sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A mercantilização da educação no Brasil

Por Guilherme

Nunca tive simpatia por posições políticas extremas. Não penso que o governo tenha que regular todos os aspectos da vida das pessoas, mas também não concordo com quem afirma que as pessoas devem ser totalmente livres em relação ao Estado. Creio que determinados serviços, como a saúde e a educação, mesmo quando oferecidos por instituições particulares, devam estar sob uma regulação rígida do Estado. Quando tratamos dessas questões estamos indo além do que é direito individual, e entramos na consideração de interesses da comunidade e do país. É um direito de todos ganhar dinheiro, ter uma boa vida e, também, enriquecer com o trabalho feito. No entanto, não vejo mérito algum na ação de alguém que cobra  por um serviço essencial, o executa de modo ruim e consegue manter um altíssimo padrão de vida com o lucro desse serviço mal feito.
        Posso estar vivendo em um mundo paralelo e romântico, mas não consigo aceitar que empresas que lidam com planos de saúde possam patrocinar clubes de futebol ao mesmo tempo em que cobram taxas abusivas de seus usuários e, não raramente, os abandonam ou prestam serviços de baixa qualidade quando os pacientes mais necessitam.
        Também não acredito que instituições educacionais possam funcionar como empresas, e colocar como seu objetivo principal o próprio lucro e o de seus acionistas em detrimento de um serviço educacional de boa qualidade. Enquanto partidários de PT e PSDB derramam acusações uns contra os outros em relação a quem é o culpado pela péssima qualidade da educação brasileira, eles deveriam se abraçar e chorar juntos, já que têm a mesma responsabilidade pela tragédia. Na época de FHC o governo incentivou a abertura de grupos educacionais privados, com regulações muito brandas, e o governo Lula (e o atual) manteve uma política parecida, nada fazendo contra os abusos dessas instituições. A situação chegou a ponto de encontrarmos faculdades que permitem que mais de cem alunos se empilhem na mesma sala, uma visão similar a de um depósito de pessoas, incompatível com o que imaginamos ser uma universidade. Talvez eu esteja cismado com isso, mas não me sujeitaria a uma operação com um médico advindo de tal “enturmação”, e também não permitiria que minha casa fosse elaborada por um engenheiro ou arquiteto que cursou uma instituição na qual a educação e a formação profissional estão em segundo plano.
        Discuto esse assunto no blog pois há alguns dias li um artigo muito interessante, escrito por uma professora da Universidade Federal do Pará, que trata da expansão de instituições financeiro-educacionais no Brasil, e discute algumas das consequências disso. O título do artigo é Expansão da privatização/mercantilização do ensino superior brasileiro: a formação dos oligopólios, e o texto pode (deve, eu diria) ser acessado aqui.

3 comentários:

  1. É sempre uma questão complicada. Da maneira que tu mencionou os planos de saúde, por exemplo, fica um pouco mais fácil de tomar alguns parâmetros - e ficar ainda mais indignado. Ou até os antigos - e atuais - modelos de presídios privatizados norte-americanos...

    E ainda com essa coisa de "notas" ou "conceitos" nacionais, o perigo aumenta. Semana passada mesmo teve aquela escola técnica em Canela/RS questionando alguns métodos de conceituação.

    Não sei, mas dá a impressão de que é muita, mas muita coisa para fiscalizar, e ao mesmo tempo muito fácil de burlar.

    J.Cataclism

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  2. Oi J.Cataclism,

    Não vejo a privatização de determinados serviços públicos como errada. Em alguns casos, os serviços acabam melhorando quando saem do comando do estado. Mas isso não ocorre sempre.
    No entanto, fico abismado quando extremistas como Reinaldo Azevedo e seus colegas da Veja exaltam a privatização como se fosse a descoberta do Santo Graal. Quem pode acompanhar o funcionamento de algumas faculdades particulares, e planos de saúde também, sabe que esse tipo de negócio ajudou muito mais os empresários do que a população.
    Vamos ficar aqui por perto. Veja o caso dos pedágios no RS, uma verdadeira mina de ouro. Os trechos concedidos já eram, em sua maioria, construídos, e sequer a manutenção dos trevos foi incluída nos contratos! Os motoristas pagam um valor abusivo pela manutenção, não construção, das rodovias, e muitas vezes esse serviço é ruim e as condições da estrada também (entre Antônio Prado e Flores da Cunha, por exemplo, não há acostamento). Sem dúvida, esse é um ótimo negócio para os donos das concessionárias, mas não tão bom para nós, que utilizamos as rodovias.
    Em relação a o que você escreveu sobre burlar a fiscalização ou questioná-la, anote o que estou te dizendo agora: em pouco tempo o MEC estará sob comando (talvez não direto) dos donos dos grandes conglomerados educacionais. Aí, qualquer coisa será aceitável no ensino superior, desde que promova o lucro de empresários e acionistas.

    Um abraço
    Guilherme

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  3. Héh, bem por aí, mesmo! A privatização parece - PAREEEEECE - ter funcionado na maioria dos países ao redor, mas muito menos aqui. Veja-se o Chile, por exemplo. Mas, ultimamente, algumas bombas na educação têm estourado por lá também.

    Não falo mal, porque sempre vi a privatização, talvez ingenuamente, com bons olhos; Mais pela agilidade e deburocratização da coisa toda (afinal, como tu falou, tem lucro aos PROPRIETÁRIOS envolvidos na coisa - TEM de ser rápido!).

    Esse teu gancho do pedágio também exemplifica legal. No nosso caso, já era: o Estado não quer e não vai mais assumir "dejeitomanêra" o ônus de despachar a iniciativa privada e arcar com futuros custos na folha de aposentadorias. Já espremeram a quantidade de gente no DAER, de três mandatos para cá, e não voltam mais atrás.

    É bem provável, mesmo, que a educação (não só no RS mas a nível federal também) caminhe cada vez mais para este lado.

    Ali em Nova Roma do Sul, por exemplo, que visito todo final de semana, faz tem que há um certo impasse a respeito do suposto dsligamento ou fechamento de uma escola estadual, para que fique funcionando apenas a municipal. Tudo bem, não é privatização, mas já é o Estado querendo empurrar a bola para a Prefeitura.

    J.Cataclism

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