sexta-feira, 13 de abril de 2012

A educação é o melhor antídoto para a falta de civilidade?

Por Guilherme

Nosso país não precisa de futebolistas”, disse certa vez o Professor Girafales, e mais uma vez ele estava certo em seu raciocínio (normal para um sujeito que errou somente uma vez na vida). Em algumas ocasiões, porém, os jogares de futebol são úteis, mesmo que involuntariamente, por trazerem ao debate público algumas questões muito importantes. A última declaração brilhante partiu de Jô, atacante festeiro que parece não se incomodar com a perturbação que causa aos vizinhos, que precisam conviver com a barulheira das constantes festas promovidas pelo jogador do Inter. Ao invés de entender que cometeu excessos e tentar agir para corrigi-los, o jogador foi claro no recado aos vizinhos: “Quem estiver incomodado que se mude”. Depois dessa, é difícil encontrar maior exemplo de falta de civismo e de bom senso no convívio social.
      O Blog do Editor da Zero Hora publicou ontem um texto no qual discute as soluções para a crescente incivilidade que nos rodeia. Não vou repetir os argumentos do artigo (clique aqui para lê-lo), mas quero me deter em um ponto do problema.
      Costuma-se dizer que a educação pode salvar tudo e todos, e eu tendo a concordar com essa afirmação generalista. Mas, como professor, ouso dizer que a escola atual não é nenhum antídoto contra a falta de civilidade. Se pensarmos na educação da maneira como ela é gerida atualmente, há poucas chances de conseguirmos avanços no campo da cidadania.
      Nossas escolas são essencialmente conteudistas e extremamente preocupadas com o ensino teórico, técnico. Isso não é de todo ruim, pois qualquer pessoa deve ter uma boa base em matérias essenciais como português, matemática, ciências e história, por exemplo. O problema é que algumas disciplinas importantes para a formação dos cidadãos são subvalorizadas, mesmo dentro das próprias escolas. Se fizermos uma enquete nas escolas brasileiras, perguntando aos alunos “quais matérias são importantes para você?”, veremos que entre as últimas colocadas estarão as línguas estrangeiras, a filosofia e a sociologia. As matérias consideradas importantes são aquelas pedidas no vestibular ou no Enem, e as escolas encaminham os alunos para isso, para resolver questões teóricas que eles provavelmente nunca mais verão depois do vestibular. Um detalhe triste: não é somente na cabeça dos alunos que matemática é mais importante que filosofia. Muitos professores também pensam assim.
      A formação de bons cidadãos é um trabalho difícil e, para mim, deve começar na família, a partir de bons exemplos e de ensinamentos que incentivem o respeito aos outros e a empatia. A escola tem um papel complementar, discutindo a convivência social e a importância do papel individual na formação de uma sociedade melhor. A mídia também pode fazer sua parte, dando menos destaque aos “herois” do Big Brother e aos boleiros, por exemplo, e valorizando outros profissionais. As autoridades, como bem lembra o artigo da Zero Hora, também são essenciais ao dar bons exemplos, que andam em falta por aqui.
      O caminho para uma sociedade mais civilizada é longo, mas possível. E ele passa pela discussão e realização de mudanças significativas em nossas escolas.

2 comentários:

  1. Não há muito o que acrescentar ao que está escrito no blog e no Editorial do jornal. Aqui poderíamos discutir a utilidade ou a inutilidade da Filosofia, mas o mais importante ainda, é procurar saber por anda caminha nossa educação: uma repetição do que já foi produzido ou uma educação de curiosidade e criatividade. Enquanto nossas escola esquecerem ou relegarem a um segundo plano as Artes, a Filosofia e a Educação Física continuaremos a assistir a essa falta de civilidade. Em tempo: o professor de cada uma dessas disciplinas (artes, filosofia, educação física)tem um papel social fundamental e cabe a eles essa descoberta.
    Prof. Valdemir Guzzo

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  2. Concordo com o texto do Guilherme e também do prof. Valdemir.

    Eu gostei da resumida dessa frase: "Nossas escolas são essencialmente conteudistas e extremamente preocupadas com o ensino teórico, técnico. Isso não é de todo ruim,(...)". Funcionaria muito bem, e seria o ideal, CASO houvesse educação digna na maioria dos lares. Mas não há e nunca haverá; não neste país.

    Vocês lembram daquela matéria, "Educação Moral e Cívica"? Eu adorava, quando criança. Era uma das minhas prediletas, e sempre ouvia falar, em casa, que era essencial. Foi extinta, se não me engano, porque era "herança da ditadura militar".

    Eu continuo ranzinza no ponto a seguir: as escolas (a maioria) fazem o possível, mas o tratamento prestado a elas e aos professores faz com que, numa comparação bem indigna, os alunos em maior vulnerabilidade social fora das aulas tenham uma um incentivo tão "animador" quanto os detentos que simplesmente não são devidamente encaminhados aos processos de ressocialização.

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