Por Guilherme
Há poucos dias recebi um e-mail de uma colega professora sobre uma reportagem da Revista Veja publicada em junho de 2010, intitulada “Aula cronometrada”. Eu já havia lido a tal reportagem, mas sem muita atenção, porque achei a proposta tão engraçada (se aplicada da maneira descrita) que a jornalista não poderia estar falando sério quando sugeriu que o mesmo poderia ser feito no Brasil. Infelizmente, ela estava.
Depois de receber o e-mail com a cópia da reportagem, li o texto novamente, e fui verificar no site da revista para garantir que ele não havia sido modificado de propósito.
Antes de prosseguir, se você não leu o texto, (não) perca seu tempo e o leia aqui.
O subtítulo da reportagem já poderia nos fazer parar a leitura imediatamente. Um “método aplicado em países de bom ensino” não funciona por mérito próprio, por milagre, por melhor e mais bem elaborado que ele tenha sido. Qualquer coisa funciona quando seu contexto também funciona. Repetimos incessantemente que nossos políticos são um bando de corruptos, mas a sociedade em volta é igual a eles, porque os seres humanos, em geral, não costumam respeitar os interesses alheios, e vivem uma luta incessante para “vencer na vida”, “começar a ganhar dinheiro”, “ter patrimônio” e coisas afins. E fazem isso sem se preocupar muito com a vida de outras pessoas. A diferença é que alguns agem assim em Brasília ou nas sedes de outras instâncias governamentais, e outros nas ruas de todas as cidades do Brasil. Empatia, escreveu o primatólogo Frans de Waal, deveria ser um componente básico na vida de todos nós.
Quando as pessoas de uma sociedade não se portam bem, nenhum aspecto dela pode funcionar direito. A questão é cultural, e isso poucos parecem ter entendido, e quem propõe como “solução” o uso de cronômetros na sala de aula não compreende que aquilo que vemos no interior de uma escola é o reflexo de uma sociedade culturalmente destroçada, cujos valores estão absolutamente invertidos, e em que o sucesso de alguém é avaliado pelo dinheiro, posse ou fama que essa pessoa conquista (muitas vezes por acaso). Não é surpresa que os professores se revelem “incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital.”
A frase mais interessante da reportagem é a que está abaixo da figura: “cronômetros vão ajudar a entender as causas da evidente ineficácia na sala de aula.” Todo mundo sabe as causas da ineficácia do trabalho em sala de aula, e são muitas. No entanto, a raiz da questão está nos problemas de nossa sociedade.
O cronômetro pode funcionar no Japão ou na Finlândia? Sim, mas suponho que nesses países esse tipo de artifício não é necessário para que a educação seja bem-sucedida. Para que implantássemos algo semelhante no Brasil deveríamos lutar, primeiro, para ter uma sociedade organizada e ética como a japonesa, por exemplo. A partir disso poderíamos comprar até cronômetros para serem instalados na sala de aula, mas provavelmente nem se discutiria mais isso.
E você? Faça como os jornalistas da Veja e dê seu palpite: o que falta na sala de aula para a educação entrar nos trilhos em nosso país?
A Revista em questão está superando espectativas (suas espectativas). Há pouco, outro de seus comentaristas, também 'perito' em educação, lançou a ideia de colocar placas em escolas com os índices do IDEP. Imediatemante um afoito Deputado aproveitou para elaborar um projeto de Lei que, esperamos, não passe por nosso seleto Congresso. A Revista Veja vem demonstrando por suas linhas o que não podemos fazder em educação, apenas isso.
ResponderExcluirProf. Valdemir Guzzo
Sugiro "laboratório in loco" para eles - revista e jornalista. Assim, abordarão com maior propriedade sobre o assunto!
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