quarta-feira, 30 de março de 2011

As Ideias de Darwin (1): O Animal Moral

Por Guilherme

O termo “psicologia evolucionista” é relativamente recente, e trata da área da psicologia que estuda o comportamento humano com um enfoque da biologia evolutiva. Por exemplo, ao estudar a agressão, o psicólogo evolucionista investiga como esse comportamento nos permitiu sobreviver no ambiente ancestral, quando enfrentávamos predadores muito mais fortes do que nós e ainda competíamos por alimento e parceiros. Certo nível de agressividade era desejado para um humano, pois se não estivéssemos preparados para os violentos desafios impostos pelo ambiente acabaríamos perecendo, e não estaríamos aqui para contar essa história. Do mesmo modo, em um ambiente no qual os alimentos eram escassos, a procura por itens que proporcionassem grande quantidade de energia era grande. Isso nos tornou “viciados” em carboidratos. Hoje, os níveis de açúcar em alimentos industrializados são muito altos, mas mesmo assim continuamos a consumi-lo em uma quantidade muito maior do que a necessária. Como não gastamos tanta energia como nossos ancestrais, estamos criando gerações de obesos. Comportamentos como a agressividade e o desejo por carboidratos foram transmitidos através de gerações, moldados pela seleção natural, e hoje encontram-se enraizados no Homo sapiens.
      Um dos pioneiros no estudo do comportamento humano e animal foi Charles Darwin. Em sua obra A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (a última edição brasileira foi publicada pela Companhia de Bolso em 2009), Darwin escreveu sobre a universalidade de certas condutas em nossa espécie. Algumas expressões de comportamentos são facilmente identificadas por pessoas de todas as culturas do mundo, e basta olhar uma foto para perceber se um indivíduo está triste, alegre ou com raiva. Isso significa que esses comportamentos estão naturalmente presentes em pessoas de todos os lugares do mundo, e não dependem de aprendizado. Perspicaz como era, Darwin percebeu que a universalidade de comportamentos era um indício de uma ancestralidade comum, para a nossa espécie e para outras espécies animais. Mais uma vez, a ideia de evolução estava ganhando um firme alicerce.
      Um clássico moderno que discute as origens evolutivas de nosso comportamento é O Animal Moral: por que somos como somos – a nova ciência da psicologia evolucionista (Campus, 2005), do jornalista americano Robert Wright. Nele, o autor analisa diversas facetas de nossa conduta e discute como o processo de seleção natural poderia tê-las moldado. Um dos temas mais extensamente analisados por Wright é a infidelidade humana, e a capa da última edição brasileira do livro não deixa dúvida disso. Também são analisados os conflitos sociais, as relações familiares e as amizades, o ciúme, a ética e a violência humana. O livro é destinado ao público leigo no assunto, e a curiosidade que o tema desperta e o estilo de escrita de Wright facilitam a leitura.
      No decorrer de O Animal Moral, o leitor poderá se perguntar algumas vezes: o que será que define nosso comportamento, nossos genes ou o ambiente ao nosso redor e a influência social? A resposta para essa pergunta é simples: nem um, nem outro, isoladamente. Nenhuma pessoa é um produto puro de seus genes, e ninguém é uma tabula rasa, na qual qualquer coisa pode ser marcada pelo ambiente. O que somos é uma mistura de nossos genes e do ambiente no qual crescemos e vivemos. A seleção natural nos moldou para sobrevivermos nos ambientes em que evoluímos. E chegamos até aqui, relativamente sãos e salvos, com uma capacidade cerebral incrível, mesmo para um grande primata. Tudo isso nos transformou no único animal que pode se dar ao luxo de discutir questões do tipo “por que somos como somos?

As Ideias de Darwin é uma seção do Página Virada que discute livros inspirados nas ideias evolucionistas do naturalista inglês.

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