O texto abaixo foi escrito por David
Owen e publicado na edição asiática da revista “Seleções” (Reader’s Digest), em
abril de 1991. O artigo foi traduzido para o português e está disponível em vários
sites na internet, e eu o publico aqui no blog porque ele expõe um dos objetivos
mais importantes da educação, que é desenvolver pessoas pensantes e que
cultivem o hábito da dúvida.
O
senhor Whitson ensinava ciências para a 6ª série. No primeiro dia de aula ele
nos falou sobre uma criatura chamada cattywampus, um animal noturno extinto
durante a Era do Gelo. Ele passou para os alunos um crânio enquanto falava.
Todos nós fizemos anotações e depois respondemos a um teste sobre a aula.
Quando recebi a prova corrigida fiquei
surpreso. Havia um grande e vermelho X em todas as minhas respostas. Eu havia
falhado. Devia haver algum engano! Eu havia escrito exatamente o que o
professor Whitson havia dito na aula. Então percebi que todos na classe haviam
falhado. O que havia acontecido?
Muito simples, o professor explicou. Ele
havia inventado tudo o que falou sobre o cattywampus. Aquele animal nunca havia
existido, ou seja, toda a informação em nossas anotações estava errada. Nós
esperávamos crédito por respostas erradas?
Desnecessário dizer, nós ficamos revoltados.
Que tipo de teste era esse e que tipo de professor ele era?
Nós deveríamos ter descoberto, o senhor
Whitson disse. Afinal, equanto ele passava o crânio do cattywampus pela sala
(que na verdade era o crânio de um gato), não estava afirmando que não havia
sobrado nenhuma evidência do animal? Ele havia descrito sua incrível visão
noturna, a cor de sua pelagem e muitos outros fatos que ele não poderia saber.
Ele havia dado ao animal um nome ridículo e mesmo assim ninguém havia desconfiado.
Os zeros em nossas provas iriam para a avaliação, ele disse. E eles foram.
O professor Whitson disse que esperava que
aprendêssemos uma lição dessa experiência. Professores e livros didáticos não
são infalíveis. Na verdade, ninguém é. Ele nos disse para nunca deixar nosso
cérebro ficar desatento e a tomar satisfação sempre que pensássemos que ele ou
qualquer livro estivessem errados.
Toda aula com o professor Whitson era uma
aventura. Ainda posso lembrar de algumas aulas de ciências do começo até o
final. Um dia ele nos disse que seu carro era um organismo vivo. Nós demoramos
dois dias para bolar um argumento contrário que ele aceitasse. Ele não nos
deixava sossegar até que houvéssemos provado não só que sabíamos o que era um
organismo, mas também que tínhamos força para defender a verdade.
Nós levamos nosso recém-adquirido ceticismo
para todas as nossas aulas. Isso causou problemas para os outros professores,
que não estavam acostumados a serem desafiados. Nosso professor de história
começava a falar sobre algum assunto e de repente se ouvia alguém limpando a
garganta com força, e alguém dizia “cattywampus”.
Se alguém me pedisse uma proposta para
solucionar os problemas de nossas escolas, ela seria o professor Whitson. Eu
não fiz nenhuma grande descoberta científica, mas ele deu a mim e meus colegas
de classe algo tão importante quanto: a coragem de olhar outra pessoa no olho e
dizer que ela está errada. Ele também nos mostrou que você pode se divertir
nesse processo.
Nem todo mundo vê valor nisso. Uma vez contei
sobre o senhor Whitson a um professor de Ensino Fundamental, que ficou
horrorizado. “Ele não devia ter enganado você assim”, disse. Eu o olhei nos
olhos e disse que ele estava errado.
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