domingo, 22 de maio de 2011

Dois Passos Antes da Esquina

Por Guilherme

Aos oitenta anos de idade, Otto se despedia de sua esposa, com quem passara a maior parte de sua vida. Ao pensar na sua companheira, inevitavelmente vinha à sua mente tudo o que haviam feito juntos e os hábitos cotidianos que partilhavam. Sabia que tudo aquilo era passado, e que teria que se adaptar a sua nova condição. Não havia mais a companheira para o chimarrão, para a leitura e discussão dos assuntos do jornal, e para ver as novelas, costume que ele não tinha antes de conhecer a esposa.
      Pouco tempo após o falecimento da esposa, Otto ainda tentava retomar a sua rotina e, ao caminhar pela casa pensando no que poderia fazer com os pertences da companheira, decidiu parar por um momento e observar um dos bens mais valiosos dela, sua coleção de livros. Otto pegou o exemplar de O Nome da Rosa, de Umberto Eco, que sua esposa lia pela segunda vez. O livro estava lá, com sua capa coberta de poeira e com o marcador no local onde a leitura havia parado. Ao manusear o livro, Otto deixou cair um pequeno papel que estava perdido entre as páginas da obra. O bilhete havia sido escrito por sua esposa, e o teor do manuscrito dá um novo sentido aos dias restantes de Otto.
      Dois Passos Antes da Esquina (AGE Editora, 2009), primeiro romance do escritor e jornalista Marcos Fernando Kirst, narra a história da busca de Otto por respostas sobre a sua própria história. O duro caminho que o protagonista percorre, para tentar compreender as razões pelas quais sua vida tomou o rumo que tomou, parece produzir mais perguntas do que respostas.
      Perguntas são o que o leitor certamente fará a si mesmo quando terminar de ler o romance de Kirst. Será que uma vida a dois faz com que as pessoas consigam viver sem esconder segredos? É possível conhecer exatamente quem é nossa esposa/marido? Será que podemos ser nós mesmos quando vivemos com alguém? De todas as questões possíveis, a que me parece mais atordoante é: Em relação àquilo que somos, o que perdemos quando construímos nossas vidas com alguém?

4 comentários:

  1. Mesmo que este livro ainda falte em minha estante, já tive o prazer de lê-lo "uma vez e quase outra inteira", como diria uma amiga. É show de bola!

    J.Cataclism

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  2. Muito honrado com tua leitura atenta, Guilherme, bem como a do J Cataclism. Quando a obra consegue conectar-se com o leitor, o papel do autor está cumprido. Grato pela generosa resenha em teu blog.
    Marcos F Kirst

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  3. Comecei a ler e só larguei o livro ao final.

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  4. Ola, Valdemir.
    Fico honrado em saber que a familia Guzzo (boa parte dela, até agora) apreciou o livro.
    Abraços
    Marcos F Kirst

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