À
deriva e fisicamente exausto desde o naufrágio do Lady Vain, o naturalista inglês Edward Prendick é salvo por outro
navio e, nele, conhece um médico chamado Montgomery, que auxilia na recuperação
de Prendick e cuida de sua saúde. Montgomery não é um passageiro comum, já que
deve descer em uma ilha do Pacífico com alguns animais mantidos em jaulas. Além
disso, ele tem como servo um sujeito de características físicas brutas, pouco
comuns entre as pessoas da época.
Chegando à ilha, Montgomery recebe ajuda
para tirar a carga do navio e é acompanhado por Prendick, que permanece no
local apesar de ser avisado de que a ilha é praticamente isolada, pois está
distante das rotas comuns de navios no Pacífico.
Prendick é acomodado em uma pequena
habitação, e é aconselhado a trancar as portas e não sair, embora não receba
mais detalhes sobre os possíveis perigos que rondam o local. No entanto, aterrorizado
com os rugidos do que parece ser um felino submetido a um tratamento brutal, o
homem deixa a moradia e passa a vagar pela ilha. Prendick logo percebe que não
está sozinho na jornada, e começa a ser perseguido por uma criatura semelhante
a um humano, mas não exatamente humana. Sem entender direito o que é que o está
perseguindo, Prendick foge e consegue voltar à casa, onde encontra Montgomery.
Prendick questiona o médico sobre os animais da ilha, e acaba descobrindo que
eles são produto das experiências de um certo Moreau, um fisiologista inglês
que se exilou para conseguir realizar seus procedimentos de vivissecção em
distintos animais, com propósitos obscuros.
A saga de Prendick na ilha das bizarras criaturas
de Moreau está no genial A Ilha do Dr.
Moreau (Alfaguara/Objetiva, 2012), de H. G. Wells. Escrito como uma
narrativa em primeira pessoa e originalmente publicado em 1896, o livro pode
ser entendido como uma fábula sobre distintas questões morais, algumas bastante
novas para a época em que foi escrito, como a ética na experimentação animal.
Boa parte das discussões suscitadas pelo livro perduram até hoje: qual é o
limite entre animais não-humanos e nós? É possível, realmente, falar em
animalidade e humanidade? Em relação à experimentação científica, quais são as
suas fronteiras éticas e técnicas?
Creio que A Ilha do Dr. Moreau pode ser lida também como uma terrível fábula sobre
crueldade e insensatez, características que, mesmo considerando todas as bestas
do livro de Wells, foram personificadas por um humano.
Indo
além:
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Apesar de as criaturas de Moreau serem resultado de enxertos de órgãos e outras
partes de corpos, um dos temas que fascina muitas pessoas é a possibilidade de
existirem híbridos homens/animais. Existem algumas evidências bem documentadas de
que alguns cientistas realmente trabalharam na obtenção de híbridos de seres
humanos com outros primatas. Uma dessas tentativas ocorreu na década de 1920,
na antiga União Soviética. Na ocasião, cientistas tentaram fertilizar
artificialmente fêmeas de chimpanzé com sêmen humano. Também foram testados
orangotangos nessa empreitada. Em ambos os casos, não foi possível conseguir um
organismo híbrido.
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Ainda sobre híbridos: na década de 1970, um circo americano apresentou um
chimpanzé, Oliver, de comportamento bastante incomum. Oliver era capaz de
caminhar ereto, como um humano. Além disso, ele tinha poucos pelos na cabeça,
ocasionalmente fumava e tinha uma especial atração por humanos, recusando a
companhia de outros chimpanzés. As características de Oliver levaram muitas
pessoas a imaginar que ele seria um “humanzé”, ou seja, resultado de um
cruzamento de um ser humano com um chimpanzé. Oliver nascera no Congo, e lá os
chimpanzés eram mantidos como animais de estimação em algumas comunidades,
vivendo muito próximos dos humanos. Alguns cientistas fizeram análises de DNA
em Oliver, para saber se ele era um chimpanzé ou um híbrido e, apesar de um
primeiro exame cromossômico de resultado confuso, exames posteriores não
deixaram dúvidas de que Oliver era mesmo um chimpanzé, com os 48 cromossomos
característicos da espécie. O fato de Oliver caminhar ereto causou graves danos
às suas articulações, e o chimpanzé passou seus últimos anos em santuários de
vida selvagem nos EUA. Oliver morreu há pouco, no dia 2 de junho desse ano,
depois de viver 54 anos.
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Para conseguir o livro de Wells na íntegra, gratuitamente (mas em inglês),
clique aqui e acesse o site do Projeto Gutenberg, que disponibiliza a obra.
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