terça-feira, 26 de junho de 2012

A Ilha do Dr. Moreau

Por Guilherme

À deriva e fisicamente exausto desde o naufrágio do Lady Vain, o naturalista inglês Edward Prendick é salvo por outro navio e, nele, conhece um médico chamado Montgomery, que auxilia na recuperação de Prendick e cuida de sua saúde. Montgomery não é um passageiro comum, já que deve descer em uma ilha do Pacífico com alguns animais mantidos em jaulas. Além disso, ele tem como servo um sujeito de características físicas brutas, pouco comuns entre as pessoas da época.
        Chegando à ilha, Montgomery recebe ajuda para tirar a carga do navio e é acompanhado por Prendick, que permanece no local apesar de ser avisado de que a ilha é praticamente isolada, pois está distante das rotas comuns de navios no Pacífico.
        Prendick é acomodado em uma pequena habitação, e é aconselhado a trancar as portas e não sair, embora não receba mais detalhes sobre os possíveis perigos que rondam o local. No entanto, aterrorizado com os rugidos do que parece ser um felino submetido a um tratamento brutal, o homem deixa a moradia e passa a vagar pela ilha. Prendick logo percebe que não está sozinho na jornada, e começa a ser perseguido por uma criatura semelhante a um humano, mas não exatamente humana. Sem entender direito o que é que o está perseguindo, Prendick foge e consegue voltar à casa, onde encontra Montgomery. Prendick questiona o médico sobre os animais da ilha, e acaba descobrindo que eles são produto das experiências de um certo Moreau, um fisiologista inglês que se exilou para conseguir realizar seus procedimentos de vivissecção em distintos animais, com propósitos obscuros.
        A saga de Prendick na ilha das bizarras criaturas de Moreau está no genial A Ilha do Dr. Moreau (Alfaguara/Objetiva, 2012), de H. G. Wells. Escrito como uma narrativa em primeira pessoa e originalmente publicado em 1896, o livro pode ser entendido como uma fábula sobre distintas questões morais, algumas bastante novas para a época em que foi escrito, como a ética na experimentação animal. Boa parte das discussões suscitadas pelo livro perduram até hoje: qual é o limite entre animais não-humanos e nós? É possível, realmente, falar em animalidade e humanidade? Em relação à experimentação científica, quais são as suas fronteiras éticas e técnicas?
        Creio que A Ilha do Dr. Moreau pode ser lida também como uma terrível fábula sobre crueldade e insensatez, características que, mesmo considerando todas as bestas do livro de Wells, foram personificadas por um humano.

Indo além:
- Apesar de as criaturas de Moreau serem resultado de enxertos de órgãos e outras partes de corpos, um dos temas que fascina muitas pessoas é a possibilidade de existirem híbridos homens/animais. Existem algumas evidências bem documentadas de que alguns cientistas realmente trabalharam na obtenção de híbridos de seres humanos com outros primatas. Uma dessas tentativas ocorreu na década de 1920, na antiga União Soviética. Na ocasião, cientistas tentaram fertilizar artificialmente fêmeas de chimpanzé com sêmen humano. Também foram testados orangotangos nessa empreitada. Em ambos os casos, não foi possível conseguir um organismo híbrido.
- Ainda sobre híbridos: na década de 1970, um circo americano apresentou um chimpanzé, Oliver, de comportamento bastante incomum. Oliver era capaz de caminhar ereto, como um humano. Além disso, ele tinha poucos pelos na cabeça, ocasionalmente fumava e tinha uma especial atração por humanos, recusando a companhia de outros chimpanzés. As características de Oliver levaram muitas pessoas a imaginar que ele seria um “humanzé”, ou seja, resultado de um cruzamento de um ser humano com um chimpanzé. Oliver nascera no Congo, e lá os chimpanzés eram mantidos como animais de estimação em algumas comunidades, vivendo muito próximos dos humanos. Alguns cientistas fizeram análises de DNA em Oliver, para saber se ele era um chimpanzé ou um híbrido e, apesar de um primeiro exame cromossômico de resultado confuso, exames posteriores não deixaram dúvidas de que Oliver era mesmo um chimpanzé, com os 48 cromossomos característicos da espécie. O fato de Oliver caminhar ereto causou graves danos às suas articulações, e o chimpanzé passou seus últimos anos em santuários de vida selvagem nos EUA. Oliver morreu há pouco, no dia 2 de junho desse ano, depois de viver 54 anos.
- Para conseguir o livro de Wells na íntegra, gratuitamente (mas em inglês), clique aqui e acesse o site do Projeto Gutenberg, que disponibiliza a obra.

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