Livros
sobre teorias morais, em geral, são complicados e técnicos demais para que o
público leigo se interesse pelo tema e, por isso, ficam restritos a filósofos e
cientistas sociais. São poucos os que se aventuram a escrever um livro que
conjugue o rigor do pensamento filosófico com a facilidade de entendimento de
um livro destinado ao público geral. Um dos que fazem isso com maestria é Mark
Rowlands, filósofo galês, autor de O
Filósofo e o Lobo (já discutido aqui no blog). Outro escritor extremamente
competente na tarefa de levar questões filosóficas para o público de
não-filósofos é o professor de Rowlands, o inglês Colin McGinn.
Há apenas um livro de McGinn publicado no
Brasil, A Construção de um Filósofo:
minha trajetória na filosofia do século XX (Record, 2004), mas a obra do
filósofo é extensa e valorosa. Terminei, ontem, a leitura de Moral Literacy or How To Do The Right Thing
(Hackett Publishing Company, 1992), um pequeno livro pelo qual esperei quase quatro
meses (pela falta de exemplares nos distribuidores) e cujo conteúdo é uma aula
de filosofia e de boa argumentação e organização do pensamento.
McGinn trata de sete temas (animais,
aborto, violência, sexo, drogas, censura e virtude) e, para sustentar cada
discussão, o filósofo aplica o pensamento racional como seu guia. Assim, apesar
da variedade de assuntos do livro, há em cada capítulo um apelo para o
pensamento claro, livre de preconceitos, fantasias, superstições, tabus e
tradições. Mcginn afirma que devemos usar para o pensamento racional o mesmo órgão
que usamos para qualquer outro tipo de pensamento: a cabeça.
O autor sustenta que a moralidade fixa
limites para nossa liberdade pessoal, e harmoniza a questão do que eu quero
fazer versus o que é bom para os outros.
A moralidade, de maneira simples, pode ser considerada como algo que restringe
nossa liberdade. Questões morais, assim, são questões que envolvem o quanto é
razoável restringir a liberdade das pessoas de fazer o que elas querem.
Logo no início, Mcginn deixa claro: ele não
pretende que os leitores concordem com suas opiniões sobre todos os temas. Seu
objetivo, ao invés disso, é fazer com o que o leitor possa articular seus
pensamentos e justificar suas posições morais, criando aquilo que Mcginn chama
de “inteligência moral”, uma habilidade necessária para a tomada de decisões cotidianas,
sejam elas simples (devo comer carne?) ou complexas (o aborto é justificável?).
Abaixo, alguns trechos da obra:
“Se você quer saber se algum tipo de ação é
certa ou errada, então você tem que perguntar como ela é para quem vai
recebê-la. Você não pode somente olhar para como você se sente, o que você
consegue com isso; você tem que considerar como ele se sente, as consequências
de sua ação para ele.”
“Crueldade é crueldade – e uma mera diferença
de espécies não a torna correta.”
“Alguns leitores podem estar imaginando,
ceticamente, por que eles deveriam se importar em serem virtuosos. Por que não
ser uma má pessoa? Que razão há para ser uma boa pessoa? A resposta é
que não há uma resposta – ou nenhuma razão mais profunda, que vá além da
tautologia ‘porque a bondade é boa’. A razão pela qual você deveria ser
virtuoso e não maldoso é apenas que virtude é virtude, e maldade é
maldade.”
“É importante saber ler e escrever. Também é importante
ter alguma proficiência em matemática. Mas mais importante do que isso é a
habilidade de chegar a juízos morais com informação e raciocínio.”
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