quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Libertação Animal

Por Guilherme

 A editora Martins Fontes lançou recentemente uma nova edição de Libertação Animal, do filósofo australiano Peter Singer. O livro, publicado originalmente em 1975 (no Brasil, a primeira edição saiu em 2006, pela editora Lugano), é um marco na defesa do bem-estar animal no mundo inteiro.
      Singer é adepto da filosofia utilitarista de John Stuart Mill e Jeremy Bentham que, em linhas gerais, defende a maximização da felicidade e a redução do sofrimento para o maior número possível de indivíduos. O australiano vai além e diz que a redução do sofrimento deve ser buscada para todos aqueles que sejam capazes de senti-lo, sejam humanos ou não. E essa é a ideia base de Libertação Animal.
      O livro discute o sofrimento dos animais nas granjas e fazendas industriais, abatedouros e nos laboratórios de pesquisa. Segundo Singer, a utilização de animais nesses locais é abusiva e não considera o interesse deles de não sofrer. A descrição de como os animais são mantidos e tratados nesses locais é perturbadora e revela o pouco caso que fazemos do sofrimento alheio. Aos relatos somam-se algumas fotos das vítimas da indústria da carne e dos laboratórios médicos e farmacêuticos. Nesses, muitos dos procedimentos não são sequer necessários (ou você realmente se importa em ter 10 mil variedades de perfume à sua disposição?), mas ocorrem sem nenhum questionamento ético.
      Os argumentos de Singer não são emocionais (poderiam ser, e ainda assim seriam válidos, no meu ponto de vista), mas se sustentam em um sistema ético bem elaborado, que defende a igual consideração de interesses entre as espécies (para saber mais sobre a filosofia de Singer, uma boa leitura é Ética Prática, publicada pela Martins Fontes em 2002). Se o sofrimento físico é ruim para um humano, o que se pode dizer da situação de uma galinha que passa a vida inteira trancada em um espaço mínimo, sem ter como se movimentar, além de viver sob luz constante, e com o bico quebrado?
      Para finalizar, faço um mea culpa: não posso criticar abertamente a madame que compra uma infinidade de perfumes diferentes, testados em animais, pois não sou vegetariano e, assim, faço parte da indústria da exploração animal. Admiro quem o é e creio, assim como Thoreau, que a sociedade será eticamente mais refinada à medida que mais pessoas abandonarem o consumo de carne. Para quem quer levar uma vida mais significativa, como disse o próprio Singer em Vida Ética (Ediouro, 2002), talvez esse seja um bom começo.

O blog Rancho Alegre transcreveu o prefácio de Libertação Animal. Para ter acesso a ele, clique aqui.

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