quinta-feira, 22 de março de 2012

Buscando o caminho do meio

Por Guilherme

Uma colega professora, cansada da luta diária na sala de aula, enviou-me um e-mail a respeito de um projeto de lei de autoria de uma deputada paranaense, que estaria tramitando no Congresso Nacional e cujo propósito seria estabelecer responsabilidades aos estudantes do ensino básico brasileiro. Como acredito na veracidade desses e-mails tanto quanto na do Pé-Grande e do monstro do Lago Ness, decidi dar uma investigada na questão, e o conteúdo da mensagem era verdadeiro.
      A deputada em questão é Cida Borges, do PP do Paraná, e sua ideia é incluir um artigo no Estatuto da Criança e do Adolescente criado em 1990. O trecho a ser acrescentado é o seguinte:

Art. 53-A. Na condição de estudante, é dever da criança e do adolescente observar os códigos de ética e de conduta da instituição de ensino a que estiver vinculado, assim como respeitar a autoridade intelectual e moral de seus docentes.
Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput sujeitará a criança ou adolescente à suspensão por prazo determinado pela instituição de ensino e, na hipótese de reincidência grave, ao seu encaminhamento a autoridade judiciária competente.


      Tenho a sensação que as duras punições aplicadas aos alunos algumas décadas atrás, e hoje inaceitáveis, deram lugar à completa libertinagem nas escolas. Fomos do oito ao oitenta, e precisamos encontrar o caminho do meio com urgência. A proposta da deputada, pelo menos, nos faz discutir o que pode ser feito para trazer mais disciplina e tranquilidade ao ambiente escolar.

7 comentários:

  1. Guilherme:
    O comentário é tardio, mas não pude escrever antes.
    Foram várias as razões que me levaram a abandonar a sala de aula e deixar a tarefa de educar a quem realmente tenha vocação. Decidi me dedicar ao jornal e à escrita, mas até hoje me sinto uma espécie de desertor. No entanto, eu me sentia completamente desestimulado por alguns fatores, que enumero a seguir: a) É muito difícil tentar ensinar literatura e língua portuguesa para quem sente verdadeiro horror e desprezo por qualquer espécie de aprendizado ou conhecimento; b) Eu realmente não sabia como fazer para ensinar sobre escritores quando os alunos se negavam a ler, e quando não existiam leituras obrigatórias. Os alunos não aceitavam sequer ler um livro por semestre; c) Para completar, havia a absoluta impossibilidade de obter qualquer coisa que lembrasse vagamente silêncio, respeito e atenção em sala de aula, ainda mais quando a direção do colégio decidiu estabelecer uma lista sem fim de interdições aos professores, lista que nos levava à mais completa paralisia e grande impotência, concedendo aos estudantes um poder absoluto. Eles pagavam caro pelas aulas, e deviam ser respeitados em tempo integral.
    A minha eterna dúvida é a seguinte: entre apostar na inteligência dos alunos e afirmar que eles podem e devem ler para aprender, ou o contrário, isto é, julgá-los incapazes de compreender um texto mais elaborado, sendo necessário fornecer-lhes um resumo detalhadíssimo, o que, entre essas duas alternativas, é mais desrespeitoso aos estudantes? No caso em questão, o caminho do meio não foi além das melhores intenções de um ex-aspirante a professor, que acreditava no potencial de seus alunos.
    Agradeço mais uma vez pela oportunidade, sempre válida, de recordar e fazer comparações entre um passado recente e o atual quadro da educação.
    Um abraço.
    Luciano

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    1. Oi Luciano,

      Há pouco tempo, assisti a uma palestra de um famoso livreiro aqui da Serra. Ele disse que conversa frequentemente com estudantes universitários, e percebe que eles também não fazem qualquer leitura, nem mesmo a de livros técnicos.
      Outra constatação do livreiro: os estudantes universitários compram poucos livros. Um aluno de jornalismo, por exemplo, tinha que adquirir uma edição de bolso de determinado livro, e ficou aborrecido quando soube que o livro custava a fortuna de ONZE reais. O aluno não quis comprar o livro, e ainda reclamou do professor, que havia pedido a leitura.
      Se nossos universitários estão assim, imagine como eles saem de nossas escolas de ensino médio.

      Um abraço
      Guilherme

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  2. "Eles pagavam caro pelas aulas, e deviam ser respeitados em tempo integral." É, "tô pagando, eu posso"...

    Mesmo que não fosse o caso, chega a ser cômico. E o pior é que esse desrespeito vai se apoderando da maioria dos alunos da sala. Quem segura?

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    1. Oi J.Cataclism,

      Essa ideia de "estou pagando, então posso" é um pensamento ridículo. Absurda também é a quantidade de pessoas que usa esse argumento torto. Como você disse, seria cômico se não fosse lamentável.

      Um abraço
      Guilherme

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  3. Guilherme,
    não quis dizer que esse argumento fosse meu. Era um pensamento que se podia concluir facilmente através do modo como os professores deveriam se comportar; havia uma lista de interdições. Fazia parte - e ainda faz - da filosofia da escola não ter alunos descontentes. E isso vigora até hoje, em muitos lugares.
    Abraço.
    Luciano

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  4. PAra completar, ó um professor de 58 anos que levou uma facada, de um aluno, no pescoço. Ele passa bem.

    http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/policia/noticia/2012/03/sinceramente-estou-com-medo-penso-ate-em-me-mudar-relata-professor-caxiense-esfaqueado-em-florianopolis-3707979.html

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    1. ...de um aluno, coisa nenhuma, desculpem. Misturei as notícias.

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