quarta-feira, 13 de junho de 2012

Alfabetização Moral ou Como Fazer a Coisa Certa

Por Guilherme

Livros sobre teorias morais, em geral, são complicados e técnicos demais para que o público leigo se interesse pelo tema e, por isso, ficam restritos a filósofos e cientistas sociais. São poucos os que se aventuram a escrever um livro que conjugue o rigor do pensamento filosófico com a facilidade de entendimento de um livro destinado ao público geral. Um dos que fazem isso com maestria é Mark Rowlands, filósofo galês, autor de O Filósofo e o Lobo (já discutido aqui no blog). Outro escritor extremamente competente na tarefa de levar questões filosóficas para o público de não-filósofos é o professor de Rowlands, o inglês Colin McGinn.
    Há apenas um livro de McGinn publicado no Brasil, A Construção de um Filósofo: minha trajetória na filosofia do século XX (Record, 2004), mas a obra do filósofo é extensa e valorosa. Terminei, ontem, a leitura de Moral Literacy or How To Do The Right Thing (Hackett Publishing Company, 1992), um pequeno livro pelo qual esperei quase quatro meses (pela falta de exemplares nos distribuidores) e cujo conteúdo é uma aula de filosofia e de boa argumentação e organização do pensamento.
    McGinn trata de sete temas (animais, aborto, violência, sexo, drogas, censura e virtude) e, para sustentar cada discussão, o filósofo aplica o pensamento racional como seu guia. Assim, apesar da variedade de assuntos do livro, há em cada capítulo um apelo para o pensamento claro, livre de preconceitos, fantasias, superstições, tabus e tradições. Mcginn afirma que devemos usar para o pensamento racional o mesmo órgão que usamos para qualquer outro tipo de pensamento: a cabeça.
    O autor sustenta que a moralidade fixa limites para nossa liberdade pessoal, e harmoniza a questão do que eu quero fazer versus o que é bom para os outros. A moralidade, de maneira simples, pode ser considerada como algo que restringe nossa liberdade. Questões morais, assim, são questões que envolvem o quanto é razoável restringir a liberdade das pessoas de fazer o que elas querem.
    Logo no início, Mcginn deixa claro: ele não pretende que os leitores concordem com suas opiniões sobre todos os temas. Seu objetivo, ao invés disso, é fazer com o que o leitor possa articular seus pensamentos e justificar suas posições morais, criando aquilo que Mcginn chama de “inteligência moral”, uma habilidade necessária para a tomada de decisões cotidianas, sejam elas simples (devo comer carne?) ou complexas (o aborto é justificável?).
    Abaixo, alguns trechos da obra:

Se você quer saber se algum tipo de ação é certa ou errada, então você tem que perguntar como ela é para quem vai recebê-la. Você não pode somente olhar para como você se sente, o que você consegue com isso; você tem que considerar como ele se sente, as consequências de sua ação para ele.

Crueldade é crueldade – e uma mera diferença de espécies não a torna correta.

Alguns leitores podem estar imaginando, ceticamente, por que eles deveriam se importar em serem virtuosos. Por que não ser uma má pessoa? Que razão há para ser uma boa pessoa? A resposta é que não há uma resposta – ou nenhuma razão mais profunda, que vá além da tautologia ‘porque a bondade é boa’. A razão pela qual você deveria ser virtuoso e não maldoso é apenas que virtude é virtude, e maldade é maldade.

É importante saber ler e escrever. Também é importante ter alguma proficiência em matemática. Mas mais importante do que isso é a habilidade de chegar a juízos morais com informação e raciocínio. 

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