O
jornal Correio Brasiliense trouxe, em sua edição do dia 08 de abril, uma
notícia preocupante: quase 40 mil alunos do Ensino Superior que cursavam alguma
licenciatura (curso que forma professores para atuação nos Ensinos Fundamental
e Médio) desistiram do magistério mesmo antes de terminarem a graduação. No
caso de cursos de licenciatura em Física, um terço dos alunos decidiu mudar de
rumos, trocando a possibilidade de atuar como professores em escolas pela
oportunidade de trabalhar em uma área diferente, e possivelmente melhor
remunerada.
Pense, prezado leitor, por um momento a
respeito da seguinte questão: quais são os fatores que levam alguém a escolher
determinada profissão? A remuneração? As condições de trabalho? Uma jornada de
trabalho adequada? Um ambiente de trabalho tranquilo? O reconhecimento social
da importância da profissão? O amor pela profissão? A realização pessoal por se
fazer algo que a própria pessoa considera importante? No caso dos professores,
penso que somente as duas últimas perguntas podem nos fornecer respostas
razoáveis sobre o porque de alguém querer trabalhar em uma escola brasileira.
Quando ouvimos protestos em favor de
melhorias na educação, na maioria das vezes os relacionamos às lutas dos
docentes pelo aumento de seus salários. É, obviamente, uma causa mais do que
justa, e que ainda não foi atendida plenamente por nenhum governo aqui no
Brasil. Além disso, temos que levar em conta que melhorias na educação não
passam apenas por incrementos salariais. Há um mundo de coisas para se
modificar, e uma análise breve do dia-a-dia dos professores pode nos dar
algumas pistas a respeito dos aspectos sobre o quais temos que prestar atenção.
Um desses aspectos é o escopo de atuação de
um docente. Se há algumas décadas, o maior foco do professor era em como
discutir os assuntos da aula com seus estudantes, hoje a situação é outra. Um
professor, nos dias atuais, não pode se preocupar apenas em trabalhar os temas
de suas aulas com os alunos. Ele também se obriga a abraçar problemas que não
são, necessariamente, seus. Assim, um professor atua como pai e mãe de um aluno
ao apresentar a ele normas básicas de convivência social, de respeito aos
professores, colegas e funcionários da escola, e de como agir com um mínimo de
civilidade quando se convive com outras pessoas. Tarefas como essa já são por
si sós complexas, e ainda há o agravante que, geralmente, o professor não
precisa substituir os pais de apenas um aluno, mas de dezenas deles na tarefa
de ensinar aspectos fundamentais da vida em sociedade. “E as famílias, onde
estão?”, alguém poderia perguntar, e a resposta talvez fosse “muitas delas
estão se preocupando com alguma outra coisa”. Para muitos pais e mães, as
escolas não passam de creches para adolescentes.
O professor é, para mim, o mais corajoso dos
profissionais. Somente alguém com uma tendência a comportamentos heróicos pode
aguentar uma jornada de 40 horas semanais na sala de aula (e outras tantas
horas em casa, preparando e corrigindo trabalhos), trabalhando com um número cada
vez maior de adolescentes indisciplinados, perdendo a voz, o sossego e, muitas
vezes, a paciência. A recompensa é um salário mirrado no final de cada mês, e
poucas palavras de agradecimento de pais e mães.
Sem dúvida, o cotidiano escolar nem sempre
apresenta situações como as que eu descrevi acima, e a vida dos professores não
é o roteiro de uma tragédia. Mesmo assim, temo que estamos nos encaminhando
para uma era na qual os professores são considerados responsáveis por tudo o
que ocorre na escola, da nota dos alunos aos conflitos que ocorrem na
instituição. Está na hora de exigirmos mais da sociedade, das famílias e dos
alunos, e isso não deve ser feito para diminuir a responsabilidade dos
professores, mas para redistribuí-la com justiça entre os docentes e os demais sujeitos
que participam do cotidiano escolar.
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