sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Simon Blackburn no Fronteiras do Pensamento

Por Guilherme

Na última segunda-feira, dia 20, o Salão de Atos da Reitoria da UFRGS recebeu o filósofo inglês Simon Blackburn, um dos mais destacados pensadores contemporâneos. A conferência de Blackburn, chamada “As Grandes Questões da Filosofia”, abordou temas diversos como o livre-arbítrio, o egoísmo, o bem e o mal e a importância do ensino da filosofia nas escolas.
        Sobre a questão do egoísmo e do altruísmo, Blackburn afirmou que as pessoas não são tão simples a ponto de poderem ser consideradas como pertencentes a uma categoria ou a outra. Ao tratar do tema, Blackburn citou o candidato a vice-presidente do partido republicano dos EUA, Paul Ryan, e sua paixão pelo trabalho da escritora Ayn Rand, especialmente A Revolta de Atlas, uma defesa da busca do interesse próprio e do egoísmo como virtude suprema.  Não podemos enxergar as coisas mundanas como eternas dicotomias, especialmente em áreas como a política e a educação. Um político defensor da “filosofia” do objetivismo de Rand é sempre uma aposta perigosa.
        Boa parte da conferência de Blackburn se baseou em seu livro Philosophy: the big questions (Quercus Publishing, 2009), e um dos pontos mais interessantes tratados por Blackburn foi a questão do livre arbítrio, assunto polêmico que está na roda de discussões científicas e filosóficas atuais. A tendência científica é afirmar que não temos o que chamamos tradicionalmente de livre-arbítrio, mas, para Blackburn, é importante refletir muito mais a respeito do tema. Para ilustrar a questão de até que ponto somos responsáveis pelo que fazemos, o filósofo inglês usou um exemplo extraído da antiga legislação criminal inglesa: se precisamos decidir se um criminoso tem problemas mentais e, assim, tem sua responsabilidade diminuída ao cometer algum delito, devemos nos perguntar “ele teria feito isso se houvesse um policial o observando de perto?”. Se a resposta fosse “sim”, provavelmente o indivíduo em questão não é tão responsável pelo que faz. Novamente, a questão não é simples, pois muitas pessoas liquidam o saldo do cartão de crédito mesmo sabendo que a falência financeira as acompanha de perto.
        Falando sobre o bem e o mal, Blackburn trouxe um jogo de raciocínio clássico: para consideramos algo bom, pensamos que esse algo é bom por ter valor em si mesmo, ou é bom porque foi determinado por Deus? Se formos adeptos da primeira opção, podemos seguir um linha moral não associada à qualquer religião.
        O conferencista também tratou de educação, e afirmou estar feliz por saber que no Brasil a filosofia é uma matéria escolar (talvez não ficasse muito animado se soubesse como o assunto é tratado nas escolas). Usando o exemplo de sua própria filha ao falar do necessário estímulo ao conhecimento que os professores devem dar aos alunos, Blackburn não hesitou: precisamos estudar as disciplinas técnicas, mas não podemos esquecer da filosofia. A biologia, a química, a matemática e a física nos fornecem respostas para boa parte daquilo que buscamos. Para muitos outros assuntos, a filosofia é indispensável.

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