De
acordo com o filósofo francês André Comte-Sponville, amor e solidão andam
juntos, “são reflexos de uma mesma luz, que é viver”. Em O Amor a Solidão (Martins Fontes, 2006), Comte-Sponville responde a
perguntas de jornalistas sobre as questões de filosofia costumeiramente tratadas
por ele. Mas não espere um tratado acadêmico de filosofia. Muito diferente
disso, O Amor a Solidão é como uma
conversa informal, na qual filósofo e seus interlocutores discutem o amor, a
solidão, a sabedoria e o desespero (que na filosofia do francês não possui o
sentido negativo que geralmente empregamos para o termo – Comte-Sponville
afirma que devemos viver focados no presente, sem nutrir esperanças em relação
a qualquer coisa).
Li boa parte das obras de Comte-Sponville e
gosto muito de suas ideias, especialmente por buscar nas próprias pessoas, e no
tempo presente, os caminhos para a solução de nossos conflitos e angústias. De
acordo com Sponville, devemos pensar melhor para viver melhor, e por isso a
ênfase na razão como linha mestra de nossas vidas.
No trecho abaixo, extraído de O Amor a Solidão, Comte-Sponville fala
de filosofia e sabedoria:
“Isso
nos traz de volta ao nosso começo. O que é filosofar? É aprender a viver e, se
possível, antes que seja tarde demais! Mas estou me exprimindo mal. É sempre
tarde demais, em certo sentido, o poeta tem razão, e no entanto nunca é nem
cedo demais, nem tarde demais, como dizia Epicuro: a vida não para de se
ensinar a si mesma, de se inventar a si mesma, até o fim, e a filosofia é
apenas uma das formas, no homem, desse aprendizado ou dessa invenção. Portanto é
a vida que vale. A filosofia só tem importância na medida em que se põe a
serviço dela: é a vida pensada em ação e em verdade.
E a sabedoria?
É
a vida vivida, aqui e agora, em ação
e em verdade! Em outras palavras, é nossa vida real, tal como ela é: a
verdadeira vida, a vida verdadeira... Mas dela estamos separados quase sempre,
por nossos discursos sobre ela (e principalmente nossos discursos
filosóficos!), por nossas esperanças, por nossos sonhos, por nossas frustrações,
por nossas angústias, por nossas decepções... É o que seria preciso atravessar,
ultrapassar, dissipar. A sabedoria não é outra vida, que seria preciso
alcançar: é a própria vida, a vida simples e difícil, a vida trágica e doce, eterna
e fugidia... Já estamos nela: só resta vivê-la.”