segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Experiências reveladoras e assuntos inacabados

Por Guilherme

Já escrevi aqui sobre De Frente Para o Sol (Agir, 2008), do americano Irvin Yalom, uma obra que fala da visão das pessoas em relação à morte, e explica em que isso pode nos ajudar a entender, e a aproveitar melhor, a nossa vida.
        Um dos principais pontos de Yalom, e motivo desse post, é o que o autor chama de “experiência reveladora”, uma ocasião na qual saímos de nossa zona de conforto e, aparentemente, perdemos o controle de nós mesmos devido a uma enorme tristeza ou a uma mudança brusca em nossa vida. Uma experiência reveladora pode ser a morte de uma pessoa próxima, o término de um relacionamento, a descoberta de uma grave doença, a perda do emprego, uma experiência traumática, entre outras. O pode resultar de positivo em uma situação assim é o que a pessoa faz com esse momento. Experiências reveladoras geralmente provocam a mudança de foco nas prioridades de alguém, assim como propiciam uma revisão da percepção sobre alguns aspectos de sua vida.
        Vivemos em um mundo no qual a palavra “mudança” (no sentido positivo, obviamente) é uma das mais ouvidas. Dizemos que é necessário mudar a maneira como nos relacionamos com as pessoas, mudar nossa percepção sobre o meio ambiente, mudar nossas atitudes no trabalho, no trânsito, com nossa família, com os animais. Mas a mudança nunca acontece.
        Volto a esse tema porque terminei de ler Assuntos Inacabados: a história de um workaholic que optou pela felicidade (Globo, 2011), do jornalista americano Lee Kravitz. Após perder seu emprego, Kravitz se depara com uma situação nova em sua vida: o até então viciado em trabalho, que não tinha muito tempo livre para utilizar com sua família ou amigos, descobriu-se livre para se dedicar a aquilo que quisesse. Kravitz aproveitou a chance e decidiu passar a limpo algumas questões pendentes em sua vida. Ele selecionou dez situações em que havia falhado de alguma maneira para retomá-las e tentar aparar as arestas daquilo que ficou para trás. Alguns dos objetivos de Kravitz eram encontrar uma tia há muito relegada pela família, ligar para um amigo dando-lhes os pêsames pela morte de sua filha, pagar uma dívida de 600 dólares que fora contraída décadas antes, encontrar um amigo que tinha se tornado um monge, falar com um professor que trouxe grande inspiração à vida de Kravitz, e reconciliar seu pai e seu tio. Ao final da jornada, o autor sentiu-se aliviado por conseguir acertar as questões que lhe afligiam há muito tempo. Mais do que isso, Kravitz descobriu que sua vida deveria ter objetivos maiores do que os de seu trabalho.
        Mudanças positivas são como promessas de final de ano, fáceis de serem elaboradas e difíceis de serem levadas a cabo. Não creio que somente uma experiência reveladora como as mencionadas acima possa propiciar uma reavaliação de nossas vidas. Temos os exemplos e o conhecimento do que é melhor fazer. A partir disso, é possível colocar em prática aquilo que temos pensado em ajustar na nossa vida há muito tempo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A contagem para o apocalipse

Por Guilherme

Está prevista para o final do mês de outubro a virada do próximo bilhão na população humana. Ao final de 2011, seremos mais de 7 bilhões de seres humanos na Terra, e esse número chegará, de acordo com previsões otimistas, a 9 bilhões em 2050. As piores previsões indicam que poderemos ser mais de 12 bilhões daqui a 40 anos, o que configuraria uma verdadeira tragédia.
      É possível acompanhar as estimativas do número de habitantes do planeta em tempo real. Podemos assistir ao desenrolar da tragédia (como já escreveu Roger Waters) em tempo real através do site US & World Population Clocks. É interessante acessar o site para ver quantas pessoas vivem na Terra atualmente, e a cada atualização da página o número aumenta em algumas dezenas, ou centenas, de pessoas.
      Tenho lido muito sobre o crescimento populacional humano, e não encontrei sequer UM bom argumento favorável ao aumento de nossa população além do número atual. Ao contrário, todas as grandes mentes que estudam essa questão são unânimes em afirmar que devemos incentivar programas de planejamento familiar eficientes, para que as famílias se organizem de maneira sustentável, e que os pais tenham tempo e recursos suficientes para investir em seus filhos. Em resumo, devemos priorizar a qualidade de vida das pessoas em detrimento da quantidade. É melhor que existam menos indivíduos com boa qualidade de vida do que mais pessoas vivendo em condições deploráveis. Parece simples, mas basta ler alguns dos textos dos links abaixo para ver como na prática isso não é fácil.

Textos de Drauzio Varella sobre planejamento familiar, paternidade irresponsável, e as suas consequências.

Texto do antropólogo americano Garrett Hardin sobre a questão da qualidade de vida X quantidade de habitantes.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Feira do Livro de Antônio Prado é sucesso

Por Guilherme

No último domingo, dia 23/10, terminou a 10ª Feira do Livro de Antônio Prado, evento já consagrado no calendário do Município e que teve como patrona a Sra. Innocencia Bernardi. A Feira, que é o maior evento cultural de Antônio Prado, levou centenas de pessoas à Praça Garibaldi diariamente. Os visitantes puderam assistir a apresentações teatrais, musicais, e palestras com autores consagrados como Airton Ortiz, André Neves (vencedor do Prêmio Jabuti de 2011, na categoria livro infantil, por Obax), Jane Tutikian (patrona da Feira do Livro de Porto Alegre de 2011) e Mário Pirata, entre outros.
O sucesso da Feira se deve ao trabalho primoroso da Secretaria de Educação e Cultura de Antônio Prado e à participação dos livreiros, artistas, escolas e da comunidade pradense.
Meu desafio, por hora, é dar conta de alguns dos quase trinta livros que compramos durante a Feira.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sobre a impaciência

Por Guilherme

Estou relendo alguns trechos de Pergunte a Platão: terapia para quem não precisa de terapia, ou como a filosofia pode mudar a sua vida, de Lou Marinoff (Record, 2006), um livro que procura trabalhar com alguns conceitos filosóficos (bem resumidos, por sinal) para que as pessoas possam obter orientação quando necessitam de alguma ajuda, sem recorrer a psicólogos ou psiquiatras. Marinoff afirma que uma simples mudança no nosso ponto de vista, embasada no conhecimento filosófico, pode ser suficiente para transformar positivamente uma vida.
      Ao longo da obra, Marinoff transcreve algumas frases de pensadores consagrados, como Thoreau, Emerson, Voltaire, Sartre, Platão e Aristóteles. Há uma frase muito interessante do matemático francês Blaise Pascal (1623-1662) que, já naquela época, manifestava a preocupação com um grande problema das pessoas, a impaciência. Penso que ele tinha toda a razão nisso.

A maior parte dos males da vida nasce porque o homem é incapaz de sentar-se em silêncio numa sala.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Frankenstein

Por Natália

Há obras que, mesmo tendo sido escritas há muitos anos, se encaixam tão perfeitamente à realidade atual que justamente por esse motivo merecem ser relidas e apreciadas. Uma dessas obras é Frankenstein, de Mary Shelley, um clássico do terror adaptado inúmeras vezes ao teatro e ao cinema.
Ao contrário do que muitos pensam, Frankenstein não é o monstro, e sim o cientista que o cria. Victor Frankenstein, ao longo de seus estudos, se especializa numa técnica que devolve a vida a organismos mortos. O fascínio de Frankenstein por essa técnica torna-se tão grande que ele, juntando pedaços de vários corpos, cria o que se assemelha a um ser humano. O resultado da obra deixa o cientista enojado, e ele abandona o monstro no laboratório. A criatura, que já havia ganhado vida, sai de seu esconderijo, com raiva de seu criador e com medo do mundo lá fora.
        Quando o boato de que um ser estranho vinha apavorando a vila, o cientista retorna ao laboratório, pois sabe quem é o responsável por causar tanto pavor. Nesse momento, porém, o monstro já está vivendo no bosque, contentando-se em observar (sem ser notado) a calma rotina de uma família. É com o vaivém dessa família que a criatura aprende a ler e fica sabendo das notícias do mundo – e é olhando para o próprio reflexo na água do rio que se dá conta de sua monstruosidade.
        O ser, que até então vivia tranquilamente às escondidas, é finalmente avistado por uns moradores da região, que querem matá-lo. Irritado com isso, o monstro revolta-se com aquele que lhe causou todo esse sofrimento: seu criador. Agora, criador e criatura tentam se encontrar – o primeiro, para acabar com o segundo; o segundo, para destruir o primeiro.
         Frankenstein (L&PM, 2001), de Mary Shelley, foi publicado em 1818 e é resultado de uma aposta entre a autora e Percy Bysshe Shelley, Lord Byron e John Polidori, outros escritores ingleses, para ver quem conseguia escrever a melhor história de horror. Os três outros autores desistiram do projeto, mas Mary Shelley prosseguiu – ela inclusive chegou a sonhar com cenas da trama. Sua história, então, tornou-se muito conhecida – e ainda hoje é considerada como um dos melhores títulos do seu gênero.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Experiências reveladoras e mudanças

Por Guilherme

Acabei de postar um texto no blog Eating our way to civility, do Professor Daniel Blumstein. O texto fala sobre mudanças e experiências reveladoras. Em breve, postarei aqui sobre o mesmo tema.
Para ler o texto no blog de Blumstein, clique aqui.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O mau filho a casa torna

Por Guilherme

Que a educação é tratada como uma brincadeira no Brasil, isso não é novidade para ninguém. Enquanto nos altos escalões se discutem números e índices, questões como a qualidade de ensino, a valorização do professor, a responsabilidade das famílias com a educação das crianças, e a disciplina na sala de aula não são tratadas seriamente. E isso já se reflete nas escolas de todo o país, e na sociedade também. Para usar uma expressão do nobre deputado Tiririca (como é difícil falar sério no Brasil!), algumas escolas são ante-salas do manicômio. Nelas se juntam problemas das mais diversas ordens, e o professor, sempre ele, deve abraçar tudo e fazer o melhor possível.
        A Terceira Lei de Newton, ou princípio da ação e reação é uma metáfora perfeita da situação social de nosso país. Governo e sociedade não se interessam com a educação brasileira, e as nossas escolas e universidades (com a benção das famílias) devolvem à sociedade maus cidadãos e maus profissionais. É o princípio do bateu, levou.
        O caso mais recente da aplicação da Terceira Lei no Brasil aconteceu no Amapá, um dos lugares mais quentes de nosso país tropical. Lá, uma escola foi projetada de modo tão inteligente, e moderno, que as salas de aula substituem a sauna na manutenção da boa saúde dos alunos. A péssima circulação de ar mantém a temperatura acima dos 40 graus nas salas, fazendo com que as crianças, e professores, derretam durante as aulas. A solução foi encurtar o período das aulas, ou procurar locais como corredores e a sombra de árvores para que as lições sigam. É bom lembrar que aqueles que projetaram a escola há alguns anos também estiveram nos bancos de uma instituição de ensino fundamental e médio. Pior: depois disso passaram no vestibular, formaram-se no ensino superior e, em uma demonstração de gratidão pela ótima formação que sempre tiveram, resolveram devolver na mesma moeda. Justo, não?


Mais informações sobre a história estão no site Todos Pela Educação. Clique aqui para ler.