domingo, 26 de junho de 2011

Ismael: um romance da condição humana

Por Guilherme

“Professor procura aluno. Deve ter o desejo sincero de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente”. Isso era o que dizia um anúncio publicado na seção de classificados do jornal. O narrador, ao ler a mensagem, ficou perplexo com a ingenuidade da proposta, uma coisa de malucos, para dizer o mínimo. No entanto, ao lembrar de seus anos de rebeldia juvenil, o homem resolve procurar o tal professor que deseja salvar o mundo. Chegando o local mencionado no jornal, o narrador vê que o professor, na verdade, é um gorila chamado Ismael. Ismael consegue comunicar-se através de telepatia, e utiliza esse artifício para trocar mensagens com seu novo aluno.
      Ismael conta a história da dominação humana sobre a natureza, e a sua própria história é um retrato disso, pois o gorila foi retirado de sua vida livre na floresta africana para servir a exposições itinerantes e a zoológicos. Contando a história da evolução humana, e da relação de nossa espécie com as demais, Ismael explica a seu aluno o surgimento da chamada civilização, a partir do cultivo de vegetais e o início da agricultura moderna. Com a agricultura, a nossa população também aumentou, afinal a maior quantidade de alimento possibilitou que um número maior de pessoas vivesse e se fixasse a determinado local. E tudo isso, explica Ismael, foi a solução para alguns dos problemas da humanidade, e o início de outros. A partir da agricultura, os seres humanos se dividiram em dois grupos, de acordo com o gorila: os “pegadores” e os “largadores”. Os primeiros pertencem à civilização, e estão preocupados em produzir, lucrar e se proliferar. Já os largadores podem ser chamados de “selvagens”, são pessoas que vivem à margem da civilização e ainda mantêm um estilo de vida semelhante ao de nossos antepassados. Como o planeta é dominado por “pegadores”, caminhamos para o colapso ambiental e social.
      A história do professor e seu aluno em busca da salvação do planeta é contada pelo escritor americano Daniel Quinn em Ismael: um romance da condição humana (Peirópolis, 1998). O romance é repleto de ideias a respeito da evolução das civilizações humanas (nem todas corretas), da relação da humanidade com o mundo ao seu redor e do conceito de que somos o ápice da evolução e a espécie dominante no mundo. Além disso, Quinn cita outros autores, como o antropólogo Peter Farb, e sua teoria a respeito da relação entre a produção de alimentos e a diminuição da miséria. Farb afirmava que quanto mais comida for distribuída para uma população em situação de miséria, maior é a possibilidade de que essa população aumente, e gere ainda mais miséria. Ou seja, a tentativa de diminuir a pobreza apenas pela distribuição de alimento talvez tenha o efeito contrário ao desejado. É uma ideia controversa e polêmica, mas que foge do simplismo que temos visto em nossas terras.
      Para quem gosta de ler sobre a evolução das sociedades humanas e de nossa civilização, Ismael não é a obra mais recomendada, pois é falha em alguns detalhes históricos. No entanto, para quem procura por um romance repleto de ideias interessantes, e tem interesse na discussão do futuro da humanidade, o livro é altamente recomendável.

Se você quiser conhecer mais a respeito de Daniel Quinn, acesse o site do autor clicando aqui.

5 comentários:

  1. "Ou seja, a tentativa de diminuir a pobreza apenas pela distribuição de alimento talvez tenha o efeito contrário ao desejado. É uma ideia controversa e polêmica, mas que foge do simplismo que temos visto em nossas terras."

    Pois, é - pois, é - pois, é....
    Muito legal essa tua resenha, Guilherme. Atraiu bastante a atenção ao livro. Achei legal também aquele subtítulo colocado pela editora (provavelmente): "Um romance da condição humana" heheheh.

    A título de vendagem (como se fossem "pegadores"), os editores poderiam aproveitar o breve lançamento do novo filme do Planeta dos Macacos (sobre a origem de tudo) para propagandear ainda mais a obra.

    Hoje em dia eu acho até legal quando esses livros que misturam história, ciência e ou estudos com literatura cometem lá suas gafes de pesquisa e investigação. Ou até mesmo quando baseiam-se ferrenhamente em conceitos que, alguns anos além, acabm sendo derrubados. Isso permite-nos comparar ainda mais as informações às quais estamos expostos, sejam elas ditas confiáveis ou não. Gosto especialmente de reler os romances-aventura que tanto ergueram as vendas de editoras como a Planeta, cujo afinco dos autores (constantemente cansativo) acaba sempre puxando o leitor para os mais diversos temas, e acaba gerando um interesse ainda maior - como no caso aí da macacada do assunto de hoje.

    :-D

    Falou!
    J.Cataclism

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  2. Oi J. Cataclism,

    De fato, alguns dos assuntos do livro Ismael acabaram no cinema, no filme "Instinto", com Anthony Hopkins. Não é uma adaptação do romance, mas sim uma história inspirada livremente no livro. Vi esse filme há muito tempo e não lembro direito dele, assim não sei dizer exatamente como as ideias de Daniel Quinn foram abordadas no cinema.

    Um abraço
    Guilherme

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  3. Gostaria de comprar este livro. Com,o faço?

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  4. Creio que você pode encontrá-lo em livrarias virtuais, como a Saraiva, Submarino ou Livraria Cultura. Se não conseguir, vá à Estante Virtual, que lá certamente você vai conseguir comprar o livro.

    Um abraço,
    Guilherme

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  5. Com relação ao livro Ismael o que vocês acham sobre a mensagem em relacao ao nosso sistema juridico ambiental

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