Há
alguns meses, quando eu voltava de uma caminhada com meus cães, na companhia de
minha irmã, segurei as coleiras bem firmes quando vi o que parecia ser um
cachorrinho preto a cerca de 30 metros de onde estávamos. Comentei com a
Natália que era melhor esperar o cachorro preto sair do meio da rua para
passarmos, porque a Nana fica irritada quando encontra outro de sua espécie que
não seja seu conhecido. Minha irmã concordou, mas disse que poderíamos caminhar
devagar, que assim o cachorrinho se espantaria e fugiria ao encontrar os nossos
cães. Nos aproximamos uns poucos metros, e o que parecia ser um cão agora se
assemelhava a um gato. “Pior ainda”, pensei, “vamos ter que voltar e afastar os
cachorros daqui.” Então minha irmã comentou: “Não, não é um gato, é um saco preto
de lixo que está no meio da rua. Vamos andando.” Voltamos a caminhar, e o que
inicialmente era um cachorro, depois um gato, e agora parecia um saco de lixo
era, na verdade, a bota de um homem. E, por incrível que pareça, a bota não
estava largada no meio da rua. O homem estava de pé, parado, com uma roupa cuja
cor se confundia com a do calçamento naquele início de noite. Ficamos impressionados
com o fato de termos reparado apenas no que víamos no chão, e deixamos de
reparar que aquilo era parte de algo maior, nesse caso um ser humano.
“A
maioria das pessoas é capaz de ver, mas não sabe observar”, teria dito o
médico escocês Joseph Bell, inspiração para Conan Doyle criar o famoso detetive
Sherlock Holmes. De fato, é muito comum percebermos apenas parte de alguma
situação quando tentamos captar seu panorama geral. Muitas vezes, perdemos
detalhes fundamentais: a pessoa que usa a bota, o carro que está vindo em nossa
direção quando atravessamos a rua, o cabelo que nossa namorada cortou há dois
dias, a informação contida no parágrafo que acabamos de ler, etc.
Por
Que Cometemos Erros? Como olhamos sem ver, esquecemos as coisas em segundos, e
temos a absoluta certeza de estarmos acima da média, de Joseph T. Hallinan
(Globo, 2009), é uma obra indicada para quem pretende conhecer um pouco mais sobre
como mecanismos biológicos e aspectos culturais nos predispõem a cometer erros.
Da incapacidade de observar o que está na frente de nosso nariz à
superestimação de nossas reais capacidades, uma coisa é certa: fomos feitos
para errar. E muito.
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