sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Era da Empatia

Por Guilherme

Perguntado por uma revista religiosa o que mudaria na espécie humana se fosse Deus, o primatólogo holandês Frans de Waal respondeu: “Se eu fosse Deus, me esforçaria para que os humanos alcançassem a empatia.” A empatia é definida como a capacidade de um indivíduo de ser afetado pelo estado emocional de outro e se identificar com ele, adotando a sua perspectiva.
De Waal estuda os grandes primatas há muito tempo. Convivendo com chimpanzés e bonobos, ele observou que a vida desses animais não se resume a competição por recursos e interações agressivas. De fato, esses primatas, nossos parentes mais próximos, passam a maior parte de suas vidas interagindo de maneira pacífica e colaborativa com seus companheiros de grupo, o que requer que esses animais tenham algum grau de entendimento do estado emocional dos outros. Consequentemente, a empatia não é uma característica exclusiva de nossa espécie.
A busca pelas origens da empatia e as consequências dessa condição para os seres humanos são os assuntos tratados pelo autor em A Era da Empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil (Companhia das Letras, 2010). Buscando exemplos do comportamento emocional dos animais, outrora um pecado dentro do ramo das ciências comportamentais, o primatólogo mostra que existem traços de empatia mesmo em seres distantes de nós no ramo evolutivo.
Uma das histórias mais impressionantes narradas por de Waal é a do gato Oscar, que reside em uma clínica geriátrica nos Estados Unidos. Oscar costuma passear de quarto em quarto, cheirando os pacientes, e quando percebe que um deles está prestes a morrer, o bichano permanece no quarto, ronronando, deitado ao lado do paciente. Oscar se retira somente após a morte da pessoa. As previsões do felino têm sido tão certeiras que se considera que ele é capaz de prever a morte com mais precisão do que especialistas humanos. Algumas pessoas interpretam o comportamento de Oscar como uma espécie de assistência aos pacientes. De Waal considera duas possibilidades: ou o gato tenta reconfortar a si mesmo, pois se sente perturbado pelo que está ocorrendo com os pacientes, ou ele tenta reconfortá-los. O holandês não sabe qual é a resposta certa para esse comportamento desconcertante do felino, mas crê ser um erro desconsiderar que ele possa estar relacionado à empatia.
A Era da Empatia é um grande livro sobre as origens evolutivas do comportamento humano. Mais do que isso, é uma obra que nos mostra como é importante olhar com cuidado para nossos companheiros animais e humanos.

Para quem quiser conhecer mais sobre o autor e algumas das histórias narradas no livro, vale a pena dar uma conferida nos links abaixo:

- Site do autor (em inglês)
- Artigo publicado no periódico The New England Journal of Medicine, sobre o gato Oscar (em inglês)
- Notícia publicada em O Globo, sobre o gato Oscar

Um comentário: