quinta-feira, 31 de maio de 2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Vandana Shiva no Fronteiras do Pensamento
Por
Guilherme
Na
última segunda-feira, dia 28, a ativista ecológica indiana Vandana Shiva esteve
em Porto Alegre para palestrar no Programa Fronteiras do Pensamento.
Não conhecia as ideias de Shiva antes de
acompanhar a sua conferência, mas algumas de suas posições são bem
interessantes. No início, ela argumentou que a dualidade homem X natureza ainda
continua presente, e a nossa insistência em negar que somos parte da natureza é
uma das causas da negligência humana com o meio ambiente.
Shiva também deixou muito claro que se opõe
ao grande poder que as multinacionais exercem sobre os governos atualmente.
Hoje somos parcialmente governados por políticos, pois boa parte das políticas
públicas é definida por empresas com forte lobby sobre os governos. O exemplo
dado por Shiva foi a atuação da Monsanto na Índia (a empresa atua em vários
países, inclusive o Brasil), que patenteou diversas sementes e variedades de
grãos, aumentou seu poder sobre a produção agrícola naquele país e reduziu o
espaço dos produtores locais que, com poucas opções, acabaram virando reféns de
mercado da Monsanto.
Quando ouvi a argumentação de Shiva
lembrei imediatamente das grandes corporações educacionais e das indústrias de
planos de saúde aqui no Brasil. Hoje, por exemplo, é impossível algum Ministro
da Educação acenar com a hipótese de redução ou limitação no número de alunos
nas salas do Ensino Superior. A explicação é simples: algumas faculdades
acabaram se tornando grupos gigantescos com poderio financeiro enorme, e cujo
alcance político é igualmente assombroso. Se algum Ministro se pronunciar sobre
algo que possa diminuir os ganhos absurdos dessas instituições, como a redução
do número de alunos por turma (que passam de 120, em algumas faculdades), ele
estará fora do governo no dia seguinte. Somos governados por corporações, não
por governos, e sucumbimos aos seus interesses sem perceber isso.
Outro detalhe importante da apresentação
de Shiva foi a sua crítica ao consumismo. Vivemos em um mundo cheio de dinheiro
(mal distribuído, diga-se de passagem), mas que também está cheio de pessoas
infelizes. Nos Estados Unidos, segundo Shiva, é grande o número de pessoas que
recorrem a antidepressivos para conseguir tocar a vida diária. Vale dizer que
esse é o país mais poderoso do planeta, e um dos mais ricos também. A conclusão
parece óbvia, mas é importante discutir como podemos viver de maneira menos
atrelada aos ganhos financeiros e mais ligada a outros valores, como o afeto, a
empatia, a civilidade e a cultura.
Consumo, aliás, é o antigo termo dado à
tuberculose. Do mesmo modo que a tuberculose consumiu a vida de inúmeras
pessoas em séculos passados, nossos hábitos desenfreados de consumo podem acabar
fazendo o mesmo, de outras maneiras.
domingo, 27 de maio de 2012
Por Que As Pessoas Acreditam Em Coisas Estranhas?
Por
Guilherme
As
passagens abaixo estão em Por Que As
Pessoas Acreditam Em Coisas Estranhas? – pseudociência, superstição e outras
confusões de nossos tempos (JSN Editora, 2011), do americano Michael
Shermer. Shermer estará em Porto Alegre no dia 27 de agosto para palestrar no
programa Fronteiras do Pensamento. Seu livro é uma preciosidade em uma época na
qual pretensos possuidores de poderes mediúnicos, conspiracionistas e outros
charlatões prosperam às custas de nossa propensão em acreditar em qualquer
coisa.
“A ciência se funda na convicção de que a
experiência, o esforço e a razão são válidos; a magia, na crença de que a
esperança não pode falhar, nem o desejo enganar.”
Citação
de Bronislaw Malinowsky, p. 39
“Hume fazia distinção entre um ‘ceticismo
antecedente’, tal como o método de René Descartes de duvidar de tudo que não
tenha um critério ‘antecedente’ infalível de crença, e o ‘ceticismo consequente’,
o método que Hume empregou, que reconhece as ‘consequências’ dos nossos
sentidos falíveis, mas corrige-os por meio da razão: ‘um homem sábio faz com
que sua crença seja proporcional à evidência’. Não saberíamos encontrar
palavras melhores para o lema cético.”
p.
74
“Quem tem que provar o que para quem? A
pessoa que faz a afirmação extraordinária é que precisar arcar com o ônus de
provar aos especialistas e à comunidade em geral que a sua crença tem maior
validade do que a aceita por quase todos os demais. Tem-se que fazer
intermediações para a nova opinião ser ouvida. Depois, tem-se que arregimentar
especialistas na defesa dela para convencer a maioria a apoiá-la e a abandonar
a opinião antes apoiada. Por fim, quando estiver em maioria, o ônus da prova
passará a quem estiver do outro lado e quiser contestar a afirmação vigente a
partir das suas próprias não usuais.”
p.
79
“Nós céticos temos a tendência de muito
humana de nos comprazer em derrubar o que já acreditamos ser uma bobagem. É
divertido identificar o raciocínio falacioso de outras pessoas, mas essa não é
bem a questão. Como pensadores céticos e críticos, devemos ir além das nossas
reações emocionais, pois, ao compreender como foi que os outros erraram e como
a ciência está sujeita ao controle social e a influências culturais, podemos
melhorar a nossa compreensão de como o mundo funciona. Por isso é tão importante
compreender a história tanto da ciência como da pseudociência. Se olharmos para
o quadro geral, vendo como esses movimentos evoluem, e entendermos como o seu
pensamento deu errado, não cometeremos os mesmos erros. O filósofo holandês do
século 17 Baruch Spinoza colocou isso de maneira perfeita: ‘Tenho me esforçado
sempre para não ridicularizar, não deplorar, não desprezar as ações humanas,
mas tentar compreendê-las.’”
p.
89
“...Infelizmente, o corolário é que os
humanos com excessiva frequência se dispõem a agarrar-se a promessas não
realistas de uma vida melhor ou a acreditar que uma vida melhor só pode ser
conseguida prendendo-se à intolerância e à ignorância, depreciando a vida dos
outros. E, às vezes, ao ficarmos focados numa vida futura, perdemos o que temos
nesta vida. Trata-se de uma fonte diferente de esperança, mas é esperança de
qualquer modo: esperança de que a inteligência humana, combinada com compaixão,
possa resolver nossa miríade de problemas e melhorar a qualidade de cada vida;
esperança de que o progresso histórico continue a sua marcha em direção a
maiores liberdades e aceitação para todos os humanos; e esperança de que a
razão e a ciência, assim como o amor e a empatia, possam ajudar a compreender o
nosso universo, nosso mundo e a nós mesmos.”
p.
310
domingo, 20 de maio de 2012
“I’ve just got to get a message to you, hold on”
Por Guilherme
Boa
parte do que sei de inglês se deve ao hábito de ouvir músicas nesse idioma
desde a infância. Comecei com Pink Floyd, Creedence, Dire Straits e Paul
McCartney. Junto com
essa turma, estava a banda dos irmãos Gibb, os Bee Gees.
Fiquei triste ao saber que, com a morte de
Robin, o único dos irmãos que ainda pode ser ouvido é Barry. Lembro que Robin
Gibb tinha show marcado para Porto Alegre no ano passado, e eu estava
combinando com minha irmã para irmos vê-lo. Infelizmente, por problemas de
saúde, Robin precisou cancelar o show e nós perdemos a chance de acompanhar
seus grandes sucessos ao vivo.
Robin se foi, mas seu trabalho solo e,
principalmente, as coisas que fez com seus irmãos, serão contempladas por muito
tempo por aqueles que gostam de música popular internacional.
Se você não conhece o trabalho de Robin e dos Bee Gees, não deixe de ouvir os clássicos abaixo:
Too much heaven (uma de minhas favoritas)
sábado, 19 de maio de 2012
A Lei de Cambpell na prática?
Por
Guilherme
Em
um post anterior, escrevi sobre Vida e
Morte do Grande Sistema Escolar Americano (Sulina, 2011), de Diane Ravitch,
uma aula sobre políticas educacionais escrita por uma das maiores especialistas
no assunto.
Há inúmeros pontos interessantes no livro
de Ravitch, mas vou destacar apenas um neste post pois penso que o momento é
propício para isso. Ravitch cita Donald Campbell, criador de um aforismo
bastante conhecido no campo das ciências sociais, e que se aplica perfeitamente
na questão das avaliações educacionais e dos índices que delas resultam.
De acordo com a Lei de Campbell:
“Quanto
mais qualquer indicador social quantitativo for usado para tomada de decisões
sociais, mais ele será sujeito a pressões corruptoras e mais apto ele estará
para distorcer e corromper os processos sociais que ele deve monitorar.”
Resumindo a conversa: se os índices de
reprovação diminuírem no Rio Grande do Sul nos próximos anos, devemos
interpretar isso como a) uma melhora no ensino gaúcho; b) uma diminuição no
nível de exigência dos professores; c) a solicitação, por parte do governo, de
um regime de aprovação facilitado; ou d) uma maquiagem nos dados, para que a
situação não pareça tão feia.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Números
Por
Guilherme
-
13,1 é a porcentagem de reprovação
de estudantes de Ensino Médio no Brasil;
-
No Rio Grande do Sul, o índice de reprovação dos alunos do Ensino Médio é de 20,7%, o mais alto no país;
-
Na rede de escolas públicas do Pará, a porcentagem de repetência é de inacreditáveis
62%;
- Aproximadamente 92% dos professores
que fizeram o concurso público estadual, no RS, não foram aprovados no exame;
-
100 é porcentagem de certeza de que
a educação brasileira, reflexo de nossa sociedade, está em processo de colapso.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Os bichos, os livros e eu
Por
Guilherme
Comprei
no ano passado um livro extraordinário sobre animais, Animal Life (DK, 2008), de Charlotte Uhlenbroek. Animal Life é um guia visual sobre o
comportamento animal e sobre a enorme variedade de espécies que dividem o
planeta conosco, e é uma leitura mais do que recomendada para quem gosta de
aprender sobre a vida dos animais.
Há poucos dias, tirei esse livro da
estante e comecei a folheá-lo aleatoriamente. Enquanto observava as fotos, me
peguei pensando naqueles que foram o primeiro grande interesse da minha vida,
os animais. Desde pequeno, sempre fui fascinado por bichos. Nas viagens de
carro, era comum meus pais pararem o carro para que eu pudesse olhar um rebanho
de vacas pastando placidamente em algum campo. Quando visitava minha avó em
Veranópolis, uma atividade sagrada era pegar alguns ramos de funcho e ir até o
antigo seminário para alimentar as cabras e ovelhas que ficavam por lá. Eu
ficava completamente fascinado ao dar funcho aos bichos, que eram mais altos
que eu na época, e comiam até o saco de papel no qual eu colocava o alimento
deles. A jornada ficava completa, para mim, quando íamos depois ao clube de
caça e pesca, onde eu caminhava ao redor do lago e jogava pão aos patos e
gansos que nadavam por lá.
Minha admiração pela vida animal me
conduziu a outra paixão: os livros. Era Natal e eu devia ter em torno de uns 8
anos de idade. Meu pai pegou a filmadora e começou a registrar o pessoal da
família abrindo os presentes, animado, na sala da casa da minha avó em
Veranópolis. A câmera me enquadrou, sentado no sofá, com as pernas que sequer
chegavam perto de tocar o chão, segurando um grande pacote no colo, e muito
curioso. Comecei a abrir o pacote e vi uma caixa de papelão, na qual estava
escrito “Os Bichos”. Eu abri um pouco a caixa e percebi que “Os Bichos”, na
verdade, era uma coleção de livros sobre animais. Imediatamente olhei para a
câmera e gritei: “Mãe, olha! Os bichos! Os bichos!” A memória muitas vezes nos
prega peças, mas eu não hesitaria em dizer que foi um dos momentos de maior
euforia na minha vida. Uma coleção de livros sobre animais, o que mais uma
criança fascinada pelo assunto poderia querer?
Meu interesse pelos animais e pela
leitura segue até hoje, firme e forte, e um foi impulsionado pelo outro, como
em um ciclo de retroalimentação. Depois de guardar o livro de Uhlenbroek na
estante, fiquei satisfeito por ter tido uma infância bastante rica em estímulos
à minha curiosidade. Além de poder ver e interagir com animais em inúmeras
ocasiões, também tinha acesso a livros sobre eles (e com seis ou sete anos de
idade já sabia dos hábitos de animais como o babirusa, o gnu e o guepardo em
detalhes). O acesso e interesse pelos livros também se expandiram, e uma das
consequências disso pode ser vista neste blog, nos livros sobre os quais
comento.
No entanto, ao sentimento de satisfação
pela influência dos animais e dos livros em minha vida se seguiu um lamento.
Quantas crianças podem, hoje, ter uma infância realmente interessante, cheia de
estímulos ao intelecto? Vejo adultos pouco interessados em qualquer coisa que
não seja seu trabalho ou dinheiro, que não têm curiosidade em conhecer nada
além do que recebem passivamente pela TV, e que sequer fazem questão de
conhecer. Seus filhos, salvo milagre, crescerão de maneira parecida. É uma pena
que muitas crianças crescerão sem ter algo como “Os Bichos” por perto.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano
Por
Guilherme
Entre
os estudiosos contemporâneos das políticas educacionais, poucos são tão
destacados quanto a americana Diane Ravitch. Ravitch trabalhou nos governos de
George Bush (o pai) e Bill Clinton, escreveu inúmeros artigos e livros sobre
educação e atuou como professora e pesquisadora em destacadas universidades
americanas.
O último livro de Ravitch, Vida e Morte do Grande Sistema Escolar
Americano: como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação
(Sulina, 2011) deve ser leitura obrigatória para professores e políticos que
tomam decisões sobre os rumos da educação brasileira, pois é uma espécie de
“tapa de luva” para quem imagina que a educação americana tem muito a nos
ensinar.
Estamos nos atrelando a algumas práticas e
modelos educacionais de resultado bastante discutível, como a avaliação (e
absoluta responsabilização) dos professores a partir do desempenho de seus
alunos em testes padronizados e a abertura de capital privado na administração
de escolas e instituições de ensino superior. Para alguns comentaristas, parte
da solução para os graves problemas educacionais brasileiros é diminuir a
interferência e controle do estado sobre os estabelecimentos de ensino,
deixando que “empresários da educação” (não sei se esse profissional existe,
mas creio que não deveria existir) apliquem a lógica do mercado no campo
educacional. Não tenho muita experiência com isso, mas vivi algumas situações
que me dizem que esse pensamento pode nos levar a um colapso social a partir da
formação de profissionais de baixa qualificação e de rasa formação cultural, um
perfeito exemplo da lógica “lucros individuais, prejuízos coletivos”. Quando se
prioriza dinheiro em detrimento de qualidade da educação, em uma instituição
educacional, é sinal de que algo está terrivelmente errado.
Vida
e Morte do Grande Sistema Escolar Americano apresenta uma argumentação
detalhada e consistente, com extensas referências sobre as questões comentadas
acima. Um ponto de destaque é que Ravitch era uma defensora de parte das
políticas que hoje condena, e sua opinião mudou com a experiência cotidiana em
instituições de ensino e através da observação de exemplos de como uma gestão
empresarial da educação pode ser danosa a alunos e professores.
Abaixo, transcrevo duas passagens do
primeiro capítulo do livro que merecem a leitura e reflexão.
“Há alguma coisa de confortadora sobre a
crença de que a mão invisível do mercado, como Adam Smith a chamou, trará
melhorias através de alguma força desconhecida. Na educação, essa crença nas
forças do mercado permite que nós reles mortais saiamos da forca, especialmente
aqueles que não descobriram como melhorar as escolas de baixa performance ou
como romper com a lassidão de adolescentes desmotivados. Ao invés de lidar com
problemas rancorosos, como de que forma ensinar a ler ou como melhorar a
testagem, pode-se redesenhar a administração e a estrutura do sistema escolar e
concentrar-se em incentivos e sanções. Não é preciso saber nada sobre crianças
e educação. O apelo do mercado é a ideia de que a libertação das mãos do
governo é a solução por si só. Essa ideia é muito tentadora, especialmente
quando tantas reformas escolares aparentemente bem planejadas falharam em
atender às expectativas.
Os novos reformadores corporativos demonstram sua precária compreensão
da educação construindo falsas analogias entre a educação e o mundo
empresarial. Eles pensam que podem consertar a educação aplicando princípios de
negócios, organização, administração, lei e marketing, e pelo desenvolvimento
de um bom sistema de coleta de dados que proporcione as informações necessárias
para incentivar a força de trabalho – diretores, professores e estudantes – com
recompensas e sanções apropriadas.”
“É tempo, eu acho, de aqueles que querem
melhorar nossas escolas focarem nos elementos essenciais da educação. Nós temos
que garantir que as nossas escolas tenham um currículo forte, coerente e
explícito, que seja enraizado nas artes e ciências, com muitas oportunidades para
as crianças se engajarem em atividades e projetos que tornem o aprendizado
vívido. Nós precisamos garantir que os estudantes ganhem o conhecimento que
precisam para compreender debates políticos, fenômenos científicos e o mundo em
que vivem. Nós precisamos nos certificar de que eles estão preparados para as
responsabilidades da cidadania democrática em uma sociedade complexa. Nós
precisamos cuidar para que nossos professores sejam bem educados, não apenas
bem treinados. Nós precisamos ter certeza de que as escolas tenham a autoridade
de manter tanto os padrões de aprendizado quando os padrões de comportamento.”
Currículos fortes em escolas,
oportunidades reais de aprendizado, estudantes com senso crítico desenvolvido e
com boas noções de cidadania, professores bem educados, e a autoridade nas
escolas. Que sonho, não?
quarta-feira, 9 de maio de 2012
O Livro da Minha Vida (6) - Dom Quixote
Por Valdemir Guzzo*
"O Livro da Minha Vida" é um projeto do Blog Página Virada. O blog publicará regularmente um post sobre uma obra que marcou a vida de alguém. Para participar, mande seu texto para paginaviradablog@yahoo.com.br
Escolher um livro, um único, é como
escolher uma música, um filme, uma viagem... Penso que o momento também é
importante: ele faz a leitura, a música ou um passeio interessantes. Mas um
livro? Vou voltar aos anos sessenta e trazer um pouco da minha juventude e
adolescência. Tínhamos muito a fazer, como hoje ainda fazemos muito todos os
dias. Apenas as situações eram diferentes e toda a novidade nos atraía. Lembro
do cinema Dom Vital, lá na praça XV com algumas sessões intermináveis de bons
filmes, quase sempre. As pessoas eram atraídas pelo novo, pelo inusitado. Uma
tarde, em meio a semana, um avião ‘enorme’ desceu na pista do aeroclube da
cidade. Dá para pensar o que aconteceu: uma verdadeira romaria para ver o avião
que, em pane, encontrou a pista de Veranópolis. Hoje sei que aquele avião era
da antiga Sadia e trazia perto de 30 passageiros mais tripulantes e que
atraíram a atenção de boa parte da cidade, inclusive a minha. As coisas eram
assim e por isso passávamos horas com os livros, que também nos permitiam
viagens imaginárias.
Mas
um livro, e este provavelmente tenha desencadeado meu gosto pela leitura, foi
Dom Quixote. Na escola líamos muito. Líamos em parte por cumprir normas e em
parte pelo gosto que essa rigidez pelo livro acabou nos proporcionando. O
engenhoso Fidalgo de La Mancha me fez rir muito com as peripécias do Cavaleiro
e de seu fiel escudeiro Sancho. Moinhos e demônios não me assustaram.
Hoje,
se adolescente, talvez eu desse preferência aos muitos autores regionais. Temos
editoras em Caxias do Sul que têm trabalhado muito escritores emergentes e bons
escritores. Só nos falta ler seus livros e valorizar seus escritos.
*Valdemir Guzzo é professor
"O Livro da Minha Vida" é um projeto do Blog Página Virada. O blog publicará regularmente um post sobre uma obra que marcou a vida de alguém. Para participar, mande seu texto para paginaviradablog@yahoo.com.br
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Consultório-biblioteca
Por Guilherme
O blog Palavra Escrita destacou uma matéria, publicada no jornal Zero Hora do último domingo, que trata de um consultório odontológico diferente. Na cidade de Campos Borges, no Rio Grande do Sul, um cirurgião-dentista mantém uma admirável biblioteca de mais de mil exemplares em seu consultório. Os livros podem ser consultados pelos pacientes enquanto esperam pela consulta e podem também ser retirados por eles, ou por qualquer outra pessoa da comunidade.
A ideia é excelente e merece nosso aplauso. Tomara que outros profissionais da área da saúde (e de outras áreas) tenham a mesma preocupação em tornar a leitura uma atividade cotidiana e de fácil acesso.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
A moderna fábula de Fausto
Por
Guilherme
Na
história de Goethe, Dr. Fausto recebe a visita do demônio Mefistófeles, que promete
ao velho homem o rejuvenescimento, o poder, a sabedoria e a possibilidade de
amar uma jovem senhora. Em troca, Dr. Fausto cede sua alma ao demônio, abrindo
o caminho para a desgraça.
Existem várias versões da história de Fausto
no folclore e na literatura e, recentemente, um pequeno editorial da revista
inglesa New Scientist sugere que a
fábula também tem aplicações na vida moderna. Com o título de “Estamos vendendo nossas almas para as redes
sociais?”, o texto discute o fato de estarmos fornecendo cada vez mais
informações pessoais e nos expondo publicamente em troca de supostos benefícios
promovidos pelas redes sociais, como possibilidades de emprego e encontro com
amigos, no que parece um contrato informal feito à moda de Fausto e
Mefistófeles.
O tema é polêmico, e o pequeno texto da New Scientist obviamente não o esgota. A
afirmação que inicia o editorial, por si só, pode gerar grandes discussões. Afinal,
é justo dizer que “se você não está pagando pelo produto, você é o produto?”
Para
ler o texto, clique aqui.
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