A americana Nikki Stern escreve regularmente para alguns dos
principais jornais e revistas de seu país, como o The New York Times, a Newsweek
e a excelente The Humanist. Seu
primeiro livro, Because I Say So: the dangerous
appeal of moral authority (Porque sou
em quem diz isso: o perigoso apelo da autoridade moral, sem edição no
Brasil), trata do perigo a que estamos expostos quando substituímos a razão
pelos pensamentos falhos, sem embasamento ou vindos de falsas autoridades
(nesse grupo você pode incluir celebridades, líderes "espirituais",
militantes políticos, etc. etc. etc.). O segundo livro de Stern é Hope in Small Doses (Esperança em pequenas doses, sem edição
brasileira), uma discussão sobre a possibilidade de alguém ter esperança e
enfrentar a adversidade sem apegar-se a pensamentos mágicos. A autora, que perdeu o marido no atentado ao
World Trade Center em 11 de setembro de 2011, tirou da tragédia a inspiração
para escrever as duas obras.
Entramos em contato com Nikki, que gentilmente respondeu aos
nossos questionamentos sobre os seus livros preferidos, a importância da
leitura e o papel do pensamento crítico na nossa vida cotidiana.
Página Virada: O que você está lendo agora?
Nikki Stern: No momento, estou lendo The Lost Memory of Skin, de Russell Banks. É um livro sobre um tema difícil –
predadores sexuais – mas traz também um olhar excelente sobre o péssimo modo
com que o sistema americano funciona. E é de Russell Banks, o que significa um
realismo evocativo.
PV: Quais livros a influenciaram?
NS: Eu leio muito. É difícil de dizer,
e pode ser mais fácil mencionar alguns autores. Kurt Vonnegut foi uma grande
influência em minha mente, e também na minha escrita; Alice Hoffman (amo seu
estilo sonhador); Mark Twain (estou me preparando para reler muitas de suas
coisas) e, mais recentemente, Rebecca Skloot (The Immortal Life of Henrietta Lacks – obs: obra publicada no
Brasil como A Vida Imortal de Henrietta
Lacks, pela Companhia das Letras) porque ela faz a não-ficção e a ciência
realmente interessantes de se ler.
PV: Por que você pensa que é importante
ler?
NS: A leitura abre sua mente e traz o
mundo até você. Ela fomenta a curiosidade e faz com que você queira conhecer
mais. Enquanto você for curioso, você estará interessado na vida, não importa o
quão difícil ela se torne.
PV: É possível fazer com que as pessoas
leiam mais? Como podemos fazer isso?
NS: Creio que você tem que ensinar às
crianças o valor e o poder não só da informação, que você pode conseguir na
internet, mas das palavras. Nas mãos de um habilidoso autor ou orador, as
palavras podem influenciar, iluminar, entreter e questionar. O ato de ler é
fácil, de amplo acesso, é incrivelmente libertador e te dá uma vantagem sobre
os não-leitores. Eu admito que não entendo as pessoas que dizem não terem tempo
para ler, pois essa tem sido minha atividade preferida por quase toda a minha
vida.
PV: Você escreve para a The Humanist, uma revista que lida com o
livre pensamento e a racionalidade, coisas que estão se perdendo em nossa
sociedade nos dias atuais. Por que você acredita ser importante encorajar o
pensamento crítico?
NS: É importante que nós, humanos,
reconheçamos tanto nossas forças quanto nossas limitações. Umas delas é a
inabilidade para conhecer algo com absoluta certeza, especialmente quando
estamos lidando com as grandes questões. Em outras palavras, quanto maior a
questão (“qual é o sentido da vida” versus
“o quanto de sono é bom para mim?” – essa última você provavelmente responderia
com alguma segurança), menos nós podemos estar absolutamente certos de que
conhecemos a resposta. A outra é que nossos cérebros algumas vezes cometem
erros. Nós nos enganamos, cometemos erros cognitivos. Novamente, não somos
perfeitos. Mas não há problema nisso.
O pensamento critico ajuda você a
navegar pelas toneladas de informação que chegam até você para, primeiro,
priorizar, e, segundo, reexaminar e refletir. Nós automaticamente mensuramos as
novas informações, especialmente aquelas que se referem a nossas crenças estabelecidas,
contra essas crenças, mas isso não é bom o suficiente para dizer “sim, estou de
acordo”, ou “não, não é assim”. Nós não aprendemos nada dessa maneira, e assim
não crescemos ou evoluímos. Me considero uma pessoa progressista e, assim,
apoio a evolução. Tenho confiança suficiente, tanto na ordem natural das coisas
quanto nos humanos, para crer que a evolução humana geralmente ocorrerá em uma
direção positiva. Creio em regras e limites; penso que isso ajuda a sociedade a
trabalhar de modo mais coeso. Mas acredito, do fundo do coração, que as
crianças deveriam ser ensinadas a pensar com cuidado e, sim, a questionar
educadamente antes de aceitar algum conceito, ideia ou crença somente porque
eles ouviram de seus amigos ou parentes, ou leram sobre isso na internet. O
partido político no Texas que se posicionou, em sua plataforma, contra o ensino
do pensamento crítico em escolas (dá para acreditar nisso?) porque ele ensina
as crianças a “questionar a autoridade”, está vindo de um lugar cheio de medo e
retrocesso. Ele teme a mudança e aparentemente não confia que as pessoas, mesmo
as crianças, possam evoluir. Isso é triste e limitante.
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