Francisco de Assis, CEO do grupo
ambientalista Companheiros da Terra (CDT), foi sequestrado por um bando de pinguins-imperadores,
irritados com a sua campanha em torno do aquecimento global, pois ela está
atrapalhando o prazer dos pinguins de viajar de avião por baixos preços e
dirigir na neve. Os pinguins descobriram que suas nadadeiras não servem para
segurar armas, então preferem um confronto não violento com o CDT. Esperam usar
argumentos racionais para persuadir Francisco de que sua organização está
equivocada. Contrataram, para isso, Peripatético, um pinguim-rei filósofo, para
conversar com Francisco e fazê-lo mudar de ideia.
Peripatético: Sua organização tem um
compromisso com o princípio de que todos nós contribuímos para a mudança
climática e que somos, portanto, moralmente responsáveis por suas consequências,
certo?
Francisco: Sim, Peripatético. Todos temos
nossa pegada de carbono, que é a quantidade de gases de efeito estufa que cada
indivíduo emite direta e indiretamente. Sabemos que essas emissões contribuem
para o aquecimento global produzido pelo homem e pelo pinguim. Sabemos que o
aquecimento global causará tamanho impacto ambiental que o sofrimento será
sentido no futuro. Por isso, somos todos moralmente responsáveis por esse
sofrimento futuro e precisamos tomar medidas para minimizá-lo.
Peripatético: Então, o que você está
dizendo é que, se eu parar de usar meu desodorante debaixo das nadadeiras e não
voar para ver meus primos no Havaí, menos pessoas sofrerão no futuro?
Francisco: Não, não é isso. Estou
dizendo que, se todos nós tentarmos minimizar nossa pegada de carbono, menos
pessoas sofrerão no futuro.
Peripatético: Interessante. Será que
a minha pegada de carbono é tão relevante que, se não houvesse, teria menos
aquecimento global e, portanto, menos sofrimento no futuro?
Francisco: Não. O efeito de um único
indivíduo é ínfimo no aquecimento global. Mas, se você multiplicá-lo pela
população mundial – mais de 6 bilhões de pessoas –, teremos um efeito grande.
Peripatético: Então, na verdade, se
eu continuar fazendo o que faço, viajando de avião e dirigindo na neve, além
dos churrascos, não causarei nenhum sofrimento adicional no futuro? Você mesmo
admite que o efeito de um único indivíduo no aquecimento global é desprezível,
certo? [A plateia de pinguins aplaude calorosamente.]
Peripatético está certo ao sugerir
que nenhum indivíduo, isoladamente, é responsável por quaisquer consequências do
aquecimento global?
Extraído de STANGROOM, J. O dilema de Einstein: exercite sua
inteligência com questões que desafiam o bom senso. São Paulo: Editora Marco
Zero, 2011.
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