segunda-feira, 8 de julho de 2013

A moralidade nas ações de efeitos mínimos

Francisco de Assis, CEO do grupo ambientalista Companheiros da Terra (CDT), foi sequestrado por um bando de pinguins-imperadores, irritados com a sua campanha em torno do aquecimento global, pois ela está atrapalhando o prazer dos pinguins de viajar de avião por baixos preços e dirigir na neve. Os pinguins descobriram que suas nadadeiras não servem para segurar armas, então preferem um confronto não violento com o CDT. Esperam usar argumentos racionais para persuadir Francisco de que sua organização está equivocada. Contrataram, para isso, Peripatético, um pinguim-rei filósofo, para conversar com Francisco e fazê-lo mudar de ideia.

Peripatético: Sua organização tem um compromisso com o princípio de que todos nós contribuímos para a mudança climática e que somos, portanto, moralmente responsáveis por suas consequências, certo?
Francisco: Sim, Peripatético. Todos temos nossa pegada de carbono, que é a quantidade de gases de efeito estufa que cada indivíduo emite direta e indiretamente. Sabemos que essas emissões contribuem para o aquecimento global produzido pelo homem e pelo pinguim. Sabemos que o aquecimento global causará tamanho impacto ambiental que o sofrimento será sentido no futuro. Por isso, somos todos moralmente responsáveis por esse sofrimento futuro e precisamos tomar medidas para minimizá-lo.
Peripatético: Então, o que você está dizendo é que, se eu parar de usar meu desodorante debaixo das nadadeiras e não voar para ver meus primos no Havaí, menos pessoas sofrerão no futuro?
Francisco: Não, não é isso. Estou dizendo que, se todos nós tentarmos minimizar nossa pegada de carbono, menos pessoas sofrerão no futuro.
Peripatético: Interessante. Será que a minha pegada de carbono é tão relevante que, se não houvesse, teria menos aquecimento global e, portanto, menos sofrimento no futuro?
Francisco: Não. O efeito de um único indivíduo é ínfimo no aquecimento global. Mas, se você multiplicá-lo pela população mundial – mais de 6 bilhões de pessoas –, teremos um efeito grande.
Peripatético: Então, na verdade, se eu continuar fazendo o que faço, viajando de avião e dirigindo na neve, além dos churrascos, não causarei nenhum sofrimento adicional no futuro? Você mesmo admite que o efeito de um único indivíduo no aquecimento global é desprezível, certo? [A plateia de pinguins aplaude calorosamente.]

Peripatético está certo ao sugerir que nenhum indivíduo, isoladamente, é responsável por quaisquer consequências do aquecimento global?


Extraído de STANGROOM, J. O dilema de Einstein: exercite sua inteligência com questões que desafiam o bom senso. São Paulo: Editora Marco Zero, 2011.

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