 1997) e Verdade: um guia para os perplexos (Civilização Brasileira, 2006 – escreverei sobre o livro em breve aqui no blog). Blackburn também é autor de uma interessante obra de introdução à ética (Being Good), outra de introdução à filosofia (Think: a compelling introduction to philosophy) e uma sobre as grandes questões da vida (Big Questions: philosophy, que também será tema de um post aqui no Página Virada).
Enviamos algumas perguntas a Blackburn para conhecer mais as suas ideias sobre livros e leitura. O filósofo gentilmente aceitou nosso convite e nos encaminhou suas respostas, que podem ser lidas abaixo.

Página Virada: O que você está lendo agora?
Simon Blackburn: Eu geralmente leio vários livros ao mesmo tempo. No presente momento, estou lendo os Ensaios de Montaigne, o que eu deveria ter feito há muito tempo. Eles são acalentadores, íntimos, nos fazem divagar, e são frequentemente muito divertidos. Também estou lendo, em contraste, O Talentoso Ripley, o suspense de Patricia Highsmith que foi transformado em um filme bem conhecido. Terminei recentemente Darwinian Populations, de Peter Godfrey-Smith, um livro sobre filosofia da biologia que eu apreciei bastante.

PV: Que livros o influenciaram?
SB: São muitos para mencionar! Profissionalmente, creio que eu deveria indicar Russell e Frege, os dois grandes pioneiros da lógica moderna. Depois, o Tratado de Wittgenstein, com o qual passei muito tempo lutando quando era estudante. Em meus anos de graduação eu li pela primeira vez David Hume, que provavelmente me influenciou mais do que qualquer outro autor.

PV: Por que você pensa que é importante ler?
SB: O grande negócio em relação à leitura, diferentemente de assistir a filmes ou televisão, é que você pode escolher seu próprio passo. Você pode fazer uma pausa para a reflexão, deixar sua imaginação livre, ou pensar um pouco por conta própria. Assim, um livro é o mais polido e modesto das companhias. Penso que filmes, ao contrário, são muito insistentes. Você tem que assisti-los no passo que eles ditam, e eu realmente não gosto de fazer isso. Não é somente o fato de que eu encontro mais prazer nos livros, mas eu penso que eles expandem mais a minha mente. Eles me dão espaço para respirar.

PV: É possível fazer com que as pessoas leiam mais? Como podemos fazer isso?
SB: Nós temos que comunicar o nosso prazer mais efetivamente. Ver jovens mexerem ociosamente em seus Angry Birds ou Donkey Kongs, ou qualquer coisa parecida, me deixa muito triste. É uma maneira pobre, vazia e sem sentido de passar o tempo, considerando que eles poderiam estar perdidos em companhia de Agamenon ou Aquiles, Hamlet ou Dom Quixote, ou mesmo Alice no País das Maravilhas ou Harry Potter. Não penso que importe o que a criança lê, contanto que elas assimilem a ideia de que os livros são prazerosos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ambientes digitais, nossos cérebros e os solitários repletos de "amigos"

Por Guilherme

A neurocientista britânica Susan Greenfield esteve recentemente no Brasil, palestrando no programa Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre e em São Paulo sobre a influência das novas mídias em nossos cérebros. De acordo com ela, o fato de estarmos expostos a uma enorme quantidade de informações na rede pode fazer com que nos tornemos indivíduos “multitarefa”, fazendo muitas coisas em pouco tempo, mas prestando pouca atenção nas tarefas que desempenhamos e sendo superficiais nos assuntos que estudamos. Greenfield afirma que é possível que os escores em testes de QI das futuras gerações aumentem em decorrência do uso dessas novas tecnologias (Michael Shermer afirma a mesma coisa), mas que estamos perdendo muito com o uso excessivo delas.
    Para entender um pouco melhor o ponto de vista da neurocientista, recomendo a leitura de uma entrevista concedida por ela à revista Veja. Também recomendo atenção ao vídeo abaixo, uma apresentação da psicóloga Sherry Turkle, autora de Alone Together: why we expect more from technology and less from each other (algo como Sozinhos Juntos: por que esperamos mais da tecnologia do que uns dos outros, obra ainda não lançada no Brasil, mas que será tema de um post aqui no blog em breve). Turkle afirma que a tecnologia está nos tornando mais distantes dos outros e criando pessoas cheias de “amigos virtuais”, mas sem ninguém para trocar ideias pessoalmente.