Malcolm
Gladwell é um jornalista canadense cuja especialidade é escrever obras de um
gênero chamado por americanos e ingleses de “smart thinking”, ou seja, livros
com ideias originais, aparentemente incomuns, que explicam (ou tentam explicar)
os mais variados aspectos do comportamento humano.
Gladwell mantém a mesma fórmula em Fora de Série: Outliers (Sextante, 2008), obra
na qual tenta explicar porque algumas pessoas prosperam em suas atividades enquanto outras, igualmente capazes intelectualmente, não. A justificativa, para o
autor, é um conjunto de fatores sociais, entre eles ter nascido no local e no
momento certo, e estar em um ambiente adequado para seu desenvolvimento
intelectual e pessoal. Para embasar a sua teoria, Gladwell apresenta diferentes
exemplos, aparentemente desconexos, que vão sendo interligados ao longo dos nove
capítulos do livro. A data de
nascimento de jogadores de hockey canadenses, o ano de nascimento de gênios da
informática e da advocacia, aliado ao local onde eles viviam no começo da
adolescência, a nacionalidade dos pilotos de avião, o número de horas de
prática de determinada atividade, como a música – todos esses fatores parecem
estar associados ao sucesso dos profissionais, e aumentam a probabilidade de
que um deles seja um fora de série.
Outliers é
um livro interessante e de rápida leitura. Nele, Gladwell justifica a fama de
bom contador de histórias e a habilidade em juntar casos distintos para
explicar um panorama maior. No entanto, a base do livro é bastante óbvia: um
sujeito fora de série, como Bill Gates ou Paul McCartney, deve ter uma
habilidade natural e uma facilidade em desenvolver seu trabalho com qualidade,
além de estar no local certo, na hora certa, encontrando pessoas certas. Isso
não é novidade alguma.
Após terminar Outliers fiquei pensando em um argumento que li há algum tempo, e
que de certa maneira ilustra a teoria de Gladwell. Gandhi foi um grande líder
pacifista porque era, acima de tudo, uma boa pessoa, motivada por ideais
nobres. Entretanto, as circunstâncias foram fundamentais para que sua luta tivesse
sucesso. Imagine se Gandhi tivesse nascido na Europa, na década de 1910, e
durante a Segunda Guerra Mundial estivesse em luta contra a Alemanha.
Certamente seus esforços pacifistas não teriam qualquer valia, já que ele seria
morto pelos nazistas em sua primeira manifestação pela paz. Imagino quantas
pessoas de índole semelhante a Gandhi habitaram a Europa na época da Segunda
Guerra, e penso no tremendo azar que elas tiveram por encontrarem-se em tais
circunstâncias.
Questões alheias a nós, como mostrou
Gladwell, podem nos tornar Outliers. Elas podem, da mesma forma, nos destruir.
Olá!
ResponderExcluirPensei em comprar esse livro um dia desses. Meu interesse aumentou mais ainda com a sua resenhaCom sua resenha.
Guilherme, acompanhado seu blog, e já li varios livros que voce comentou por aqui.
Gostaria de uma dica. No texto voce fala de Gandhi, tenho muita vontade de ler um livro sobre ele... algo que fale sobre suas ideias, maneiras de pensar, suas realizaçoes... Voce pode me indicar algum?
Abraços,
Erika
Oi Erika,
ResponderExcluirNão conheço nenhum livro sobre Gandhi, mas deve existir alguma boa biografia dele disponível em português.
Aproveito e indico a você a leitura das obras de Henry David Thoreau, um pensador americano que influenciou boa parte dos líderes pacifistas do século XX, como Gandhi e Luther King. Dos trabalhos de Thoreau, o mais famoso é o manifesto "A desobediência civil", um pequeno ensaio que discute as obrigações morais do indivíduo com a sociedade e o Estado. Vale a pena ler também "Walden", um relato dos anos de isolamento de Thoreau em um bosque do nordeste dos EUA.
Um abraço
Guilherme