terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O mal existe? E quem é ele?


Assim como o amor pelos hambúrgueres e pelos carros, a paixão por armas parece ser parte do imaginário do povo americano. A America’s National Rifle Association (NRA), organização cujo objetivo é proteger o direito à livre posse de armas de fogo, tem quase 2 milhões de fãs no Facebook, e um lobby violento no congresso para impedir que o governo americano elabore algum tipo de restrição ao porte de armas nos EUA.
Mais um massacre ocorrido em uma escola americana traz novamente ao centro das discussões a questão do direito de se possuir uma arma de fogo. Esse tipo de evento também levanta debates sobre que tipo de motivação e de condição mental existe em alguém que comete uma atrocidade dessa magnitude. Sobre esse segundo tópico, duas questões interessantes:

1. No jornal inglês The Guardian, a historiadora Lindsey Fitzharris escreve sobre a medicalização do mal. Segundo ela, partimos do pressuposto de que alguém que mata dezenas em um ato como o da escola de Newtown deve ter algum tipo de problema mental. Assumimos, automaticamente, que somente uma pessoa mentalmente doente é capaz de fazer algo parecido, mesmo sem saber se o atirador tinha algum antecedente que indicasse a presença de um distúrbio mental. Nossa aceitação de “normalidade” não comporta comportamentos tão grosseiros. O artigo completo, em inglês, pode ser lido aqui.

2. Em 1972, o psicólogo americano David Rosenhan fez um dos experimentos mais notáveis do século XX a respeito do comportamento humano. Rosenhan escolheu sete pessoas comuns e as instruiu para que fossem a um hospital psiquiátrico e relatassem estarem ouvindo um barulho que os incomodava, como um baque. O oitavo pseudopaciente foi o próprio Rosenham. Todos os falsos pacientes foram internados em hospitais psiquiátricos, e não houve nenhum psiquiatra que percebeu que lidava com pessoas “normais”. Curiosamente, alguns pacientes das instituições em questão identificavam os pacientes de Rosenhan como indivíduos mentalmente sãos, mas os profissionais responsáveis por eles não conseguiam diagnosticar o mesmo. A conclusão de Rosenhan foi assustadora: em muitos casos, não há meios confiáveis de distinguir pessoas normais de doentes mentais. Assim, em um caso como o do atirador americano, qual é a certeza que podemos ter em determinar que se trata de um sujeito com reais distúrbios mentais? O ato cometido por ele indica isso, mas será que pessoas “normais” nunca fariam coisa parecida?
O artigo de Rosenhan, publicado na revista Science, pode ser lido na íntegra (em inglês), aqui. Para ter uma breve ideia de como foi o experimento de Rosenhan, dê uma olhada aqui.

2 comentários:

  1. Talvez meu comentário seja simplista e irrelevante, mas não sabemos mas distinguir o que é normal do que é anormal.
    Percebemos a violência, mas ela não nos atinge porque vivemos como se aquilo jamais fosse acontecer conosco. Nos mantemos tão distantes uns dos outros que o mal não nos sensibiliza, o sofrimento não nos aflige, o sangue derramado pelas ruas é apenas mais um número estatístico.
    Temos médicos incapazes de elaborar um diagnóstico, advogados corruptos, sem falar nos políticos, professores incompetentes, pais ausentes, família desmantelada, a população trabalhadora vivendo entre muros e grades, enquanto criminosos ficam soltos, aterrorizando e mudando o rumo do que a sociedade entende por bem e mal, e por aí vai.
    Não sei bem onde tudo isso nos levará.
    Parabéns pela postagem, Guilherme.

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  2. Oi Ceres,

    Há pouco tempo, assisti a um documentário que mostrava a facilidade com que se pode matar pessoas em uma guerra. Existem pequenos aviões comandados remotamente, não tripulados, e basta alguém apertar um botão para que se lance uma bomba ou uma rajada de tiros. E a pessoa que aperta o botão pode estar comandando a operação de longe. Esse é, talvez, o aspecto mais extremo da desumanização do mundo contemporâneo. A desumanização também aparece nas circunstâncias que você mencionou no comentário, e não sei onde nos levará.

    Um abraço
    Guilherme

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