“Nosso país não precisa de futebolistas”,
disse certa vez o Professor Girafales, e mais uma vez ele estava certo em seu
raciocínio (normal para um sujeito que errou somente uma vez na vida). Em
algumas ocasiões, porém, os jogares de futebol são úteis, mesmo que
involuntariamente, por trazerem ao debate público algumas questões muito
importantes. A última declaração brilhante partiu de Jô, atacante festeiro que
parece não se incomodar com a perturbação que causa aos vizinhos, que precisam
conviver com a barulheira das constantes festas promovidas pelo jogador do
Inter. Ao invés de entender que cometeu excessos e tentar agir para
corrigi-los, o jogador foi claro no recado aos vizinhos: “Quem estiver
incomodado que se mude”. Depois dessa, é difícil encontrar maior exemplo de
falta de civismo e de bom senso no convívio social.
O Blog
do Editor da Zero Hora publicou ontem um texto no qual discute as soluções
para a crescente incivilidade que nos rodeia. Não vou repetir os argumentos do
artigo (clique aqui para lê-lo), mas quero me deter em um ponto do problema.
Costuma-se dizer que a educação pode
salvar tudo e todos, e eu tendo a concordar com essa afirmação generalista.
Mas, como professor, ouso dizer que a escola atual não é nenhum antídoto contra
a falta de civilidade. Se pensarmos na educação da maneira como ela é gerida
atualmente, há poucas chances de conseguirmos avanços no campo da cidadania.
Nossas escolas são essencialmente
conteudistas e extremamente preocupadas com o ensino teórico, técnico. Isso não
é de todo ruim, pois qualquer pessoa deve ter uma boa base em matérias
essenciais como português, matemática, ciências e história, por exemplo. O
problema é que algumas disciplinas importantes para a formação dos cidadãos são
subvalorizadas, mesmo dentro das próprias escolas. Se fizermos uma enquete nas
escolas brasileiras, perguntando aos alunos “quais matérias são importantes
para você?”, veremos que entre as últimas colocadas estarão as línguas
estrangeiras, a filosofia e a sociologia. As matérias consideradas importantes
são aquelas pedidas no vestibular ou no Enem, e as escolas encaminham os alunos
para isso, para resolver questões teóricas que eles provavelmente nunca mais
verão depois do vestibular. Um detalhe triste: não é somente na cabeça dos
alunos que matemática é mais importante que filosofia. Muitos professores
também pensam assim.
A formação de bons cidadãos é um trabalho
difícil e, para mim, deve começar na família, a partir de bons exemplos e de ensinamentos
que incentivem o respeito aos outros e a empatia. A escola tem um papel
complementar, discutindo a convivência social e a importância do papel
individual na formação de uma sociedade melhor. A mídia também pode fazer sua
parte, dando menos destaque aos “herois” do Big Brother e aos boleiros, por
exemplo, e valorizando outros profissionais. As autoridades, como bem lembra o
artigo da Zero Hora, também são essenciais ao dar bons exemplos, que andam em
falta por aqui.
O caminho para uma sociedade mais civilizada
é longo, mas possível. E ele passa pela discussão e realização de mudanças
significativas em nossas escolas.
Não há muito o que acrescentar ao que está escrito no blog e no Editorial do jornal. Aqui poderíamos discutir a utilidade ou a inutilidade da Filosofia, mas o mais importante ainda, é procurar saber por anda caminha nossa educação: uma repetição do que já foi produzido ou uma educação de curiosidade e criatividade. Enquanto nossas escola esquecerem ou relegarem a um segundo plano as Artes, a Filosofia e a Educação Física continuaremos a assistir a essa falta de civilidade. Em tempo: o professor de cada uma dessas disciplinas (artes, filosofia, educação física)tem um papel social fundamental e cabe a eles essa descoberta.
ResponderExcluirProf. Valdemir Guzzo
Concordo com o texto do Guilherme e também do prof. Valdemir.
ResponderExcluirEu gostei da resumida dessa frase: "Nossas escolas são essencialmente conteudistas e extremamente preocupadas com o ensino teórico, técnico. Isso não é de todo ruim,(...)". Funcionaria muito bem, e seria o ideal, CASO houvesse educação digna na maioria dos lares. Mas não há e nunca haverá; não neste país.
Vocês lembram daquela matéria, "Educação Moral e Cívica"? Eu adorava, quando criança. Era uma das minhas prediletas, e sempre ouvia falar, em casa, que era essencial. Foi extinta, se não me engano, porque era "herança da ditadura militar".
Eu continuo ranzinza no ponto a seguir: as escolas (a maioria) fazem o possível, mas o tratamento prestado a elas e aos professores faz com que, numa comparação bem indigna, os alunos em maior vulnerabilidade social fora das aulas tenham uma um incentivo tão "animador" quanto os detentos que simplesmente não são devidamente encaminhados aos processos de ressocialização.