“Fidelidade
à verdade, antes de mais nada! É nisso que a fidelidade se distingue da fé e, a fortiori, do fanatismo. Ser fiel, para
o pensamento, não é recusar-se a mudar de ideia (dogmatismo), nem submeter suas
ideias a outra coisa que não a elas mesmas (fé), nem considerá-las como
absolutos (fanatismo); é recusar-se a mudar de ideia sem boas e fortes razões e
– já que não se pode examinar sempre – é dar por verdadeiro, até novo exame, o
que uma vez foi clara e solidamente julgado. Nem dogmatismo, pois, nem inconstância.
Tem-se o direito de mudar de ideia, mas apenas quando é um dever. Fidelidade à
verdade, antes de mais nada, depois à lembrança da verdade (à verdade conservada): este é o pensamento fiel,
isto é, o pensamento.”
André
Comte-Sponville, sobre a fidelidade, em O
Pequeno Tratado das Grandes Virtudes (Martins Fontes, 2007)
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