quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Espírito do Ateísmo

Por Guilherme

Na última década, vários livros foram lançados contestando os principais dogmas das religiões organizadas. Autores como Richard Dawkins (de Deus, um Delírio), Sam Harris (de Carta a Uma Nação Cristã), Christopher Hitchens (de Deus Não é Grande) e Daniel Dennett (de Quebrando o Encanto) decidiram tornar públicas as suas ideias sobre questões religiosas, explicando que se pode viver plenamente, e eticamente, sem seguir qualquer tipo de culto a um ser superior. O quarteto ateu foi massacrado por grupos religiosos, que perceberam que o incentivo ao livre pensamento não traria muitos benefícios para boa parte das religiões. Os nomes de Dawkins e de Dennett ainda estão tão ligados ao debate religioso que o principal foco de seus trabalhos nas áreas da biologia e da filosofia, respectivamente, quase não é discutido publicamente.
        A maneira incisiva ao criticar alguns pontos da prática e do discurso religioso, principalmente nos escritos de Dawkins, Harris e Hitchens, fez com que poucas pessoas religiosas tivessem a disposição para ler obras de temática ateísta. E se alguém de fé tiver curiosidade de ler algo sobre o ateísmo, mas não quer se sentir ofendido pela veemência dos ataques à religião, O Espírito do Ateísmo, de André Comte-Sponville (Martins Fontes, 2007) é o livro mais indicado.
        O Espírito do Ateísmo é dividido em três partes. Na primeira, Sponville afirma que podemos viver sem religião, e que a ética e o bom comportamento das pessoas não depende da crença em um ser superior. A segunda parte é dedicada a argumentos a respeito da existência (ou não) de um Criador. Sponville levanta ideias muito interessantes aqui, mas o item principal, no meu ponto de vista, serve mais como uma crítica às pessoas do que qualquer outra coisa: não é possível que um ser perfeito tenha como sua imagem e semelhança o ser humano:
        “Quanto mais conheço a mim mesmo, mais difícil me parece acreditar em nossa origem divina. E quanto mais conheço aos demais, ainda considero isso difícil... Em algum lugar, escrevi que crer em Deus é um pecado de orgulho. Seria atribuir uma grande causa para um efeito tão pequeno. O ateísmo, ao contrário, é uma forma de humildade. Somos filhos da terra (húmus, de onde vem ‘humildade’), e isso se nota... Melhor assumir isso e inventarmos o céu que nos corresponde.”
        A última parte do livro fala sobre a espiritualidade, um termo difícil de definir.  Para o autor, uma vida repleta de espiritualidade é a vida que valoriza a sabedoria, a ética, a fidelidade à verdade e aos princípios e o amor. Espiritualidade é cultivar os bons sentimentos, e isso independe de crenças religiosas.
        Comte-Sponville é conhecido por defender a busca por uma vida plena aqui na Terra, que é a única que temos com certeza. E em O Espírito do Ateísmo ele afirma isso novamente:
        “É o amor, e não a esperança, que nos faz viver; é a verdade, e não a fé, que nos liberta.
        Já estamos no Reino dos Céus: a eternidade é agora.”

2 comentários:

  1. ...começo a gostar um pouco das ideias deste sr. Sponville...

    :-)

    J.Cataclism

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  2. Comte-Sponville, Robert Pirsig, o Calvino de Marcos Kirst... Gostei do blog. Leva a pensar que a extinção de bons leitores não anda tão acentuada por aqui...
    Luciano M.
    lucmallmann@hotmail.com

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