domingo, 28 de dezembro de 2014

O que li em 2014 (e recomendo)

Não consegui atualizar o blog com a frequência que eu queria em 2014. É provável que pouco mude em 2015, mas espero ter mais tempo e disposição para postar coisas novas por aqui.
Para fechar o ano, segue uma lista de alguns bons livros que li em 2014, e cuja leitura eu recomendo:

Sobre a verdade, de Harry Frankfurt, é um pequeno livro que trata da importância da verdade na vida individual e na sociedade. A forte influência de ideias pós-modernistas e pós-estruturalistas no mundo contemporâneo faz com que muitas pessoas abracem ideias relativistas absurdas e tenham medo até de dizer a palavra “verdade”. Frankfurt afirma que, ao contrário do que os relativistas pensam, buscar a(s) verdade(s) é um passo fundamental para se ter uma vida funcional, em termos individuais e sociais. De Frankfurt também vale a pena ler Sobre falar merda (esse é o título da edição brasileira de On bullshit), um ensaio sobre a disseminação de bobagens na sociedade contemporânea.
Outros dois bons livros, em inglês, sobre a importância da verdade são True to life e In praise of reason, ambos do filósofo americano Michael Lynch.

Gosto muito dos escritos do professor Fernando Savater, e li dois ótimos livros de sua autoria em 2014: O valor de educar e A importância da escolha. No primeiro, Savater fala a respeito dos objetivos da educação e do papel dos professores na educação dos jovens. Em A importância da escolha, o autor trata de uma das mais delicadas questões filosóficas: o livre arbítrio. Savater defende a ideia de que temos a capacidade de escolher racionalmente alguns caminhos. Um deles é o de procurar saber a verdade sobre as questões do mundo ao invés de nos iludirmos e pensarmos que o mundo é o local que gostaríamos que ele fosse.

Sobre comportamento humano, um dos meus assuntos preferidos, gostei muito de Subliminar, de Leonard Mlodinow, que explora a questão do inconsciente de uma maneira diferente da de Freud (com seus instintos reprimidos, mecanismos de defesa, etc). Mlodinow mostra como tomamos decisões e definimos muitas de nossas crenças através de mecanismos não conscientes, e como estamos sujeitos a todo o tipo de influência sobre nosso comportamento (pressão social, propaganda, exposição a odores, etc), apesar de não percebermos isso. O poder das circunstâncias, de Sam Sommers, segue uma linha semelhante à de Mlodinow, e investiga como nossas ações são influenciadas pelo ambiente que nos envolve. O que nos faz bons ou maus, de Paul Bloom, é uma obra sobre o desenvolvimento do comportamento moral na nossa espécie. De modo semelhante a autores como Peter Singer e Steven Pinker, Bloom entende que podemos aprimorar nosso comportamento moral através da consideração racional sobre ele, ou seja, pensando melhor sobre nossas ações. Em longo prazo, o aprimoramento de nosso pensamento a respeito de questões morais tende a refinar nossas ações e, em consequência, melhorar nossa vida social, argumenta Bloom.


Believing in magic, de Stuart Vyse, é um dos livros mais interessantes que li, não só em 2014, mas em toda minha vida. Vyse explica os mecanismos que moldam os comportamentos supersticiosos que a maioria de nós tem. Além disso, Vyse comenta sobre como os comportamentos supersticiosos podem trazer consequências negativas para alguém, e mostra o que é possível fazer para diminuir a sua influência na sociedade. É uma pena que este livro ainda não tenha sido editado no Brasil.

Ainda sobre crenças estranhas, li The paranormal: who believes, why they believe and why it matters, de Erich Goode, uma investigação sobre como ideias sobrenaturais abundam nas sociedades contemporâneas. The philosophy of pseudoscience, organizado por Massimo Pigliucci e Maarten Boudry, é uma coletânea de artigos que tratam do famoso critério de demarcação entre ciência e pseudociência, além de explorar outros temas ligados à crença em alegações pseudocientíficas. Os dois livros ainda não foram publicados em português.

Dois livros sobre educação, também não publicados no Brasil, mudaram minha visão sobre o tema. Considero Open-mindedness and education, de William Hare, e Educating reason, de Harvey Siegel, obras-primas da filosofia da educação. Basicamente, os dois autores defendem a ideia de que a educação deve produzir pensadores críticos, ou seja, pessoas preocupadas com a qualidade da informação que recebem (e transmitem) e que, para isso, saibam analisar ideias adequadamente e tenham o interesse genuíno em fazê-lo, mesmo que isso signifique colocar sua visão de mundo em cheque. Vale mencionar também o livro de Stephen Law, The war for children’s minds, uma excelente reflexão sobre as escolas e os objetivos da educação.

A arte de questionar: a filosofia do dia a dia, o último livro do filósofo A. C. Grayling publicado no Brasil, é uma obra composta por uma série de perguntas feitas ao filósofo por leitores de jornais e revistas ingleses. Grayling trata com propriedade de temas tão diversos quanto a felicidade, o amor, a inteligência, a educação, a ciência, a religião, o mal, entre outros.

Em 2013, eu havia prometido a mim mesmo que leria mais obras de ficção. Apesar de não terem sido muitas, li os clássicos 1984, de George Orwell, e As aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain. Também li o excelente O sentido de um fim, de Julian Barnes, e pretendo ler em breve outros trabalhos deste autor.

Por último, Escritos de um jovem jornalista: um átimo da vida de Décio Osmar Bombassaro, livro organizado por meu pai, Valdemir Guzzo, com os artigos que o professor e jornalista Décio Bombassaro publicou no jornal Destaque, de Veranópolis, entre os anos de 1961 e 1963. Fico especialmente feliz por ter escrito a apresentação do livro.

Para 2015, algumas obras já aguardam em cima de minha escrivaninha:

- O mundo até ontem, de Jared Diamond
- Intuition pumps, de Daniel Dennett
- As razões do amor, de Harry Frankfurt
- O erro de Descartes, de António Damásio
- Vendo vozes e Tio Tungstênio, de Oliver Sacks
- Valor e verdade e O amor, de André Comte-Sponville
- Os anjos bons da nossa natureza, de Steven Pinker
- O terceiro tira, de Flann O’Brien
- Por que erramos?, de Kathryn Schulz
- Alex e eu, de Irene Pepperberg
- Você não é tão esperto quanto pensa, de David McRaney

Um ótimo ano de 2015 aos amigos, e que as boas leituras continuem!

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