sábado, 19 de março de 2011

Gostaríamos de Informá-lo de que Amanhã Seremos Mortos com Nossas Famílias

Por Guilherme

No dia 06 de abril de 1994, o avião que conduzia o presidente ruandês Juvénal Habyarimana de volta para casa foi derrubado por um míssil quando estava prestes a pousar no aeroporto de Kigali, capital de Ruanda. Todos a bordo morreram, e o evento desencadeou aquele que é considerado um dos maiores genocídios do século XX.
      Ruanda era formada por dois grupos étnicos principais, os hutus, que eram maioria, e os tutsis, que correspondiam a cerca de 15% da população do país. A responsabilidade pelo ataque ao avião do presidente, um hutu, ainda é controversa: provavelmente ele tenha sido atacado por rebeldes de seu próprio grupo étnico, embora os hutus neguem isso até hoje e atribuam o ataque a um grupo de guerrilheiros tutsis. Um suposto ataque tutsi ao governo hutu fez explodir a tensão entre os dois grupos e levou ao massacre das pessoas da etnia minoritária.
      Entre abril e julho foram mortos mais de 800 mil pessoas, geralmente a golpes de facões, machados e porretes. Vizinhos matavam vizinhos só porque eles eram tutsis, religiosos elaboravam listas de tutsis para serem massacrados, bloqueios eram feitos nas principais vias do país para impedir a fuga das pessoas, e cidades viraram território sem lei. Corpos se amontoavam nas ruas, dentro de igrejas, escolas e casas, e era impossível passar pelas maiores cidades do país sem ver pessoas caminhando pelas ruas e tropeçando nos cadáveres.
      A ONU estava em Ruanda na época do Genocídio mas não agiu para que o massacre fosse evitado. Os boinas azuis, nome pelo qual são conhecidos os soldados de diversas nações que atuam pela ONU, estavam em pequeno número e foram instruídos a atirar somente para se defender de ataques. Mesmo assim, alguns deles foram seqüestrados e mortos por grupos hutus. A ação final da ONU foi a retirada de suas tropas do país.
      A história do massacre dos tutsis em Ruanda é contada em detalhes pelo jornalista Philip Gourevitch em Gostaríamos de Informá-lo de que Amanhã Seremos Mortos com Nossas Famílias (Companhia de Bolso, 2006). Gourevitch foi a Ruanda um ano após o genocídio e traçou o histórico da convivência entre hutus e tutsis até 1994, e a tentativa de reconstrução de Ruanda após a tomada do país pela Frente Patriótica Ruandesa, um grupo de tutsis e hutus que combatiam os perpetradores do genocídio, e que começaram a dar fim ao caos. O país está sendo lentamente reorganizado mas, para um local onde as pessoas “uniram-se ao diabo”, esse processo não é nada simples.

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