As
passagens abaixo estão em Por Que As
Pessoas Acreditam Em Coisas Estranhas? – pseudociência, superstição e outras
confusões de nossos tempos (JSN Editora, 2011), do americano Michael
Shermer. Shermer estará em Porto Alegre no dia 27 de agosto para palestrar no
programa Fronteiras do Pensamento. Seu livro é uma preciosidade em uma época na
qual pretensos possuidores de poderes mediúnicos, conspiracionistas e outros
charlatões prosperam às custas de nossa propensão em acreditar em qualquer
coisa.
“A ciência se funda na convicção de que a
experiência, o esforço e a razão são válidos; a magia, na crença de que a
esperança não pode falhar, nem o desejo enganar.”
Citação
de Bronislaw Malinowsky, p. 39
“Hume fazia distinção entre um ‘ceticismo
antecedente’, tal como o método de René Descartes de duvidar de tudo que não
tenha um critério ‘antecedente’ infalível de crença, e o ‘ceticismo consequente’,
o método que Hume empregou, que reconhece as ‘consequências’ dos nossos
sentidos falíveis, mas corrige-os por meio da razão: ‘um homem sábio faz com
que sua crença seja proporcional à evidência’. Não saberíamos encontrar
palavras melhores para o lema cético.”
p.
74
“Quem tem que provar o que para quem? A
pessoa que faz a afirmação extraordinária é que precisar arcar com o ônus de
provar aos especialistas e à comunidade em geral que a sua crença tem maior
validade do que a aceita por quase todos os demais. Tem-se que fazer
intermediações para a nova opinião ser ouvida. Depois, tem-se que arregimentar
especialistas na defesa dela para convencer a maioria a apoiá-la e a abandonar
a opinião antes apoiada. Por fim, quando estiver em maioria, o ônus da prova
passará a quem estiver do outro lado e quiser contestar a afirmação vigente a
partir das suas próprias não usuais.”
p.
79
“Nós céticos temos a tendência de muito
humana de nos comprazer em derrubar o que já acreditamos ser uma bobagem. É
divertido identificar o raciocínio falacioso de outras pessoas, mas essa não é
bem a questão. Como pensadores céticos e críticos, devemos ir além das nossas
reações emocionais, pois, ao compreender como foi que os outros erraram e como
a ciência está sujeita ao controle social e a influências culturais, podemos
melhorar a nossa compreensão de como o mundo funciona. Por isso é tão importante
compreender a história tanto da ciência como da pseudociência. Se olharmos para
o quadro geral, vendo como esses movimentos evoluem, e entendermos como o seu
pensamento deu errado, não cometeremos os mesmos erros. O filósofo holandês do
século 17 Baruch Spinoza colocou isso de maneira perfeita: ‘Tenho me esforçado
sempre para não ridicularizar, não deplorar, não desprezar as ações humanas,
mas tentar compreendê-las.’”
p.
89
“...Infelizmente, o corolário é que os
humanos com excessiva frequência se dispõem a agarrar-se a promessas não
realistas de uma vida melhor ou a acreditar que uma vida melhor só pode ser
conseguida prendendo-se à intolerância e à ignorância, depreciando a vida dos
outros. E, às vezes, ao ficarmos focados numa vida futura, perdemos o que temos
nesta vida. Trata-se de uma fonte diferente de esperança, mas é esperança de
qualquer modo: esperança de que a inteligência humana, combinada com compaixão,
possa resolver nossa miríade de problemas e melhorar a qualidade de cada vida;
esperança de que o progresso histórico continue a sua marcha em direção a
maiores liberdades e aceitação para todos os humanos; e esperança de que a
razão e a ciência, assim como o amor e a empatia, possam ajudar a compreender o
nosso universo, nosso mundo e a nós mesmos.”
p.
310
Guilherme,
ResponderExcluirCasualmente encontrei sua página na Internet e li seu comentário, tendo como referência o livro de Machael Shermer - Por Que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas - que também li.
As pessoas acreditam em coisas estranhas por muitos motivos. Primeiro, elas não acham que o objeto de sua crença seja estranho. Segundo, porque elas se sentem compelidas a acreditar em alguma coisa, já que o estado de dúvida ou de incerteza é psicologicamente desconfortável. Terceiro, a cultura onde a pessoa vive tende a fazê-la acreditar nos valores dessa mesma cultura, por mais estranhos que eles possam parecer a outras culturas. Assim, os usos, costumes, tradições, educação tendem a perpetuar essas crenças. Ademais, as pessoas nunca imaginam que sua religião, por exemplo, possa ser apenas uma superstição mais elaborada. Dizemos mais elaborada porque elas incorporaram seus livros ditos sagrados, sua doutrina, sua teologia, seus dogmas, sua literatura, etc. Semelhantemente, pouquíssimas pessoas atingem a compreensão de que esses livros sagrados - de todos os credos - são apenas um repositório de fábulas, mitologias, lendas e fragmentos de culturas antigas. Quarto, como as pessoas não admitem que o Universo seja eterno, elas inventaram um Criador para justificar sua existência. E se elas não sabem que o Nada não existe, segundo a teoria quântica, sua ideia da criação fica mais reforçada.
Abraços, Assis Utsch (autor de O Garoto Que Queria Ser Deus)
Oi Assis,
ResponderExcluirAgradeço pelo comentário, e não tenho nenhum reparo ao que você escreveu.
Lendo a sua opinião, lembrei imediatamente do que Richard Dawkins escreveu em "Deus, um Delírio": todos somos ateus no que diz respeito à maioria dos deuses. Eu sou em relação a todos eles.
Um abraço
Guilherme