sexta-feira, 8 de março de 2013

Libertação Animal


A maior parte de nós, gaúchos, não perde um churrasco no domingo. O que comemos, mas não gostamos de dizer claramente, são pedaços daquilo que há pouco fora uma vaca, um porco ou uma galinha. Pedaços de corpos de animais que morreram por nossa causa, para agradar nosso paladar. Quando questionados a respeito da ética de se confinar animais para o abate, e de todo o sofrimento que esse processo envolve, muitas vezes respondemos que bois, porcos e galinhas são “feitos” para isso mesmo. Opinião semelhante nós ouviríamos de um asiático que se alimenta de carne de cães ou gatos, de um europeu que se alimenta de cavalos, ou de um africano ou sul-americano que se alimenta de macacos. Nosso critério para selecionar aquilo que comemos, e aquilo que evitamos comer, parece ser somente o de simpatia por uma espécie, e não por outra. Um péssimo critério, obviamente, mas que acabou moldando nossa cultura alimentar.
   Em 1975, o filósofo australiano Peter Singer publicou a obra que seria um marco mundial na discussão a respeito dos direitos dos animais não-humanos, “Libertação Animal” (editado no Brasil pela Martins Fontes). Para Singer, nossa relação com as demais espécies animais deve estar pautada na atenção e no respeito ao fato de que eles, da mesma maneira que nós, são capazes de sofrer. Nesse aspecto, Singer ecoa as palavras do filósofo Jeremy Bentham: “A questão não é ‘eles podem raciocinar?’ e nem ‘eles podem falar?’, mas sim ‘eles podem sofrer?’” Se a resposta para a última pergunta for “sim”, então nós precisamos mudar nossas ideias e atitudes em relação aos outros animais, argumenta Singer.
   “Libertação Animal” traz as ideias de Singer a respeito daquilo que temos feito aos animais de outras espécies, e apresenta argumentos muito bons sobre uma necessária mudança em nossa visão, e consideração, do restante do mundo vivo, especialmente dos animais sujeitos a situações de sofrimento físico ou psicológico. As situações de sofrimento descritas pelo autor envolvem animais criados para abate, animais utilizados em experimentos biomédicos e animais utilizados para entretenimento (como em circos), e são chocantes as informações sobre as condições em que os animais são mantidos e tratados. Crueldade, brutalidade e sadismo fazem parte da história de vida de muitos animais, do nascimento até a morte, e é vergonhoso para nós, humanos, saber que ainda os tratamos assim.
   De acordo com o pastor anglicano William Inge, “temos escravizado o resto da criação animal e tratado nossos distantes primos de peles e penas de forma tão malvada que, se eles fossem capazes de formular uma religião, sem dúvida descreveriam o diabo com a forma humana.” Seguimos sendo, sem dúvida, os propagadores daquilo que podemos chamar de “holocausto” para aqueles que não pertencem a nossa espécie. Livros como o de Peter Singer podem nos ajudar a corrigir nossos rumos e a ter uma relação melhor com as outras espécies que dividem o planeta conosco. Se isso ocorrer, os animais nos agradecerão eternamente.

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