Na
última segunda-feira, dia 28, a ativista ecológica indiana Vandana Shiva esteve
em Porto Alegre para palestrar no Programa Fronteiras do Pensamento.
Não conhecia as ideias de Shiva antes de
acompanhar a sua conferência, mas algumas de suas posições são bem
interessantes. No início, ela argumentou que a dualidade homem X natureza ainda
continua presente, e a nossa insistência em negar que somos parte da natureza é
uma das causas da negligência humana com o meio ambiente.
Shiva também deixou muito claro que se opõe
ao grande poder que as multinacionais exercem sobre os governos atualmente.
Hoje somos parcialmente governados por políticos, pois boa parte das políticas
públicas é definida por empresas com forte lobby sobre os governos. O exemplo
dado por Shiva foi a atuação da Monsanto na Índia (a empresa atua em vários
países, inclusive o Brasil), que patenteou diversas sementes e variedades de
grãos, aumentou seu poder sobre a produção agrícola naquele país e reduziu o
espaço dos produtores locais que, com poucas opções, acabaram virando reféns de
mercado da Monsanto.
Quando ouvi a argumentação de Shiva
lembrei imediatamente das grandes corporações educacionais e das indústrias de
planos de saúde aqui no Brasil. Hoje, por exemplo, é impossível algum Ministro
da Educação acenar com a hipótese de redução ou limitação no número de alunos
nas salas do Ensino Superior. A explicação é simples: algumas faculdades
acabaram se tornando grupos gigantescos com poderio financeiro enorme, e cujo
alcance político é igualmente assombroso. Se algum Ministro se pronunciar sobre
algo que possa diminuir os ganhos absurdos dessas instituições, como a redução
do número de alunos por turma (que passam de 120, em algumas faculdades), ele
estará fora do governo no dia seguinte. Somos governados por corporações, não
por governos, e sucumbimos aos seus interesses sem perceber isso.
Outro detalhe importante da apresentação
de Shiva foi a sua crítica ao consumismo. Vivemos em um mundo cheio de dinheiro
(mal distribuído, diga-se de passagem), mas que também está cheio de pessoas
infelizes. Nos Estados Unidos, segundo Shiva, é grande o número de pessoas que
recorrem a antidepressivos para conseguir tocar a vida diária. Vale dizer que
esse é o país mais poderoso do planeta, e um dos mais ricos também. A conclusão
parece óbvia, mas é importante discutir como podemos viver de maneira menos
atrelada aos ganhos financeiros e mais ligada a outros valores, como o afeto, a
empatia, a civilidade e a cultura.
Consumo, aliás, é o antigo termo dado à
tuberculose. Do mesmo modo que a tuberculose consumiu a vida de inúmeras
pessoas em séculos passados, nossos hábitos desenfreados de consumo podem acabar
fazendo o mesmo, de outras maneiras.
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