quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fahrenheit 451


Uma sociedade futurista – que pode ser a atual, considerando a época em que foi escrita a obra –, desumanizada, fortemente influenciada pela mídia e pela tecnologia, e na qual os bombeiros não apagam incêndios, mas os iniciam para manter a ordem social: este é o panorama descrito pelo americano Ray Bradbury em seu clássico Fahrenheit 451 (Globo, 2009).
   O protagonista da obra, Guy Montag, é um bombeiro comum. Diariamente, vai atender a denúncias de pessoas que cometeram o crime de possuir livros em suas casas, e de lê-los. Ele e seus companheiros, então, têm o trabalho de incinerar as obras e impedir que a leitura possa provocar algum tipo de influência nas pessoas. De fato, o medo que as pessoas mudem por causa daquilo que leem não é o motivo oficial para a queima dos livros. O chefe de Montag, Beatty, explica:

...Pelo menos uma vez na carreira, todo bombeiro sente uma coceira. O que será que os livros dizem, ele se pergunta. Aquela vontade de coçar aquele ponto, não é mesmo? Bem, Montag, pode acreditar, no meu tempo eu tive de ler alguns, para saber do que se tratava, e lhe digo: os livros não dizem nada! Nada que se possa ensinar ou em que se possa acreditar. Quando é ficção, é sobre pessoas inexistentes, invenções da imaginação. Caso contrário, é pior: um professor chamando outro de idiota, um filósofo gritando mais alto que seu adversário. Todos eles correndo, apagando as estrelas e extinguindo o sol. Você fica perdido.

   Anestesiado pela familiaridade com o trabalho e pelas circunstâncias sociais, Montag é incapaz de questionar a validade daquilo que faz até encontrar Clarisse, uma jovem inconformada com a sociedade e com a perseguição a quem ousa pensar e buscar novas informações. As conversas com a jovem fazem com que Montag passe a desconfiar da necessidade de seu ofício, e ele também começa a questionar o status quo de sua sociedade.
   Em Fahrenheit 451, Bradbdury narra a trajetória do bombeiro Montag que começa com a inquietação a respeito de sua real função na sociedade, até a sua ruptura com o sistema, uma luta que vai trazer pesadas consequências pessoais a ele.
   Bradbury escreveu Fahrenheit 451 na década de 1950, criando uma espécie de distopia, uma “anti-utopia”, na qual a tecnologia tem o domínio da sociedade e a relação entre as pessoas é reduzida a interações com mídias virtuais. As conversas pessoais, quando existem, são rasas, e os sujeitos, imediatistas. Em sua obra, também, o autor parece ter antecipado algumas das características de nossa sociedade do início do século XXI:

A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário