Por Guilherme
“Professor procura aluno. Deve ter o desejo sincero de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente”. Isso era o que dizia um anúncio publicado na seção de classificados do jornal. O narrador, ao ler a mensagem, ficou perplexo com a ingenuidade da proposta, uma coisa de malucos, para dizer o mínimo. No entanto, ao lembrar de seus anos de rebeldia juvenil, o homem resolve procurar o tal professor que deseja salvar o mundo. Chegando o local mencionado no jornal, o narrador vê que o professor, na verdade, é um gorila chamado Ismael. Ismael consegue comunicar-se através de telepatia, e utiliza esse artifício para trocar mensagens com seu novo aluno.
Ismael conta a história da dominação humana sobre a natureza, e a sua própria história é um retrato disso, pois o gorila foi retirado de sua vida livre na floresta africana para servir a exposições itinerantes e a zoológicos. Contando a história da evolução humana, e da relação de nossa espécie com as demais, Ismael explica a seu aluno o surgimento da chamada civilização, a partir do cultivo de vegetais e o início da agricultura moderna. Com a agricultura, a nossa população também aumentou, afinal a maior quantidade de alimento possibilitou que um número maior de pessoas vivesse e se fixasse a determinado local. E tudo isso, explica Ismael, foi a solução para alguns dos problemas da humanidade, e o início de outros. A partir da agricultura, os seres humanos se dividiram em dois grupos, de acordo com o gorila: os “pegadores” e os “largadores”. Os primeiros pertencem à civilização, e estão preocupados em produzir, lucrar e se proliferar. Já os largadores podem ser chamados de “selvagens”, são pessoas que vivem à margem da civilização e ainda mantêm um estilo de vida semelhante ao de nossos antepassados. Como o planeta é dominado por “pegadores”, caminhamos para o colapso ambiental e social.
A história do professor e seu aluno em busca da salvação do planeta é contada pelo escritor americano Daniel Quinn em Ismael: um romance da condição humana (Peirópolis, 1998). O romance é repleto de ideias a respeito da evolução das civilizações humanas (nem todas corretas), da relação da humanidade com o mundo ao seu redor e do conceito de que somos o ápice da evolução e a espécie dominante no mundo. Além disso, Quinn cita outros autores, como o antropólogo Peter Farb, e sua teoria a respeito da relação entre a produção de alimentos e a diminuição da miséria. Farb afirmava que quanto mais comida for distribuída para uma população em situação de miséria, maior é a possibilidade de que essa população aumente, e gere ainda mais miséria. Ou seja, a tentativa de diminuir a pobreza apenas pela distribuição de alimento talvez tenha o efeito contrário ao desejado. É uma ideia controversa e polêmica, mas que foge do simplismo que temos visto em nossas terras. Para quem gosta de ler sobre a evolução das sociedades humanas e de nossa civilização, Ismael não é a obra mais recomendada, pois é falha em alguns detalhes históricos. No entanto, para quem procura por um romance repleto de ideias interessantes, e tem interesse na discussão do futuro da humanidade, o livro é altamente recomendável.
Se você quiser conhecer mais a respeito de Daniel Quinn, acesse o site do autor clicando aqui.