quarta-feira, 28 de março de 2012

A Vida Humana

Por Guilherme

Entre os filósofos que escrevem para o público não-acadêmico, André Comte-Sponville é, certamente, um dos mais talentosos. Já comentei algumas obras do francês aqui em nosso blog, e volto a falar de Comte-Sponville porque estou lendo mais um de seus escritos, A Vida Humana (Martins Fontes, 2009).
A Vida Humana talvez seja um dos trabalhos mais simples e interessantes do autor, que apresenta capítulos curtos nos quais são discutidas diversas etapas (e acontecimentos) de nossas vidas. Há passagens notáveis sobre o trabalho (“engana-se sobre o trabalho quem vê nele apenas um fim em si mesmo ou um valor moral”) e a família (“ninguém é obrigado a ser pai ou mãe; ninguém é dispensado de ser filho ou filha”), mas Comte-Sponville escreve algo fundamental no capítulo denominado “Nascer”:

A liberdade é menos um ponto de partida que um processo, menos um livre-arbítrio que uma liberação. Ninguém é uma escolha absoluta de si; mas ninguém tampouco pode eximir-se de escolher. Ninguém nasce livre; torna-se livre...
        É isso que nos deve tornar exigentes. Essa vida tão improvável que nos é dada, cabe a nós não a desperdiçar. A vida não é um destino, é uma aventura. Ninguém escolheu nascer; ninguém vive sem escolher. Cada qual é inocente de si, mas responsável por seus atos. E responsável, portanto, ao menos em parte, por aquilo que se tornou...
        Toda vida é recebida, dizia eu. Cabe a nós não sermos indignos desse presente que nos foi dado, que é o próprio presente. Loteria da vida: combate da vida. O fato de termos todos nascido por acaso, o que é bastante claro, não é razão para viver ao acaso. Nascer é a primeira chance. Não desperdiçar essa chance, o primeiro dever.

Nenhum comentário:

Postar um comentário