Na
última segunda-feira, dia 20, o Salão de Atos da Reitoria da UFRGS recebeu o
filósofo inglês Simon Blackburn, um dos mais destacados pensadores
contemporâneos. A conferência de Blackburn, chamada “As Grandes Questões da
Filosofia”, abordou temas diversos como o livre-arbítrio, o egoísmo, o bem e o
mal e a importância do ensino da filosofia nas escolas.
Sobre a questão do egoísmo e do
altruísmo, Blackburn afirmou que as pessoas não são tão simples a ponto de
poderem ser consideradas como pertencentes a uma categoria ou a outra. Ao
tratar do tema, Blackburn citou o candidato a vice-presidente do partido
republicano dos EUA, Paul Ryan, e sua paixão pelo trabalho da escritora Ayn
Rand, especialmente A Revolta de Atlas,
uma defesa da busca do interesse próprio e do egoísmo como virtude suprema. Não podemos enxergar as coisas mundanas como
eternas dicotomias, especialmente em áreas como a política e a educação. Um político
defensor da “filosofia” do objetivismo de Rand é sempre uma aposta perigosa.
Boa parte da conferência de Blackburn se
baseou em seu livro Philosophy: the big
questions (Quercus Publishing, 2009), e um dos pontos mais interessantes
tratados por Blackburn foi a questão do livre arbítrio, assunto polêmico que
está na roda de discussões científicas e filosóficas atuais. A tendência
científica é afirmar que não temos o que chamamos tradicionalmente de
livre-arbítrio, mas, para Blackburn, é importante refletir muito mais a
respeito do tema. Para ilustrar a questão de até que ponto somos responsáveis
pelo que fazemos, o filósofo inglês usou um exemplo extraído da antiga
legislação criminal inglesa: se precisamos decidir se um criminoso tem
problemas mentais e, assim, tem sua responsabilidade diminuída ao cometer algum
delito, devemos nos perguntar “ele teria feito isso se houvesse um policial o
observando de perto?”. Se a resposta fosse “sim”, provavelmente o indivíduo em
questão não é tão responsável pelo que faz. Novamente, a questão não é simples,
pois muitas pessoas liquidam o saldo do cartão de crédito mesmo sabendo que a
falência financeira as acompanha de perto.
Falando sobre o bem e o mal, Blackburn
trouxe um jogo de raciocínio clássico: para consideramos algo bom, pensamos que
esse algo é bom por ter valor em si mesmo, ou é bom porque foi determinado por
Deus? Se formos adeptos da primeira opção, podemos seguir um linha moral não
associada à qualquer religião.
O conferencista também tratou de
educação, e afirmou estar feliz por saber que no Brasil a filosofia é uma
matéria escolar (talvez não ficasse muito animado se soubesse como o assunto é tratado nas escolas).
Usando o exemplo de sua própria filha ao falar do necessário estímulo ao
conhecimento que os professores devem dar aos alunos, Blackburn não hesitou: precisamos
estudar as disciplinas técnicas, mas não podemos esquecer da filosofia. A
biologia, a química, a matemática e a física nos fornecem respostas para boa
parte daquilo que buscamos. Para muitos outros assuntos, a filosofia é
indispensável.
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