quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu Quero um Novo Imposto, por Marcos Kirst

Por Guilherme

O jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst foi o patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul em 2010. Suas crônicas, publicadas em diversos jornais e em seu blog Futilidades Literais, abordam situações cotidianas com uma perspicácia e inteligência raras. Tais qualidades podem ser observadas no texto abaixo, publicado originalmente no jornal Informante, de Farroupilha/RS, no dia 18 de março desse ano. Concordo  com a crítica de Kirst sobre a burrice humana, mas tenho dúvidas sobre seu efeito na sociedade brasileira. Se as pessoas pagassem tributos sobre atos de burrice em nosso país, da maneira sugerida por ele, teríamos o Estado número 1 no ranking econômico mundial, mas uma sociedade composta por pessoas com renda líquida semelhante a dos cidadãos de Ruanda ou da Etiópia.


Eu quero um novo imposto
Por Marcos Kirst

      Tenho uma ideia para um projeto de lei que, se aprovado, ajudará a erradicar boa parte dos males que assolam a nação. Antes de mais nada, preciso de um deputado que encampe minha proposta e formate o projeto. Vamos ver se alguém se habilita. Minha proposta visa a erradicar do solo pátrio a burrice, essa pervertedora de cérebros e atravancadora do progresso. De que forma? Instituindo um Imposto Sobre a Burrice, o ISB. Sua aplicação será simples e imediata, a cada instante em que algum cidadão praticar um ato de burrice.
      As ideias geniais que perduram e transformam a vida humana têm em comum a característica de serem assim, simples e fáceis de entender e de aplicar, como o palito de fósforo, a corneta militar, o guarda-chuva, a batata frita e o colchão de molas. Meu Impostinho Sobre a Burrice também habita essa seara das ideias simples e geniais e, garanto, se aprovada, transformará rapidamente nossa sociedade, pois que as asneiras cotidianas passarão a doer nos bolsos dos estultos, e aí sim, aiaiai, é que eu quero ver.
      Ocorreu-me a iluminação súbita quando li na imprensa a notícia de que o prefeito de uma de nossas cidades praianas gaúchas decidiu suspender as aulas da rede pública de ensino na semana passada, quando soube das apavorantes notícias dos estragos causados pelo terremoto no Japão e os tsunamis (as ondas gigantes) que sobrevieram nas costas de vários países. Uma rádio local divulgou a informação de que reflexos do tsunami poderiam chegar ao litoral de países da América do Sul (o que é correto), e o prefeito resolveu agir com extremada prudência, mandando as criancinhas ficarem em casa. O detalhe é que o Japão localiza-se no Oceano Pacífico, e a região sul-americana na mira do alerta era a costa banhada pelas águas deste mar, como Chile, Peru e outros, e não a nossa Punta Del Leste Guasca, banhada, desde que eu me lembre, pelas águas do Atlântico, que nada teve a ver com esse pastel de siri.
      Alguém aí faltou à aula de geografia: o prefeito ou o radialista. Talvez ambos tenham sido coleguinhas e gazearam aula no dia em que a profe desenrolava frente ao quadro-negro um mapa-múndi. Só espero que as aulas perdidas na semana passada na tal praia não tenham sido novamente sobre a localização dos continentes. Mas afinal, prudência em excesso não faz mal, haverá quem me critique pela minha intolerância. Mas é que somos recorrentes nesse tipo de pantomima, e deixamos de empreender esforços na solução de problemas reais e palpáveis. Eu me lembro que o Brasil, quando da primeira Guerra do Golfo, lá no início dos anos 90, sob a presidência de Fernando Collor de Mello, foi o único país do mundo a adotar racionamento de combustível durante o conflito (nem os diretamente envolvidos no confronto o fizeram). Que patuscada.
      Alguém aí se habilita a apresentar meu projeto?

2 comentários:

  1. HAHAHA dessa aí eu não sabia!
    Mas, tá louco, pobre do Brasil se fizesse isso! Seria tanta gente devendo imposto atrasado que aumentaria ainda mais a falta de recursos, como sugeriste em relação aos dois países russos - Etiópia e Ruanda (opa!, acho que fui colega-gazeador do prefeito litorâneo e do radialista...)

    Bem, o caixa já tá raspado, especialmente ao término da época de declaração do IRPF. Portanto, por via das dúvidas, acho que vou ler um livro, revista ou qualquer jornal. Vai que aprovam a ideia do Kirst, ao menos serei enquadrado numa alíquota um pouco mais leve...

    J.Cataclism

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  2. Tem razão, Guilherme: se tivéssemos de recolher tributos devido aos atos derivados da burrice que nos assola, quebraríamos a economia nacional, pois seria difícil ver gente isenta por aí. Grato pela divulgação do texto e pela leitura constante. No final do mês estarei aí conversando ao vivo com os pradenses, dentro do projeto Café Literário. Até lá e abraços!

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