Não
consegui atualizar o blog com a frequência que eu queria em 2014. É provável
que pouco mude em 2015, mas espero ter mais tempo e disposição para postar
coisas novas por aqui.
Para
fechar o ano, segue uma lista de alguns bons livros que li em 2014, e cuja
leitura eu recomendo:
Sobre
a verdade, de
Harry Frankfurt, é um pequeno livro que trata da importância da verdade na vida
individual e na sociedade. A forte influência de ideias pós-modernistas e
pós-estruturalistas no mundo contemporâneo faz com que muitas pessoas abracem
ideias relativistas absurdas e tenham medo até de dizer a palavra “verdade”.
Frankfurt afirma que, ao contrário do que os relativistas pensam, buscar a(s)
verdade(s) é um passo fundamental para se ter uma vida funcional, em termos
individuais e sociais. De Frankfurt também vale a pena ler Sobre falar merda (esse é
o título da edição brasileira de On bullshit), um ensaio sobre a
disseminação de bobagens na sociedade contemporânea.
Outros
dois bons livros, em inglês, sobre a importância da verdade são True
to life e In praise of reason, ambos do filósofo americano Michael Lynch.
Gosto
muito dos escritos do professor Fernando Savater, e li dois ótimos livros de
sua autoria em 2014: O valor de educar e A
importância da escolha. No primeiro, Savater fala a respeito dos
objetivos da educação e do papel dos professores na educação dos jovens. Em A importância da escolha, o autor trata
de uma das mais delicadas questões filosóficas: o livre arbítrio. Savater
defende a ideia de que temos a capacidade de escolher racionalmente alguns
caminhos. Um deles é o de procurar saber a verdade sobre as questões do mundo
ao invés de nos iludirmos e pensarmos que o mundo é o local que gostaríamos que
ele fosse.
Sobre
comportamento humano, um dos meus assuntos preferidos, gostei muito de Subliminar,
de Leonard Mlodinow, que explora a questão do inconsciente de uma maneira
diferente da de Freud (com seus instintos reprimidos, mecanismos de defesa,
etc). Mlodinow mostra como tomamos decisões e definimos muitas de nossas
crenças através de mecanismos não conscientes, e como estamos sujeitos a todo o
tipo de influência sobre nosso comportamento (pressão social, propaganda,
exposição a odores, etc), apesar de não percebermos isso. O poder das circunstâncias,
de Sam Sommers, segue uma linha semelhante à de Mlodinow, e investiga como
nossas ações são influenciadas pelo ambiente que nos envolve. O que
nos faz bons ou maus, de Paul Bloom, é uma obra sobre o desenvolvimento
do comportamento moral na nossa espécie. De modo semelhante a autores como
Peter Singer e Steven Pinker, Bloom entende que podemos aprimorar nosso
comportamento moral através da consideração racional sobre ele, ou seja, pensando
melhor sobre nossas ações. Em longo prazo, o aprimoramento de nosso pensamento
a respeito de questões morais tende a refinar nossas ações e, em consequência,
melhorar nossa vida social, argumenta Bloom.
Believing
in magic, de
Stuart Vyse, é um dos livros mais interessantes que li, não só em 2014, mas em
toda minha vida. Vyse explica os mecanismos que moldam os comportamentos
supersticiosos que a maioria de nós tem. Além disso, Vyse comenta sobre como os
comportamentos supersticiosos podem trazer consequências negativas para alguém,
e mostra o que é possível fazer para diminuir a sua influência na sociedade. É uma
pena que este livro ainda não tenha sido editado no Brasil.
Ainda
sobre crenças estranhas, li The paranormal: who believes, why they believe
and why it matters, de Erich Goode, uma investigação sobre como ideias
sobrenaturais abundam nas sociedades contemporâneas. The philosophy of pseudoscience,
organizado por Massimo Pigliucci e Maarten Boudry, é uma coletânea de artigos
que tratam do famoso critério de demarcação entre ciência e pseudociência, além
de explorar outros temas ligados à crença em alegações pseudocientíficas. Os
dois livros ainda não foram publicados em português.
Dois
livros sobre educação, também não publicados no Brasil, mudaram minha visão
sobre o tema. Considero Open-mindedness and education, de
William Hare, e Educating reason, de Harvey Siegel, obras-primas da filosofia
da educação. Basicamente, os dois autores defendem a ideia de que a educação
deve produzir pensadores críticos, ou seja, pessoas preocupadas com a qualidade
da informação que recebem (e transmitem) e que, para isso, saibam analisar
ideias adequadamente e tenham o interesse genuíno em fazê-lo, mesmo que isso
signifique colocar sua visão de mundo em cheque. Vale mencionar também o livro
de Stephen Law, The war for children’s minds, uma excelente reflexão sobre as
escolas e os objetivos da educação.
A
arte de questionar: a filosofia do dia a dia, o último livro do filósofo A. C.
Grayling publicado no Brasil, é uma obra composta por uma série de perguntas
feitas ao filósofo por leitores de jornais e revistas ingleses. Grayling trata com
propriedade de temas tão diversos quanto a felicidade, o amor, a inteligência, a
educação, a ciência, a religião, o mal, entre outros.
Em
2013, eu havia prometido a mim mesmo que leria mais obras de ficção. Apesar de
não terem sido muitas, li os clássicos 1984, de George Orwell, e As aventuras
de Huckleberry Finn, de Mark Twain. Também li o excelente O
sentido de um fim, de Julian Barnes, e pretendo ler em breve outros
trabalhos deste autor.
Por
último, Escritos de um jovem jornalista: um átimo da vida de Décio Osmar
Bombassaro, livro organizado por meu pai, Valdemir Guzzo, com os artigos
que o professor e jornalista Décio Bombassaro publicou no jornal Destaque, de
Veranópolis, entre os anos de 1961 e 1963. Fico especialmente feliz por ter
escrito a apresentação do livro.
Para
2015, algumas obras já aguardam em cima de minha escrivaninha:
-
O
mundo até ontem, de Jared Diamond
-
Intuition
pumps, de Daniel Dennett
-
As
razões do amor, de Harry Frankfurt
-
O
erro de Descartes, de António Damásio
-
Vendo
vozes e Tio Tungstênio, de Oliver Sacks
-
Valor
e verdade e O amor, de André Comte-Sponville
-
Os
anjos bons da nossa natureza, de Steven Pinker
-
O
terceiro tira, de Flann O’Brien
-
Por
que erramos?, de Kathryn Schulz
-
Alex
e eu, de Irene Pepperberg
-
Você
não é tão esperto quanto pensa, de David McRaney
Um ótimo ano de 2015 aos amigos, e que as boas
leituras continuem!
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