segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre homens, políticos, e outros animais

Por Guilherme

Estudar o comportamento animal é uma das coisas mais interessantes que existem (apesar de minha irmã insistir em dizer que os temas realmente interessantes são os relacionados à fonologia). Lendo sobre como os animais se comportam, é possível entender alguns padrões, fazer algumas previsões e, a partir de tudo isso, criar um panorama geral de como determinada espécie se comporta. Vi isso quando passei um ano acompanhando bugios na serra gaúcha. Havia lido muito sobre eles antes, e sabia que esses animais passam a maior parte de seu tempo dormindo, que são animais que se deslocam lentamente em comparação a outros primatas arborícolas, e que podem viver bem em pequenos fragmentos de mata. E foi exatamente o que pude observar no grupo que estudei.
        Um dos argumentos a favor da suposta “singularidade” humana é que temos uma gama de comportamentos muito mais ampla que os demais animais. Há um certo fundamento nisso, e essa é a razão de sermos animais tão pouco confiáveis. Quando um cão abana o rabo em posição horizontal para alguém, quer dizer “não há problema, sou seu amigo”. A mesma mensagem é transmitida quando um ser humano sorri para outro, embora em muitas ocasiões não seja exatamente isso que a pessoa esteja pensando.
        Por outro lado, seres humanos são também muito previsíveis. Quem acompanha as eleições americanas, por exemplo, sabe que ser republicano geralmente significa ser cristão, contrário ao aborto e simpático à pena de morte, e também defensor de uma menor intervenção do estado na economia e na vida dos cidadãos. Ser democrata significa quase que o oposto. Na política brasileira, as coisas não são diferentes: partidos de “centro-direita” defendem interesses semelhantes aos republicanos americanos, e partidos de “centro-esquerda” se assemelham aos democratas.
        Infelizmente, falar em “centro-direita” e “centro-esquerda” no Brasil atual não tem sentido algum. Ao que parece, os interesses que prevalecem na política brasileira são os particulares. Um partido que criticava severamente posturas corruptas há alguns anos é o que mais as pratica hoje, e os que criticam a corrupção hoje serão os que se beneficiarão de prática ilícitas no futuro. Podemos saber disso porque as pessoas são previsíveis, muito previsíveis.

        Pode parecer que o assunto tratado nesse post não tem muita relação com que costumamos tratar aqui, mas lembrei disso ao reler Thoreau. Em seu ensaio A Desobediência Civil, Thoreau afirma que existem 999 pessoas que defendem as virtudes para cada uma que as pratica. Penso que nada mudou desde a época do pensador americano até nossos dias.

2 comentários:

  1. O que me admira não é tua boa opinião, à qual os leitores aqui já se habituaram; Mas, sim, que tu ainda não tenha enlouquecido ao continuar fazendo esta ponte entre "aquelas épocas" e as de hoje, pois quase nada mudou, mesmo. Ou até denegriu mais um pouco.

    J.Cataclism

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  2. Oi J.Cataclism,

    Também penso as pessoas têm mudado muito pouco em relação ao que foram há décadas ou séculos. Se há mudança, creio que seja para pior. Na época de Thoreau a virtude tinha pelo menos alguns defensores, hoje talvez nem isso ela tenha.
    Continuo imaginando que um lugar muito bom para se viver realmente exista. Vi ontem uma reportagem sobre Estocolmo, e é impressionante o grau de organização e civilidade da sociedade sueca, coisa que amigos que conhecem o país já haviam me dito. Antes, eu passei algumas horas em Porto Alegre, e confirmei minhas suspeitas de que é um lugar desorganizado, mais bagunçado a cada ano.
    Triste é ter que ouvir nossos conterrâneos dizendo que "moramos no primeiro mundo", que o RS é a "Europa" no Brasil, etc e tal.

    Um abraço
    Guilherme

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