No final da década de 1930, enquanto
apresentava algumas de suas ideias sobre educação em uma conferência, o
filósofo americano John Dewey dedicou um tempo significativo de sua
apresentação para discutir duas questões basais: o que é, realmente,
“educação”, e quais são as condições necessárias para que possamos rotular algo
como sendo, pura e simplesmente, “educação”?
Dewey preocupava-se com o fato de que a educação estava sendo entendida
mais como um slogan do que como uma realidade. Desse modo, era vital discutir e
compreender o verdadeiro significado do termo educação, e aquilo que a educação
representa, em termos de formação pessoal e profissional, para qualquer pessoa.
Podemos estender a ideia de Dewey, e afirmar que uma sociedade que tenha uma
noção razoável a respeito do significado, conceitual e prático, de educação, é
uma sociedade na qual se valorizam o desenvolvimento pessoal e também as
pessoas que auxiliam outras nesse processo, os professores.
Não sei se existiu outra época em nossa história recente na qual foram
realizadas tantas campanhas a favor da educação. O que vemos em canais de
televisão, rádio, jornais, revistas e sites na internet é uma verdadeira
enxurrada de slogans sobre temas relacionados à vida escolar, que tratam do
respeito aos professores, da importância de se manter crianças e adolescentes
nas escolas, e da necessidade de encontrarmos respostas para os problemas da
educação brasileira. Obviamente, um aspecto positivo dessas campanhas é que
elas mantêm as discussões sobre educação na pauta da imprensa e, espero, da
sociedade. Mas é importante perguntar: seriam essas campanhas algo mais do que
simples slogans?
Tendo por base a multiplicidade de campanhas cujo objetivo é a boa
convivência e o respeito na sociedade (como as campanhas pela segurança no
trânsito, pela paz, pelo respeito aos idosos, etc), e a maneira pela qual essas
campanhas são realizadas e, principalmente, pelo fato de que boa parte de suas
ideias não é realmente incorporada pela maioria de nós, fico temeroso pelo
futuro da educação – educação de verdade – no Brasil.
Encontraremos
boas respostas para a educação e, mais do que isso, poderemos ver, de fato,
melhorias nas condições de nossas escolas, quando deixarmos de repetir o termo
“educação” como um simples slogan, pela força do hábito. Veremos melhores
escolas, melhores alunos e melhores professores (com melhores condições de
trabalho também) quando sentirmos o quão necessária é a educação para construir
um país forte e uma sociedade baseada em valores sólidos. Isso vai acontecer
quando nos indignarmos, de verdade, ao perceber que faltam professores em quase
metade das escolas estaduais no início do ano letivo, quando nos revoltarmos
com o péssimo salário recebido pelos professores, e quando tomarmos como extremo
desrespeito o fato de termos escolas pessimamente estruturadas. Esse é o
primeiro passo. O próximo é escolhermos bem nossos representantes políticos,
observando com cuidado suas propostas – e seu histórico pessoal e profissional
– relacionadas à melhoria da situação educacional em nossa cidade, estado e
país. Também é essencial fiscalizarmos nossos representantes, nos mantermos informados
a respeito do que acontece dentro e fora de nossas escolas, e a cultivar, em
nossas casas, um ambiente favorável ao desenvolvimento de valores como o
respeito, a empatia e a curiosidade. Sem isso, lamento, continuaremos vivendo
em um mundo de ficção, cheio de slogans.
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