terça-feira, 13 de março de 2012

Notícias sobre a educação no Brasil

Por Guilherme

Apesar de nosso blog ter como foco principal a literatura, temas educacionais não podem ficar muito tempo fora do Página Virada. Na minha família, somos todos professores: pai, mãe, irmã e eu. Por isso, raramente ficamos algum dia sem discutir a situação das escolas e das políticas educacionais em nosso país.
Abaixo, disponibilizo o link para algumas notícias que me chamaram atenção nos últimos dias. É recomendável ler e refletir sobre o que acontece em nossas escolas e em nossa sociedade. Não se pode melhorar um país sem discutir aquilo que é a base da mudança, a formação de seus cidadãos.

Comentário: Certamente há algo de muito errado com alguém que se dá ao trabalho de falsificar um diploma para ser professor.

Comentário: Clássico exemplo de como os números às vezes não refletem a realidade. Penso que 58% é um valor subestimado, e quem conhece um pouco da dinâmica das escolas e de como o aprendizado ocorre nelas sabe disso.

Comentário: No Brasil, o poste urina no cachorro. Incapaz de lutar pelo barateamento dos livros, resta ao governo liberar as cópias.

Comentário: triste realidade a nossa. Famílias sem nenhuma autoridade, que se isentam da educação dos filhos e os mandam para a escola porque não os querem em casa. Em pouco tempo, creio ser mais interessante construirmos creches para adolescentes do que propriamente escolas.

8 comentários:

  1. Em relação à eventual liberação ou não das fotocópias, eu ainda acho que é praticamente igual à pirataria de CDs e DVDs: são caras estas últimas mídias, mas especialmente mais caros os livros. No entanto, é questão de cultura: podem jogar o preço lááááá embaixo que, ainda assim, haverá boa parcela da população pegando o "genérico".

    No entanto, gostei do texto da matéria original; Muito boa a compilação de tudo quanto é tipo de opinião.

    Vejamos os demais temas...

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    1. Oi J.Cataclism,

      Concordo que as cópias de livros são um tipo de pirataria semelhante aos de CDs e DVDs. Nunca comprei um CD ou DVD pirata, e em relação aos livros tenho uns 3 ou 4 em cópias xerox. São livros importados que já saíram de edição e, por isso, não é fácil comprá-los em livrarias ou pela internet. Não gosto de ler em cópias porque isso faz com que parte da atmosfera de uma boa leitura se perca, que é uma edição bem feita de um livro, uma capa legal, e até o cheiro das páginas.
      Voltando à questão da notícia: o que mais me impressiona nessas histórias é a nossa incapacidade de lutar pelo melhor caminho. Os preços dos livros estão altos? Então vamos pensar em um meio de diminuí-los, com edições mais simples (como acontece em muitos livros editados nos EUA e na Europa), por exemplo. Mas nós pensamos ao contrário. Os livros estão caros? Bom, então vamos facilitar outros meios, nem que sejam ilegais, de conseguir o acesso a eles.
      O exemplo das cópías dos livros é, provavelmente, um dos menos problemáticos. Já li em alguns sites que existe uma certa movimentação para abrandar a lei seca, porque não se consegue fiscalizar direito e muita gente que bebe "socialmente" pode ser punida. Ah, e a questão de usar o bafômetro só se for de interesse do bêbado?

      É, o jeito é ter paciência com as coisas e pensar que um dia elas podem ser melhores. Só não sei quando.

      Um abraço
      Guilherme

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  2. Guilherme e J. Cataclism:

    Muito interessante o post; levou-me a reflexões que gostaria de expor e, se for o caso, que me corrigissem. Quando o assunto é educação, sempre tenho esperança de estar errado.

    De início, a expressão “falsos professores”. Pergunto-me, diante do estado atual do ensino superior, em que pessoas podem obter diplomas mesmo saindo das licenciaturas sem a menor qualificação, se os certificados de conclusão são realmente suficientes para atestar que alguém é capaz de passar algum conhecimento aos alunos. Estou longe de querer polemizar, e peço que não me levem a mal. Mas creio que professores autênticos são aqueles que se dedicam ao magistério por vocação e com conhecimento de causa (como parece ser o teu caso, Guilherme, ou seja, de uma família de professores, o que em si já evidencia a vocação). Sei que o piso salarial em si já afasta os maus candidatos. No entanto, sei da existência de inúmeros professores, por exemplo, de Literatura e de Língua Portuguesa que, além se contentarem com o básico e de não dominarem as disciplinas, detestam o que ensinam, o que só faz aumentar o descaso por parte dos alunos. Isso é muito comum, e fico me interrogando que razões levam pessoas assim a dedicar-se ao ensino, sem no entanto obter respostas. Posso falar por mim: o pouco que aprendi sobre literatura me foi ensinado, em grande parte, por profissionais como jornalistas, advogados, médicos etc. É lógico que tive bons professores, mas apenas na graduação.

    Outra questão é referente ao custo dos livros. Sei dos inúmeros casos de pessoas que só não leem mais por falta de recursos. Mas, para a maior parte dos leitores, existem as bibliotecas públicas. Para citar apenas um caso: o acervo público de minha cidade, não obstante estar razoavelmente atualizado, encontra-se às moscas, apesar de todos os estímulos à leitura. Depois de terminar o ensino médio, são raros os jovens que continuam a frequentar as bibliotecas. O que presencio, e me parece que isso não tem muita relação com os preços praticados pelas editoras, é um descaso absoluto quanto aos livros - e ao conhecimento em geral, bem como aos seus detentores, isto é, os professores. O caso da professora mineira agredida é apenas a manifestação física de um desrespeito que nada possui de inédito, de disfarçado ou de sutil: a falta de consideração pela educação e por tudo que se refere a ela.

    Dói-me escrever isso, mas o fato é que, quando o assunto é moda, ninguém se importa em endividar-se mais do que pode. É uma questão de prioridades, de valores e de princípios. Digo isso porque inúmeras vezes emprestei livros, leituras obrigatórias, não só a estudantes do ensino médio como de graduação. Ao ir atrás de exemplares não devolvidos, em alguns casos descobri que tinham sido descartados sem a menor consideração, como material perecível. Incrédulos, esses estudantes ainda me interrogaram por que eu desejava guardar livros que já tinha lido...

    Em suma, o que quero dizer é que o fato de os livros serem algo como “objetos de luxo”, ao menos para quem valoriza seu conteúdo, tem seu significado. Sei o quanto há de discutível e de elitista nesse pensamento, e gostaria imensamente de estar errado. Se for o caso, gostaria, repito, que me corrigissem.

    Perdoem ter me alongado, mas não podia deixar de expor essas considerações.

    Quanto aos rituais que cercam a leitura, por motivos óbvios, deixo o assunto para outra oportunidade.

    Um abraço e obrigado pela oportunidade de refletir.

    Luciano

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    1. Oi Luciano,

      Muito interessante a sua ideia de "falsos professores". Sempre vi o papel docente como uma espécie de sacerdócio, que demanda um conjunto de bons valores e caráter. Infelizmente, educação tem sido um "bico" para muita gente, e muitos desses sequer são exemplos de bons cidadãos.
      Como professor, já participei de várias reuniões com colegas de profissão. É inacreditável o quanto os professores conversam e interrompem reuniões, deixando, às vezes, o próprio palestrante ou coordenador falando sozinho. Depois, quando em sala de aula, esses mesmos professores se sentem terrivelmente ofendidos quando seus alunos conversam ou se distraem.
      Outro detalhe: tente conversar com uma dúzia de professores e peça a eles qual o último livro lido. Garanto que nem metade vai lembrar de qualquer livro que não seja uma obra técnica de sua disciplina. Como, então, incentivar os alunos à leitura?

      Um professor, como qualquer outro profissional, não é um ser humano perfeito. Mas o trabalho docente, formador de cidadãos, exige algo mais do que simplesmente dar aulas. Posso ter uma visão muito romântica das coisas, mas penso que um professor deve, acima de tudo, ser um bom exemplo. Se aquele que ensina não sabe se portar direito, o que podemos esperar dos outros?

      Um abraço
      Guilherme

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  3. "Estou longe de querer polemizar, e peço que não me levem a mal."
    Luciano, TEM de. Se não polemizar um pouco, ninguém se mexe.

    ....

    "(...)estudantes ainda me interrogaram por que eu desejava guardar livros que já tinha lido..."

    É, imagino que essa deva ser uma dúvia cruelíssima da gurizada. Afinal, para que manter um automóvel que já se dirigiu? Ou um game que já se jogou? Ou um pet com o qual já se brincou? Ou uma namorada com quem já saiu? Quissá/talvez, pelos mesmos motivos...
    :-)

    =================

    "Como, então, incentivar os alunos à leitura?"
    Pois é... a eterna dúvida que sempre atormenta, como concluímos alguns tópicos atrás.

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  4. Mais ou menos relacionado, mas aí mais restrito á educação de "aptidões", nesse dia 14/03 saiu uma matéria interessante no Pioneiro.com:

    http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/almanaque/19,812,3691131,Como-os-pais-podem-ajudar-a-desenvolver-a-aptidao-dos-filhos.html

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  5. Não posso deixar de comentar também a questão que, parece-me, é uma das 'chaves' para que se invista em educação. Para aprender, para educar, há dois polos importantes: quem ensina e quem aprende. O interesse, a curiosidade, como diz o J. Cataclism e o Luciano, este aprendeu por sua vontade, são fatores que devem obrigatoriamente estar com o professor e com os alunos. Não vou me alongar, mas posso dizer que passei oito anos atuando no ensino superior(???) e saí por não entender o que o MEC, o que as Universidades querem exatamente com a formação de professores. Se as Instituições que estão encarregadas de organizar o ensino no Brasil pouco preocupadas estão, imaginem a maioria dos nossos alunos. Para finalizar: enquanto professor, formador de futuros professores, eu tinha a necessidade de alunos leitores, curiosos, com visão dos significados da carreira docente. Depois de oito anos, eu poderia contar nos dedos quantos destes alunos eu poderia chamar de estudantes.

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  6. Valdemir, eu só penso na situação, com o "gosto" que deve ter isso que falaste: "(...)eu tinha necessidade de alunos leitores, curiosos, com visão dos significados da carreira docente."


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    Aproveitei a noite de folga na quarta-feira e, chegando ao trecho abaixo do livro que estou a ler, na hora lembrei desse tópico do blog. A atual situação das personagens envolvidas no trecho eu resumo mais abaixo, para não estragar a surpresa de uma eventual leitura por parte dos leitores do blog.
    Aí também recordei desses recentes programas de governo, nos quais os professores precisam ir ás casas dos alunos para ver o que está acontecendo, dependendo do desempenho e, além das polêmicas "horas-extras" fora da sala de aula, além de terem menos tempo para preparar matérias e corrigir trabalhos, ainda precisam bancar de psicólogos, assistentes sociais, juízes de paz matrimonial e assessores administrativos e financeiros das famílias da piazada. É f*!
    Vale lembrar que Tolstói teve grandes dificuldades em suas tentativas de implantar escolas e difundir a importância da educação na Rússia dos anos 1800. Várias dessas peripécias são retratadas nos pensamentos das personagens de seus livros.

    "Anna Kariênina", Liev Tolstoi, Parte 5, página 517, Cossac-Naify (2010).

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    O pai e o professor estavam ambos insatisfeitos com Serioja e, de fato, ele ia muito mal nos estudos. Mas ninguém poderia dizer que era um menino incapaz. Ao contrário, era muito mais capaz do que os meninos que apresentavam como exemplo, para Serioja. Do ponto de vista do pai, ele não queria aprender aquilo que lhe ensinavam. Na realidade, não podia mesmo aprender aquilo. E não podia porque, em sua alma, havia exigências mais prementes para ele do que aquelas que o pai e o professor impunham. Essas exigências estavam em contradição, e o menino lutava abertamente contra os seus educadores.
    Serioja tinha nove anos, era um menino; mas conhecia a própria alma, era preciosa para ele, e a protegia como a pálpebra protege o olho e, sem a chave do amor, não deixava ninguém entrar em sua alma. Os educadores queixavam-se de que ele não queria aprender, mas a sua alma transbordava de sede de conhecimento. E aprendia com Kapitónitch, com a babá, com Nádienka, com Vassíli Lúkitch, mas não com o professor. A água que o pai e o professor esperavam para rodar o seu moinho já fluíra havia muito tempo e movia outras rodas.



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    Contexto:
    Serioja era o filho de um casal que se separara quando ele ainda tinha quatro para cinco anos de idade. A mãe foi embora com o novo amante e o pai e a tia informaram ao guri que a mãe havia morrido, no que ele nunca havia acreditado, e cria plenamente num reencontro com ela.

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