Assim
como quase todo mundo, cultivo o pensamento mágico de que o próximo ano trará
coisas melhores, não somente para mim, minha família e meus amigos, mas para
todas as pessoas. Pensamento mágico é algo que não está amparado por nenhuma
evidência ou base racional, é somente fé e torcida. E torço muito para que
algumas coisas se modifiquem, para melhor, a partir de 2013.
Minha
maior torcida diz respeito aos rumos da educação no Brasil. Vários posts do Página Virada foram dedicados ao tema, e
apresentei aqui alguns argumentos que indicam a falta de cuidado do governo e
da sociedade com a situação das escolas, dos professores e dos alunos. Sempre
entendi a rotina escolar e universitária como partes indispensáveis de um
processo de formação e aprimoramento individual. Descuidar da educação,
portanto, é menosprezar a capacidade que temos de nos tornarmos melhores
através do estudo e da busca do conhecimento.
O
que temos visto no Brasil, infelizmente, não nos dá indícios de que em 2013 as
coisas mudem significativamente. Ao invés de nos apoiarmos no pensamento
mágico, temos que agir. Penso que a principal responsável pela baixa qualidade
da educação brasileira é a nossa própria sociedade, e há duas razões para isso.
A primeira delas é que não valorizamos candidatos que tenham na educação uma
base de sua plataforma política. Preferimos aqueles que nos prometem asfalto em
frente à nossa casa, o empréstimo de máquinas da prefeitura, ou qualquer outro
tipo de auxílio semelhante. A segunda é que boa parte das pessoas não consegue
compreender a importância da escola na sociedade. Hoje em dia, é lamentável que
alguns pais vejam as escolas como uma espécie de “creches” para adolescentes,
um lugar para acomodar aqueles que dão trabalho demais em casa. E os
professores, quando não são vistos como “cuidadores”, são os substitutos dos
pais, aqueles que ensinam as regras básicas de convivência social, respeito ao
próximo e postura. Torço para que tudo isso mude, e rápido.
A
torcida pela educação está ligada, de maneira direta, à torcida para que
possamos viver em uma sociedade melhor e mais organizada. Isso significa uma
sociedade na qual existam pessoas mais tolerantes, mais gentis, mais
cooperativas, mais disciplinadas, mais respeitosas e mais questionadoras. Há
algo que podemos fazer imediatamente em relação a isso: examinar o modo como
levamos a nossa vida, e fazer um bom esforço para melhorar o que for
necessário. Lembro o final de O Livro dos
Livros, de A. C. Grayling (ainda não publicado no Brasil, infelizmente), e
espero que o espírito das palavras do autor acompanhe nosso agir cotidiano,
hoje e sempre:
“Devemos
perguntar quais os mandamentos a seguir / Ou faríamos melhor em perguntar, a
cada um de nós: / Que tipo de pessoa devo ser? / A primeira pergunta assume que
existe uma resposta certa / A segunda assume que há várias respostas certas /
Se perguntarmos como responder à segunda pergunta, a resposta apresenta-se com
outras perguntas: / O que devemos fazer quando vemos outra pessoa a sofrer, a
passar necessidades, com medo ou fome? / Quais são as causas justas, que mundo
idealizamos para os nossos filhos, para brincarem na rua com segurança? / Há
muitas perguntas do gênero, algumas que dispensam resposta, outras a que não
temos como responder / Mas quando todas as respostas a todas as perguntas são
condensadas, ninguém ouve menos do que isto: / Ama bem, procura o bem em todas as coisas, não faças mal a ninguém,
pensa pela tua própria cabeça, sê responsável, respeita a natureza, dá o teu
melhor, informa-te, sê amável, sê corajoso: pelo menos, faz um esforço sincero
/ E a estas dez obrigações, junta mais uma: meus amigos, que sejamos sempre
fiéis a nós mesmos e ao melhor das coisas, para que possamos ser sempre fiéis
uns aos outros.”
Aproveito
a ocasião para agradecer aos amigos que acompanharam o blog em 2012. Que 2013
seja mais um ano de grandes leituras!
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