Para Que Serve Tudo Isso? A
filosofia e o sentido da vida, de Platão a Monty Phyton (Jorge Zahar, 2008), de Julian
Baggini, é uma obra que discute os possíveis significados de nossa existência
com um raciocínio racionalista e humanista, típico das obras de Baggini:
“racionalista no sentido de que sua mola mestra é a razão – e não a intuição, a
revelação, o argumento de autoridade ou a superstição. É humanista no sentido
de que afirma que a vida humana contém a fonte e a medida de seu próprio valor”.
O
livro já foi tema de um post aqui no blog, e volto a ele para transcrever
algumas de suas passagens. Para quem não conhece a obra, mas se interessa pelo
tema, é uma leitura recomendada.
“Para
reconhecer a importância de nossa forma de encarar as coisas, contudo, é
necessário aceitar que somos capazes de reduzir o nosso nível de
descontentamento. Sartre diz que nós temos medo desse tipo de liberdade e que
tentamos negar que ela de fato exista. Não gostamos de pensar que tudo depende
de nós, pois não teríamos a quem culpar quando as coisas dão errado. Assim,
preferimos pensar, de má-fé, que a culpa não é nossa, mas das circunstâncias.
Outro
motivo para acharmos que só estaremos felizes quando todos os fatores externos
estiverem em seus devidos lugares é a dificuldade que temos em aceitar as
imperfeições da vida. Mais uma vez, Sartre tem algo a dizer sobre o assunto.
Ele expõe a necessidade de aceitarmos a ‘facticidade’ da existência: o mundo
existe de uma certa maneira, quer gostemos ou não.”
“...Então,
em vez de aceitar a facticidade do mundo – ou seja, aceitar essas imperfeições
–, nós imaginamos que vamos alcançar nossa vida ideal em algum momento futuro.
Contudo,
para sermos honestos e coerentes, precisamos evitar esses erros. Se acharmos
que vamos ter uma vida sem dificuldades e preocupações em algum ponto no
futuro, estamos errados. Precisamos reconhecer a inconstância da sorte e a
impermanência das coisas. Mas será que temos coragem e honestidade suficientes
para aceitar a vida como ela é e tentar tirar o máximo disso? Ou será que temos
medo de que isso seja uma decepção?”
“...
Contudo, Horácio parece compreender melhor do que o filósofo de botequim e do
que o hedonista o motivo pelo qual devemos aproveitar o dia. Precisamos
aproveitar esse dia ao máximo porque a vida é curta e esse dia é um dos poucos
que temos, não porque hoje é o único dia que temos ou porque deveríamos
esquecer do amanhã. Devemos restringir as nossas esperanças a algo que possamos
realizar em nossas vidas, sempre pensando que nada está garantido em relação à
sua duração. Sendo assim, o ditado ‘viva cada dia como se fosse o último’
deveria ser readaptado e tornar-se ‘viva cada dia como se pudesse ser o último,
mas ele poderia muito bem também ser só mais um dia da sua curta vida’. Também
temos que lembrar que a maior probabilidade é de que o amanhã venha, sim. A
urgência de aproveitarmos o dia de hoje ao máximo não tem como premissa o fato
de que é improvável que o amanhã venha, mas a possibilidade de que o amanhã
possa não vir e a certeza de que pelo menos um amanhã não virá.”
“A
história de Abraão é uma parábola geral sobre a fé. Ela mostra que a fé não é
um meio através do qual transmitimos a responsabilidade da busca de sentido da
vida para Deus. Se você delega responsabilidades, também é responsável pelo que
a pessoa a quem você as delegou faz. Se a sua escolha for desistir da busca pelo
sentido da vida acreditando que Deus resolverá o problema, você também é
responsável pelas consequências disso.
Isso
justifica ainda mais o argumento de que ter fé na existência de um plano
transcendental não dá sentido à vida. Primeiro, como vimos, colocar nossa fé em
Deus é desistir da busca pelo sentido da vida e simplesmente confiar na
divindade. Essa confiança na fé não é sustentada pela razão, mas por meios não
confiáveis – ou seja, convicções pessoais e o testemunho dos outros. A fé não
nos exime da responsabilidade pela busca de sentido da vida ou pelas ações que
decorrem do sentido que escolhemos.
Isso
coloca as pessoas de fé em uma situação um tanto delicada, pois a ideia que têm
de que Deus cuidará delas pode levá-las a desistir da busca pelo sentido de
suas vidas. Contudo, essa pode ser a única vida que temos. Se há uma vida após
a morte, o ateu, pelo menos, pode ter uma segunda chance – presumindo que Deus
não seja o ser vil e vingativo como é frequentemente retratado, punindo as
pessoas por simplesmente não acreditarem nele. Quem acredita na religião e
arrisca tudo na existência de uma vida após a morte, porém, não terá uma
segunda chance caso esteja errado.”
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