O
presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad defende, entre outras posições
polêmicas, que o holocausto não ocorreu da maneira como é comumente descrito
nos livros de história. A ideia de Ahmadinejad não deriva de um espírito
questionador que busca saber a verdade, mas de uma posição ideologicamente estruturada
contra Israel e o povo judeu. Por mais estranha que pareça, a posição do
presidente iraniano é compartilhada por alguns grupos em diversos lugares do
mundo, inclusive no Rio Grande do Sul. Em nosso estado, uma editora chamada
Revisão publicou livros referentes ao holocausto e com temas antissemitas e
nazistas. Uma das obras editadas foi Os
Protocolos dos Sábios de Sião, uma fraude conspiracionista cuja ideia
principal era expor um plano judeu de dominação mundial – um plano falso,
obviamente.
Indivíduos que negam a existência do
holocausto como ele tem sido retratado em documentos e livros históricos costumam
denominar a si mesmos de “revisionistas”, embora exista um nome melhor para
eles: negadores da história. O revisionismo é uma atividade absolutamente
válida na história, nas ciências e em qualquer outra área do conhecimento
humano. No entanto, quando há um grande número de evidências de que determinado
fato ocorreu (no caso do holocausto, somam-se um grande número de documentos,
evidências físicas – covas, corpos, campos de concentração –, informações
fornecidas por membros do próprio regime nazista, listas de pessoas
desaparecidas na época, os testemunhos do Julgamento de Nuremberg, depoimentos
de testemunhas que escaparam da morte e de soldados aliados, etc.), e a revisão
é feita no sentido de provar que tais eventos nunca aconteceram, o que temos é
pura e simplesmente a negação da história.
A
questão da negação do holocausto é tratada com muita propriedade por Loren
Collins em Bullspotting: finding facts in
the age of misinformation (Prometheus Books, 2012, ainda sem edição no
Brasil). Collins é um advogado americano que fundou o blog Barackryphal, no qual rebate as ideias dos “birthers”, pessoas que
afirmam que o presidente americano Barak Obama teria nascido no Quênia e,
assim, estaria impedido de assumir o seu posto atual, dado que a lei americana não
permite que cidadãos nascidos em outros países tornem-se presidentes dos EUA. O
tema do local de nascimento de Obama junta-se à questão do holocausto como
exemplos de negação da história, rumores infundados e teorias
conspiracionistas. Collins vai além, e em seu livro trata também de
pseudociência (como a homeopatia e a ufologia) e da pseudo-história (escrevendo
sobre Nostradamus, Atlântida, a vinda de chineses à América antes de Colombo, a
Terra plana, etc.), discutindo, ao final, sobre os potenciais perigos aos quais
alguém se expõe quando se deixa envolver por ideias falsas.
Ler
um texto como o de Collins é algo bastante desejável em uma época como a nossa,
na qual o fluxo de informação excede em muito a nossa capacidade de apurar as
histórias de maneira criteriosa. No Facebook, por exemplo, somos inundados de
pedidos de compartilhamento de fotos, que supostamente irão ajudar crianças; outras
pessoas nos encaminham notícias dando conta que a Interpol descobriu um desvio
de mais de 500 bilhões de reais em nome de integrantes do PT (é o que diz uma
capa falsificada da revista Veja); outros defendem ideias políticas esquisitas,
como a redução de cargos de confiança em um órgão público se determinado
partido político o assumir (quando uma boa pesquisa na internet seria
suficiente para fornecer evidências que tal partido, na verdade, age de maneira
oposta). Enfim, duvidar, questionar e buscar a boa informação são formas de
defesa contra o mundo de desinformação que nos rodeia. E, quando a
desinformação é propositalmente espalhada na internet, defender-se dela é a melhor
atitude para escapar da manipulação intelectual.
as pessoas que negam o holocausto deveriam ser negadas dentro do útero :)
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