segunda-feira, 19 de março de 2012

Ricos, mas muito pobres

Por Guilherme

Estava discutindo com minha irmã, há alguns dias, sobre como a postura de boa parte dos cidadãos brasileiros é um reflexo, em pequena escala, do momento de nosso país: economicamente fortalecido e culturalmente raso.
      Nossa conversa começou a partir da percepção de como alguns turistas brasileiros, quando estão no exterior, se comportam. Muitos desandam a comprar tudo o que encontram pela frente, e não perdem a chance de ficar a tarde inteira dentro de uma loja quando poderiam aproveitar esse tempo para passear por outros lugares, ver, fazer e conhecer coisas diferentes. Têm muito dinheiro, mas o espírito é pobre. Isso que não comentamos sobre as questões clássicas, como furar fila (passando na frente de mulheres grávidas), gritar em ônibus, largar lixo no chão e tirar foto bem ao lado de um cartaz enorme que contém o desenho de uma máquina fotográfica, com um X vermelho marcado em cima. Inacreditável.
      O Brasil está mais ou menos assim. Enquanto comemoramos (com razão) os bons índices econômicos, temos pouco a comemorar em outras áreas, como a educação, a saúde, a segurança pública e o transporte. Ainda vivemos em lugares pouco civilizados, nos quais não há respeito pela faixa de pedestre, não se joga o lixo dentro da lixeira, não há valorização de profissionais vitais para a sociedade, como professores e policiais, não há uma noção clara de deveres e nem respeito pelos direitos dos outros cidadãos, etc, etc, etc.
      O jornalista David Coimbra, em seu blog, escreveu um texto muito bom sobre o assunto. Preste atenção a esse trecho do artigo:

"Há algo,porém,que nenhuma crise vai tirar da Europa: o espírito. A cultura e a educação que forjaram a civilização europeia, base da civilização ocidental, continuarão entranhados na alma de seus cidadãos, nas pedras das ruas de suas cidades, na sua forma como o cidadão encara a existência. Onde é melhor de se viver? Na pujança do Brasil, da Rússia, da Índia e da China ou em meio à crise europeia?"

E então? Qual seria a sua escolha?

4 comentários:

  1. Em meio à crisa de lá, sempre. especialmente porque ainda há muita gente que acredita piamente que essa "pujança" toda aqui seja real; Vejamos na hora de pagar essa conta (tem muito resultado ruim maquiado lá embaixo).

    Eu demorei a entender aquela da fotográfica com um "X" encima hehehe. É bem por aí, mesmo.

    Do pioneiro de sábado/domingo, se não me engano, saiu uma boa matéria sobre brasileiros que passaram um bom tempo fora e sua dificuldade de readaptação aos hábitos daqui - especialmente em relação ao respeito às regras.

    É de chorar.

    À valorização da carreira de certos profissionais, então....

    :-/

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  2. Oi J.Cataclism,

    Assinamos o Pioneiro, mas não recebemos a edição desse final de semana!
    De qualquer maneira, vi relato semelhante em um artigo publicado no Correio do Povo há algumas semanas. O filho do autor do texto havia voltado do Canadá recentemente, e não entendia como as coisas funcionavam tão bem por lá, e tão mal aqui.
    Precisamos de um choque cultural enorme para sermos um país avançado. Não me refiro somente à educação formal, embora essa também seja necessária. Precisamos entender que a disciplina e o respeito às regras básicas de convivência em sociedade são coisas intrinsecamente valiosas. Infelizmente, falta muito para chegarmos a esse ponto.

    Um abraço
    Guilherme

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  3. Guilherme, nada melhor que tua própria participação na 'Cotidiano', do Pioneiro desta segunda-feira:

    => http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,3706418,1223,19265,impressa.html

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  4. Oi J.Cataclism,

    Enquanto não mudarmos um pouco a maneira de ver as coisas cotidianas (e agir para melhorá-las), seguiremos reclamando, e sofrendo também.
    Nos apegamos a um conceito enganoso de cidadania, segundo o qual somos merecedores de todos os direitos possíveis, mas evitamos falar em nossos deveres. Tive um exemplo disso na semana passada, quando um conhecido disse a uma senhora que o ideal era evitar lavar a calçada com a mangueira, e recebeu a clássica resposta: "mas eu pago pela água." É isso que precisamos mudar.

    Um abraço
    Guilherme

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