sábado, 20 de abril de 2013

Salvem os professores!


O jornal Correio Brasiliense trouxe, em sua edição do dia 08 de abril, uma notícia preocupante: quase 40 mil alunos do Ensino Superior que cursavam alguma licenciatura (curso que forma professores para atuação nos Ensinos Fundamental e Médio) desistiram do magistério mesmo antes de terminarem a graduação. No caso de cursos de licenciatura em Física, um terço dos alunos decidiu mudar de rumos, trocando a possibilidade de atuar como professores em escolas pela oportunidade de trabalhar em uma área diferente, e possivelmente melhor remunerada.
   Pense, prezado leitor, por um momento a respeito da seguinte questão: quais são os fatores que levam alguém a escolher determinada profissão? A remuneração? As condições de trabalho? Uma jornada de trabalho adequada? Um ambiente de trabalho tranquilo? O reconhecimento social da importância da profissão? O amor pela profissão? A realização pessoal por se fazer algo que a própria pessoa considera importante? No caso dos professores, penso que somente as duas últimas perguntas podem nos fornecer respostas razoáveis sobre o porque de alguém querer trabalhar em uma escola brasileira.
   Quando ouvimos protestos em favor de melhorias na educação, na maioria das vezes os relacionamos às lutas dos docentes pelo aumento de seus salários. É, obviamente, uma causa mais do que justa, e que ainda não foi atendida plenamente por nenhum governo aqui no Brasil. Além disso, temos que levar em conta que melhorias na educação não passam apenas por incrementos salariais. Há um mundo de coisas para se modificar, e uma análise breve do dia-a-dia dos professores pode nos dar algumas pistas a respeito dos aspectos sobre o quais temos que prestar atenção.
   Um desses aspectos é o escopo de atuação de um docente. Se há algumas décadas, o maior foco do professor era em como discutir os assuntos da aula com seus estudantes, hoje a situação é outra. Um professor, nos dias atuais, não pode se preocupar apenas em trabalhar os temas de suas aulas com os alunos. Ele também se obriga a abraçar problemas que não são, necessariamente, seus. Assim, um professor atua como pai e mãe de um aluno ao apresentar a ele normas básicas de convivência social, de respeito aos professores, colegas e funcionários da escola, e de como agir com um mínimo de civilidade quando se convive com outras pessoas. Tarefas como essa já são por si sós complexas, e ainda há o agravante que, geralmente, o professor não precisa substituir os pais de apenas um aluno, mas de dezenas deles na tarefa de ensinar aspectos fundamentais da vida em sociedade. “E as famílias, onde estão?”, alguém poderia perguntar, e a resposta talvez fosse “muitas delas estão se preocupando com alguma outra coisa”. Para muitos pais e mães, as escolas não passam de creches para adolescentes.
   O professor é, para mim, o mais corajoso dos profissionais. Somente alguém com uma tendência a comportamentos heróicos pode aguentar uma jornada de 40 horas semanais na sala de aula (e outras tantas horas em casa, preparando e corrigindo trabalhos), trabalhando com um número cada vez maior de adolescentes indisciplinados, perdendo a voz, o sossego e, muitas vezes, a paciência. A recompensa é um salário mirrado no final de cada mês, e poucas palavras de agradecimento de pais e mães.
   Sem dúvida, o cotidiano escolar nem sempre apresenta situações como as que eu descrevi acima, e a vida dos professores não é o roteiro de uma tragédia. Mesmo assim, temo que estamos nos encaminhando para uma era na qual os professores são considerados responsáveis por tudo o que ocorre na escola, da nota dos alunos aos conflitos que ocorrem na instituição. Está na hora de exigirmos mais da sociedade, das famílias e dos alunos, e isso não deve ser feito para diminuir a responsabilidade dos professores, mas para redistribuí-la com justiça entre os docentes e os demais sujeitos que participam do cotidiano escolar.

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