No
dia 21 de julho de 1969, os astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael
Collins entraram para a história como os primeiros seres humanos a chegarem à
superfície da Lua. Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua (e lá proferiu
a lendária sentença “um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a
humanidade”), seguido por Aldrin, enquanto Collins não saiu do módulo lunar da
Apollo 11. Depois de Armstrong e Aldrin, outros dez astronautas caminharam na
Lua, em outras missões Apollo. No total, 24 pessoas viajaram até nosso satélite
natural, em operações muito bem documentadas, registradas em áudio e vídeo, e
que envolveram um grande número de pessoas. Os astronautas também trouxeram
amostras de rochas e de solo lunares, e parte desse material está exposto em
museus de diversos países do mundo.
O grande volume de evidências de que
fomos até a Lua, no entanto, não parece ter sido suficiente para convencer
algumas pessoas da veracidade desse fato. De acordo com uma pesquisa feita em
2001 pelo Instituto Gallup, 6% dos americanos – o que corresponderia a cerca de
20 milhões de habitantes dos EUA – afirmaram que a ida do homem à Lua não passa
de uma fraude. Em outros países, a desconfiança é ainda maior. Essas pessoas
sustentam a ideia de que houve uma conspiração tramada pelo governo americano
em parceria com estúdios e diretores de cinema para enganar a população, que
ingenuamente acreditou que os vídeos transmitidos pela NASA tinham sido feitos
pelos astronautas na Lua, quando na verdade eles foram filmados em um estúdio
no deserto americano.
As teorias da conspiração fazem parte do
imaginário humano há muito tempo. No século XX, por exemplo, acompanhamos uma
infinidade de ideias “alternativas” que tomaram forma, e fizeram muitas pessoas
acreditarem que governos e sociedades secretas sempre tentavam manipular as informações
que chegavam até a população. Assim, muita gente foi levada a crer que o
governo americano esconde alienígenas em bases aéreas secretas, que Lee Harvey
Oswald não matou Kennedy, que a AIDS foi uma doença criada por laboratórios
farmacêuticos para matar pessoas na África, e que Obama nasceu no Quênia e, por
isso, não poderia ser presidente dos EUA (é necessário que a pessoa tenha
nascido nos Estados Unidos para ser presidente deste país). E, claro, muitos
também acreditam que o homem não foi à Lua.
No Brasil, algumas teorias da
conspiração ganharam espaço nos últimos dois anos. Durante os protestos que
sacudiram nosso país em junho e julho de 2013 surgiram, nas redes sociais,
ideias mirabolantes que indicavam que as manifestações populares abririam espaço
para um golpe militar aos moldes do de 1964. Obviamente, entre os manifestantes
existiam aqueles que clamavam pela volta dos militares, mas esses eram a
minoria, e não representavam os desejos da esmagadora maioria das pessoas que
saíram às ruas de todo o Brasil, uma maioria composta por cidadãos comuns
cansados de tantos problemas nas áreas da saúde, educação, transporte público,
segurança, etc.
Esse ano, um novo tipo de
conspiracionista apareceu, e ele se opõe ideologicamente ao conspiracionista de
2013. O novo conspiracionista é aquele que imagina que ocorrerá um “golpe
comunista” no Brasil em 2014. Quais são as evidências disso? Nenhuma, somente
um amontoado de ideias soltas, que tentam ser amarradas para que o sujeito
consiga apresentar algumas razões para sustentar sua pré-concebida conclusão.
Obviamente, governos escondem muitas
informações do público, e existem, sim, grupos e empresas que têm grande
influência sobre as sociedades humanas. E, claro, nem toda teoria aparentemente
conspiratória se mostra uma fraude (o caso Watergate, na década de 1970, é um
bom exemplo disso). No entanto, não é razoável abraçar uma ideia quando não
existem boas evidências para ela ou, ainda, quando existe um bom volume de
evidências contrárias. Dizer que o Brasil esteve próximo de um golpe militar em
2013, e que caminha para um golpe comunista em 2014, é ser guiado por
preferências ideológicas no lugar da razão e do bom senso. E é assim que as
ideias conspiratórias se mantêm: o indivíduo estabelece uma conclusão, busca
algumas ideias para fundamentá-la, e descarta tudo aquilo que contradiz o seu
pensamento.
O que temos que temer quando somos
inundados por ideias conspiratórias não é o conteúdo delas em si, mas a falta
de pensamento crítico em uma sociedade que as deixa florescer. Pensar com mais
clareza – e estar atento às evidências – nos protege de uma série de armadilhas
e de problemas, como aceitar teorias conspiratórias e outras tantas ideias que
são potencialmente prejudiciais a nós.
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