Por Guilherme
Quando o furacão Charley atingiu a Flórida em 2004, muitas pessoas levantaram outras questões além da tradicional “o que vamos fazer agora?”. Subitamente, o preço de produtos básicos, cada vez mais escassos, aumentou em níveis nunca antes vistos. Sacos de gelo que custavam normalmente dois dólares passaram a ser vendidos a dez. Pequenos geradores de energia de 250 dólares eram comercializados a dois mil. Será que o aumento de preços era um reflexo da ganância e do abuso dos vendedores, que se aproveitaram de uma situação de necessidade para lucrar? Ou então o preço alto era um reflexo do valor real dos produtos naquela ocasião, já que o livre mercado tem capacidade de autorregulação e, assim, promove a justiça nas relações comerciais?
O caso acima é o primeiro a ser abordado pelo filósofo político Michael Sandel em Justiça – o que é fazer a coisa certa (Civilização Brasileira, 2011). Sandel é professor na Universidade de Harvard, e leciona um dos cursos mais concorridos de lá, chamado Justice (clique aqui para acessar o site que disponibiliza aulas de Sandel).
O curso originou o livro, que é uma grande aula sobre as diversas correntes da filosofia moral. Sandel apresenta teorias como o utilitarismo de Jeremy Bentham e John Stuart Mill, a ideologia libertária do estado mínimo de Robert Nozick, as ideias kantianas de moralidade, o conceito de equidade de John Rawls (com o famoso princípio da posição original) e a justiça de Aristóteles. Além de explicar a base dessas teorias, o autor discute exemplos de sua aplicação, as comenta e expõe suas deficiências.
Um ponto positivo da obra é a ênfase dada por Sandel a valores como uma vida cívica engajada, comprometida não só com os interesses do próprio indivíduo, mas atenta à existência de outras pessoas. Isso é cidadania. É importante, então, que as pessoas procurem conhecer mais sobre as teorias morais para entender como seu próprio pensamento funciona, e com que tipo de ideia está alinhado. Como escreveu Sandel: “É sempre possível que aprender mais sobre uma doutrina moral ou religiosa nos leve a gostar menos dela. Mas não saberemos enquanto não tentarmos.”
A questão de nosso comprometimento cidadão me faz lembrar uma famosa frase do ex-presidente americano John Kennedy, que sintetiza parte das ideias de Sandel em Justiça:
“Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país.”
Este livro está sendo utilizando em minhas aulas de Filosofia Jurídica e estou adorando. Fantástica abordagem do Sandel.
ResponderExcluirLyane Pires
Oi Lyane,
ResponderExcluirTambém gostei muito desse livro do Sandel. Na lista de minhas próximas leituras está outro livro dele, "O que o dinheiro não compra", que saiu recentemente no Brasil.
Um abraço
Guilherme
Este livro está sendo utilizado pela minha turma na matéria de Teoria da Constituição, é muito legal, porém cansativo.
ResponderExcluir